Abril página a página
Pioneiro da Festa do Avante!, o espaço do livro conserva vitalidade e actualidade revolucionária. Democratizar a leitura expande a consciência popular, contrariando o condicionamento e manipulação das massas. A prová-lo, os inúmeros visitantes à procura do livro há muito almejado, daquela última reedição ou das novidades editoriais. Nestes últimos casos, não faltaram motivos de interesse, de resto convenientemente destacados. E não foram poucos os que se deixaram seduzir, saindo munidos dos bons camaradas que são os livros, não raramente guardados em sacolas a condizer, que de novo se vendiam na Festa do Livro.
Sublinhe-se, ainda, as singelas homenagens a Urbano Tavares Rodrigues, escritor e militante comunista, cujo centenário se assinala em Dezembro, e a José Dias Coelho, cujos 100 anos do nascimento se encontravam igualmente recordados.
Nas bancas rodeadas de escaparates, também emergiam chamadas de atenção para obras dadas à estampa recentemente. Entre outras, Salário, Preço e Lucro – Uma Questão actual, alvo de sessão se apresentação, domingo, com Agostinho Lopes e Graciete Cruz; Dossier TAP, apresentada sábado por Manuel Gouveia, Bruno Dias e Ricardo Paes Mamede; Ontologias da “Práxis” e Idealismo, cuja apresentaçãoesteve a cargo de Raoul Marian; Os Pescadores, de Raúl Brandão, cujo centenário da publicação foi motivo para nova edição, com ilustrações de Marta Nunes e prefácio de João Delgado. Uma e outro estiveram, sábado à noite, na apresentação da obra, tendo o presidente da Mútua dos Pescadores dedicado o texto de apresentação da obra a Frederico Pereira, militante comunista e dirigente sindical dos pescadores, falecido dia 31, quinta-feira.
No espaço do auditório, anexo à tenda-livraria e junto ao frondoso pinheiro que serviu de abrigo às quatro sessões de autógrafos, com mais de duas dezenas de autores, decorreram outras sessões de apresentação. Invariavelmente cheias, incluindo as que já referimos. A começar pela protagonizada, sábado de manhã, por Gisela Valente e Sandra Costa, em torno de Põe o meu Boné, livro que desmistifica a deficiência, a forma e oportunidade de ajudar os seus portadores, referiram.
Seguiu-se, no mesmo dia, uma sessão em torno da obra de João Pedro Mésseder (em que participou Rita Taborda Duarte)que o autoradmitiu, em conversa com o Avante!, ser especial – considerando o local, o Partido que a promove e o público presente.Iniciativa semelhante foi concretizada à volta da obra de Sandro William Junqueira, com Ana Margarida de Carvalho, domingo à tarde.
Também em conversa com o Avante!, Carina Infante do Carmo, que a meio da tarde de sábado apresentou Um Escritor Sem Tempo – Cartas Familiares de Soeiro Pereira Gomes, salientou que a intemporalidade da obra literária daquele é atestada pela continuidade dos flagelos e da exploração que denunciou, com inegável qualidade literária, frisou.
Mas tendo a Festa deste ano como tema central o 25 de Abril, a Revolução Portuguesa foi particularmente salientada na sessão sobre o livro 25 de Abril, uma Revolução em Perspectiva, na qual Albano Nunes realçou que a colectânea de textos seleccionados do acervo de O Militante são um contributo para preservar, com verdade, a memória de Abril e dos seus valores, e Manuel Loff acentuou a originalidade, contexto histórico, natureza, defensores, detractores e herdeiros do processo transformador; na sessão de domingo de manhã, com Vítor Dias e Mário Simões Teles, sobre a obra A Caminho do 25 de Abril. 3.º Congresso da Oposição Democrática. 50 anos – Aveiro – Abril 1973, editada pela URAP; na apresentação dos livros A Festa, de Susana Matos, e Dias Felizes, de Egídio Santos, com os autores a destacarem o prazer e responsabilidade de retratarem uma construção colectiva como a Festa do Avante!, Manuel Rodrigues a lembrar que uma e outra obra ajudam a viajar no tempo, espaço, personagens, identidade e características da Festa, Alexandre Araújo a saudar o contributo para combater o seu silenciamento e deturpação, e Manuel Pires da Rocha a encontrar semelhanças entre a linguagem da fotografia e da ilustração, já que sendo única em cada um, a Festa e os seus protagonistas somos nós e com traços semelhantes.
A festejar Abril, página a página, decorreu também a apresentação de Textos de Luta de Amílcar Cabral, por Carlos Lopes Pereira e José Augusto Esteves, para quem o livro é um documento imprescindível para conhecer Amílcar Cabral e o seu pensamento no ano do seu centenário, perspectivar a luta dos povos contra o imperialismo e o neo-colonialismo apreendendo as lições das lutas anticoloniais, olhar passado, presente e futuro de ângulo diverso ao projectado pelas classes dominantes.