Quando já não dá para ser pela metade
Susana é arquitecta de formação e trabalha como técnica superior numa câmara municipal do distrito de Bragança. João é artista multimédia e produtor audiovisual em Évora, de onde é natural. Provavelmente não se conhecem, mas têm muito em comum: aproxima-os a idade, desde logo – ele tem 52 anos, ela faz amanhã 51 –, e também o facto de terem aderido formalmente ao PCP há poucos meses, depois de vários anos a acompanhar a sua actividade, a participar em iniciativas e campanhas eleitorais, a integrar listas da CDU na condição de independentes (ele chegou mesmo a ser eleito numa Junta de Freguesia do concelho de Évora).
Natural de Vila Flor, Susana nasceu dois anos antes do 25 de Abril. A Revolução apanhou-a no infantário do Complexo Agro-industrial do Cachão, onde os pais trabalhavam. Toda a ebulição revolucionária que ali se vivia teve impacto na criança, que começou aos três anos a dizer, com uma boa dose de inocência infantil e para desespero de alguns familiares, que era comunista. Certo é que sempre pensou e agiu «à esquerda», primeiro na Faculdade e depois, já de volta à sua terra, como candidata da CDU, condição que repetiu em sucessivos actos eleitorais.
João conhece o PCP desde pequeno, ou não fosse natural de Évora, onde os comunistas estiveram na frente da luta pela Reforma Agrária e pela afirmação do poder local democrático. Ainda novo, aderiu à Juventude Comunista Portuguesa, mas acabou por não se inscrever no Partido: os estudos, primeiro, e a vida profissional, depois (parte dela passada em Lisboa), dificultaram a transição. De qualquer modo, o regresso à sua terra levou-o de novo ao contacto próximo com o PCP e a CDU.
Mas não é só a coincidência de datas, e de certo modo de percursos, que os aproxima. Tanto Susana como João tomaram essa decisão ao observarem a realidade que os rodeia: o crescimento das forças mais reaccionárias, as constantes e desbragadas campanhas anticomunistas, o violento ataque aos direitos e condições de vida da maioria da população, em Portugal e um pouco por todo o mundo, levou-os a uma mesma decisão. «Não dava para continuar a ser só um voto, tinha de ser uma voz», explicou Susana; «agora é o momento», afirmou João.
Plenamente integrados na estrutura do Partido, ambos sentem ter muito a aprender, mas não menos a contribuir. Susana é dirigente sindical e foi eleita, na recente assembleia, para a Direcção da Organização Regional de Bragança do PCP. Com a adesão ao Partido vieram as responsabilidades e tarefas concretas, mas também as leituras, o estudo, o confronto de opiniões, que, confia, ser-lhe-ão úteis para o debate político diário. João, por seu lado, participa em tudo o que tenha a ver com a área da Cultura e acredita que pode ajudar na vertente da comunicação do Partido, nomeadamente ao nível multimédia: «tenho a formação, os conhecimentos e os meios.»
Ambos estão convictos de terem tomado a melhor decisão e aconselham outros a fazê-lo: «se és trabalhador, só podes ser do PCP. Nem sei como é possível ser-se outra coisa», remata Susana.