Não ter medo de tomar Partido
«Não devemos ter medo de ser nós próprios até porque ser comunista também faz parte do carácter de uma pessoa», afirma Delmira. Já Rogério explica que os estigmas que, por vezes, colocam sobre os militantes do Partido não têm razão de ser, especialmente «quando nós próprios somos trabalhadores». Os ataques ao Partido, as deturpações propositadas às suas posições, a ofensiva ideológica que emana do grande capital e, sobretudo, a pressão que em alguns espaços se exerce sobre os comunistas foram as principais temáticas abordadas pelos recém militantes com quem o Avante! contactou esta semana. Ambos ultrapassaram os seus receios e decidiram tomar Partido.
Delmira tem 34 anos, é natural do Bombarral e trabalha numa empresa de viveiros de plantas. Com os seus 17 anos visitou pela primeira vez a Festa do Avante!, experiência que por se ter saldado tão positiva, se repetiu regularmente ao longo da sua vida. Aliás, foi na Festa que, pela primeira vez, com a realização de alguns turnos, ajudou os comunistas. A sua participação não se resumiu à Festa: chegou mesmo a ser candidata da CDU em eleições autárquicas por duas ocasiões.
Para Delmira, a proximidade que manteve com a organização ao longo da sua vida «foi-se simplesmente criando». Por um lado, sempre manteve amizades com militantes que a convidavam para ajudar e participar em iniciativas e, por outro, refere que sempre teve vontade de participar activamente na sociedade, o que chegou a fazer através de colectividades ou associações.
Em Outubro do ano passado, antes da Assembleia Concelhia do Bombarral, recebeu o convite para se inscrever e assim o fez. Delmira responde facilmente à pergunta do que mudou entre os seus 17 e 34 anos: «foi o nível de informação que fui adquirindo». «Existe muita desinformação acerca do Partido e das suas posições. Em grande parte, porque são propositadamente deformadas. Foi ao perceber, através desta proximidade, como é que o Partido realmente é e funciona que decidi inscrever-me», afirma. «Às vezes podemos estar muito próximos, mas temos sempre algum receio da crítica. Alguns até não se chegam a inscrever por causa disso, mas não devemos ter esse receio», acrescenta.
Rogério, 43 anos, natural de Miranda do Corvo e trabalhador na indústria do cimento conta algo semelhante. Refere que algumas pessoas olham de soslaio para o Partido e para os seus militantes e que alguns até correm o risco de serem prejudicados nos locais de trabalho, mas que «é preciso ultrapassar isso e vir para o Partido para contribuir com opiniões e ideias», até porque esse contributo «é muito necessário».
Sem contabilizar o que sempre ouviu na comunicação social, foi com colegas de trabalho e militantes da sua terra que teve os primeiros contactos com o Partido. Rapidamente percebeu que o PCP era composto por trabalhadores. «Mesmo não tendo ainda consciência de classe» e «sem perceber muito de política», sendo ele próprio um trabalhador, olhou para o único partido cujos ideais e propostas lhe faziam sentido.
A necessidade de cultivar este interesse e de ouvir e conversar sobre política continuou a crescer. A partir do contacto com amigos militantes e de várias participações nas jornadas de construção da Festa, conheceu outros elementos como o passado histórico do PCP, a sua coerência e o seu contributo essencial na sociedade. Rogério afirma que foi assim que «despertou para a vida» e percebeu que «não tinha mais nada a perder ou a esconder». Inscreveu-se há cerca de ano e meio.