Severiano Falcão evocado em Loures no centenário do seu nascimento

Severiano Falcão «era um homem de uma enorme firmeza e inabaláveis convicções na justeza da causa da emancipação da classe operária e dos trabalhadores, pela liberdade e democracia», lembrou Jerónimo de Sousa na evocação a propósito do centenário do nascimento do militante comunista, destacado antifascista e autarca empenhado.

Era um homem de trabalho e generoso, de uma disponibilidade imensa

A sessão decorreu ao fim da tarde da passada quarta-feira, 1, no salão da Sociedade Recreativa e Musical 1º de Agosto Santa Iriense, em Santa Iria de Azoia, concelho de Loures, e foi encerrada com a intervenção do ex-secretário-geral do PCP e membro do Comité Central.

Perante uma sala repleta de camaradas e amigos que não esquecem o exemplo do militante comunista, destacado antifascista e autarca empenhado que marcou gerações, e na qual estiveram também representantes de organizações e associações, bem como familiares do evocado, Jerónimo de Sousa recordou o percurso de vida que moldou a conduta e opção de classe de Severiano Falcão a vida inteira.

Assim, destacou a origem operária dos pais e do próprio, nascido em Alhandra, onde foi desportista e músico amador, «participando em actividades animadas por Soeiro Pereira Gomes». Militante do PCP já em 1942, permaneceu nas Juventudes Comunistas até 1944, sendo, então, chamado a substituir quadros que tinham sido presos nas greves de Maio de 1944, designadamente em actividades sindicais, apesar de ser já vetado pela PIDE.

Em 1947, Severiano Falcão integra o Comité Regional do Ribatejo e em 1948 apoia a candidatura o General Norton de Matos para a Presidência da República. No final do ano seguinte, passa à clandestinidade, na sequência da homenagem e despedida a Soeiro Pereira Gomes, em cujo funeral discursou, aduziu Jerónimo de Sousa, que, prosseguindo, recordou a prisão de Severiano Falcão, em 1950, com a mulher, Beatriz, e um filho de três anos, sendo condenado e enviado para Peniche, onde esteve até 1956.

É novamente preso em 1958, quando trabalhava há cerca de dois anos na construção civil e após a campanha de Humberto Delgado, tendo somente sido devolvido à liberdade em 1966.

De volta a Alhandra, reinicia o trabalho na construção Civil, desta feita como medidor e orçamentista, profissão para a qual estudou na prisão. Já depois do 25 de Abril e de ter sido eleito para o Comité Central do PCP, que integrou de 1976 a 1992, foi deputado na Assembleia da República, até 1979, quando foi eleito presidente da Câmara Municipal de Loures.

Na autarquia, que dirigiu até 1990, os seus mandatos foram marcados por profundas transformações na vida das populações, pela participação destas e do movimento associativo e popular na requalificação e desenvolvimento do concelho, pela consolidação de conquistas e realizações da Revolução de Abril, entre as quais o poder local democrático, que se exercia de forma efectiva e descentralizada, de progresso nas condições laborais, sobretudo dos trabalhadores das autarquias, aludiu Jerónimo de Sousa, para quem Severiano Falcão era, além do mais, «um homem de trabalho e generoso, de uma disponibilidade imensa para servir os trabalhadores e as populações».

Figura incontornável

Numa sessão em que não faltou um apontamento cultural, da responsabilidade do coro da Sociedade 1.º de Agosto, bem como uma intervenção de agradecimento e reafirmação do legado de obra e direitos dos trabalhadores das autarquias do concelho de Loures, por parte de Elsa Arruda, em representação da célula dos trabalhadores comunistas na CM e SMAS de Loures, intervieram, além de Jerónimo de Sousa, Maria Amélia Figueiredo. Esta relatou o intenso e audaz trabalho com Severiano Falcão quando foi presidente da Junta de Freguesia de Caneças, o que permitiu mudar significativamente a localidade.

Já Eduardo Batista testemunhou a dinâmica popular iniciada com Abril na autarquia e prosseguida pela APU e a CDU, fruto da estreita e permanente ligação aos trabalhadores, à população e ao movimento associativo. Lembrou, com particular acutilância, que tal sucedeu apesar do boicote concertado e prolongado de todos os partidos à gestão democrática e avançada, incluindo o PS, que pretendia que Severiano Falcão e os vereadores da APU governassem com… o seu programa.

Mário Moreira, por seu lado, destacou a consciência de classe, a firmeza e combatividade, a solidariedade e espírito colectivo, o conhecimento, cultura e perfil de exímio comunicador de Severiano Falcão, características de personalidade que não deixavam ninguém indiferente, ao passo que Carlos Machado salientou o «homem coerente, de fortes convicções, argumentação indestrutível, mas de uma agradável simpatia e respeito, por todos admirado».

Cláudia Martins fez uma intervenção que, confessou, contou com a contribuição de familiares, amigos e camaradas de Severiano Falcão, na qual, além de recordar momentos decisivos e impressivos da sua vida, frisou em particular o papel daquele na história de Alhandra, onde, apesar da passagem dos anos e da morte de muitos dos que conheceram de perto Severiano Falcão, permanecem «as histórias, as vivências». Importantes para os mais novos porque criam um «sentimento de pertença a«pessoas arreigadas a uma terra, que defenderam sempre (…) os ideais do nosso PCP», e, simultaneamente, uma responsabilidade, alegria e orgulho no «exemplo destes nossos camaradas, que criaram bases sólidas do nosso Partido na nossa terra», acrescentou.



Mais artigos de: PCP

11.ª AOR de Setúbal mostra Partido que faz por acontecer

«Podemos ter a voz mais potente, a proposta mais bem feita, a ideia mais bela. Tudo isto é certamente muito útil. Mas precisa de ser concretizado na acção de todos os dias», sintetizou Paulo Raimundo no encerramento da 11.ª Assembleia da Organização Regional de Setúbal (AORS), que decorreu domingo, 5, no Cineteatro São João, em Palmela.

No Entroncamento é possível reparar e construir comboios

As oficinas da CP no Entroncamento acumulam o conhecimento necessário para assegurar a reparação e construção de material circulante ferroviário, essencial para o desenvolvimento do País. Tem faltado o investimento e a vontade política para o concretizar.

Fazer do 8 de Março força para lutar

«Sem igualdade plena da mulher nunca haverá uma sociedade realmente progressista e democrática», afirmou o Secretário-geral do PCP a propósito do Dia Internacional da Mulher. Ontem, contactou com as trabalhadoras da Dan Cake.

Caso Alexandra Reis mostra o erro de insistir na privatização da TAP

«Quantas mais alexandras reis poderão existir?», questiona o PCP, que reagindo ao relatório da Inspeção-Geral das Finanças que declarou nula a indemnização paga pela TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro, considera que o caso revela a marca de água da privatização da companhia.

Deputados do PCP no PE dão voz ao distrito de Beja

«Neste distrito, onde tantas vezes já estivemos e onde tantas outras vamos regressar, reafirmamos o compromisso de sempre de conhecer profundamente a realidade para intervir no interesse do povo e do País», disseram João Pimenta Lopes e Sandra Pereira no final das jornadas de trabalho na região.

Dar respostas aos utentes valorizando o SNS e os seus profissionais

O PCP esteve reunido, na terça-feira, com a Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF-AN). Da delegação do PCP constavam Paulo Raimundo, Jorge Pires, da Comissão Política, e Bernardino Soares, do Comité Central. Após o encontro, o Secretário-geral do Partido revelou que as informações recolhidas na reunião,...

Conferência Episcopal ilude gravidade

Reagindo à conferência de imprensa realizada, ao fim do dia de sexta-feira, 3, pela Conferência Episcopal, a propósito do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja, o PCP considera que «face à dimensão do problema e às expectativas existentes, as conclusões conhecidas da...

O Militante

Está já nas bancas a mais recente edição de O Militante, correspondente aos meses de Março e Abril. Na capa, remete-se para a acção nacional «Mais força aos trabalhadores». Outros artigos em destaque, com chamada de capa, são «50 anos da Revolução de Abril: Uma batalha pelos seus valores e contra a mentira»;...

Quando já não dá para ser pela metade

Susana é arquitecta de formação e trabalha como técnica superior numa câmara municipal do distrito de Bragança. João é artista multimédia e produtor audiovisual em Évora, de onde é natural. Provavelmente não se conhecem, mas têm muito em comum: aproxima-os a idade, desde logo – ele tem 52...

Espalhafatosos ou «rigorosos»: o PCP é para apagar

Março é o mês em que o PCP assinala o seu aniversário, um Partido com uma história, uma intervenção e um projecto de futuro de que se orgulha e que se assinalou no passado fim-de-semana no comício realizado, sábado, na Voz do Operário. Foi, indiscutivelmente, a iniciativa política e partidária mais relevante do dia, um...