Abril vivo na rua mas diminuído nas notícias

Muitos milhares dos que participaram nas comemorações populares do 25 de Abril terão chegado a casa e assistido aos principais noticiários televisivos com a justíssima expectativa de que a notícia do dia fosse aquele acontecimento extraordinário de que fizeram parte. Extraordinário pela dimensão que assumiu, quase cinco décadas após a data que assinala a Revolução Portuguesa, o que a confirma simultaneamente como acontecimento maior da nossa história, mas também como projecto cheio de presente e de futuro. As massas na rua foram, há 49 anos, e são hoje, expressão da vitalidade dos valores de Abril.

Mas a consideração dos decisores das máquinas mediáticas foi em sentido diametralmente diverso. Ficámos a saber que, de acordo com os critérios editoriais dominantes, a notícia do dia 25 de Abril foi a grosseria espalhafatosa com que os inimigos de Abril tentaram ofuscar as comemorações populares e quem nelas interveio, mas também fazer disso o centro das cerimónias institucionais. Já durante a manhã, desde os preparativos para as duas sessões solenes que decorreram na Assembleia da República ao seu decorrer, as atenções mediáticas foram desviadas para os saudosistas do 24 de Abril – e, à boleia da presença do presidente brasileiro, Lula da Silva, para os partidários dos saudosistas da ditadura brasileira.

A forma como, particularmente na CNN, foram conduzidas as emissões é disto exemplificativa: dos directos empolgados que, na prática, não fizeram mais que amplificar a pífia manifestação dos raivosos com Abril ao entusiasmo com que eram relatados, em estilo futebolístico, com direito a repetições e tudo, os acontecimentos laterais à intervenção de Lula (enquanto era praticamente ignorado aquilo que efectivamente o presidente brasileiro dizia). Nem o vídeo-árbitro faltou: enquanto as intervenções dos deputados já começavam no hemiciclo, no ecrã éramos brindados com comentadores que discutiam a falta de educação de uns quantos, o ajuste (ou falta dele) com que o presidente da Assembleia da República lidou com o facto, e por aí fora.

Até houve espaço para uma comentadora elogiar a postura raivosa da dúzia de deputados que tentaram centrar em si as atenções, como sendo muito adequada ao 25 de Abril. Se lembrarmos que a dita, jornalista de profissão, foi candidata do CDS numa das últimas eleições, entende-se melhor muito do que se vai passando no espaço mediático.

Mas voltemos às comemorações populares de Abril, fazendo contas a quantos minutos demorou cada estação a mostrá-las nos seus noticiários. Na RTP surgiu após 14 minutos de emissão, numa peça que teve cerca de 3 minutos (num jornal com 50 minutos de tempo útil); na SIC as primeira imagens apareceram após 20 minutos, com cerca de 2 minutos (em 1h40 de jornal); na TVI foi após quase 17 minutos, com perto de 3 minutos (em 1h30 de noticiário). Dirão que a ponderação do alinhamento de um noticiário é matéria complexa que não se resume à simples aritmética de tempo. Mas o que fica indesmentível é que, nos critérios destes decisores mediáticos, Abril é subalterno.

 



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