Ucrânia – falar claro

O im­pen­sável está a acon­tecer. Pro­paga-se à es­cala de massas a na­tu­ra­li­zação da guerra, do mi­li­ta­rismo e da con­fron­tação in­ter­na­ci­onal. As con­de­co­ra­ções que falam de li­ber­dade são usadas para ali­mentar a guerra e en­deusar po­lí­ticos que calam e per­se­guem os que se lhe opõem. Os co­men­ta­dores exultam quando se anuncia que a guerra só pa­rará quando um dos lados es­tiver der­ro­tado mi­li­tar­mente. Os que de­fendem a in­sana es­ca­lada da guerra são apre­sen­tados como he­róis, os que se lhe opõem e lutam pela paz são alvo da men­tira e da ca­lúnia. O «fa­ro­este» norte-ame­ri­cano está ins­ta­lado.

A si­tu­ação é cada vez mais pe­ri­gosa e pode sair de con­trolo. Mais do que nunca é pre­ciso ter co­ragem, falar claro e tomar po­sição. Não por Putin, como nos acusam, mas pela Paz, que só pode existir se se de­sistir da guerra. Para isso é pre­ciso com­pre­ender que a guerra na Ucrânia teve início há 9 anos após um golpe de Es­tado pro­ta­go­ni­zado por forças fas­cistas, mon­tado com a in­ter­venção di­recta dos EUA, da NATO e da União Eu­ro­peia, que visou a de­po­sição dos go­ver­nantes da Ucrânia que se opu­seram à ope­ração para ar­rastar o país no con­flito emer­gente das po­tên­cias da NATO contra a Fe­de­ração Russa. É pre­ciso lem­brar que esse con­flito co­meçou a de­se­nhar-se ainda antes de 2014, quando a «co­o­pe­ração es­tra­té­gica» da Fe­de­ração Russa com os EUA e a NATO, nas­cida com o fim da URSS, se co­meçou a tra­duzir num cerco ge­o­es­tra­té­gico ma­te­ri­a­li­zado no alar­ga­mento da NATO até à fron­teira com a Rússia; na ten­ta­tiva, por parte dos EUA, de iso­la­mento eco­nó­mico da Rússia na Eu­ropa e numa guerra eco­nó­mica que se de­sen­volveu na re­lação di­recta da par­ti­ci­pação da Rússia na di­nâ­mica dos BRICS e das re­la­ções com a China.

Este é o tempo de afirmar que o poder po­lí­tico que Ze­lensky pro­ta­go­niza agiu e age às or­dens das po­tên­cias do G7, com des­taque para os EUA; que foi esse poder que de­sen­ca­deou uma guerra contra o seu pró­prio povo e levou a cabo mas­sa­cres, per­se­gui­ções, pri­sões e ile­ga­li­za­ções de par­tidos po­lí­ticos. É o tempo de lem­brar que o «apoio» e pre­sença mi­litar «oci­dental» na Ucrânia não é coisa do úl­timo ano, co­la­borou e co­la­bora com grupos nazis, e foi exac­ta­mente esse um dos fac­tores que es­calou o con­flito. Este é o mo­mento de re­cordar que no pas­sado re­cente houve Acordos de Paz que con­ti­nham so­lu­ções para os com­plexos pro­blemas pre­sentes na­quele con­flito. Acordos que, nas pa­la­vras de Merkel e Hol­lande, foram as­si­nados para dar tempo à Ucrânia para ser ar­mada e pre­pa­rada para a guerra aberta com a Rússia.

A ver­dade é que o con­flito na Ucrânia está longe de ser «apenas» um con­flito «re­gi­onal», in­tegra uma es­tra­tégia de con­fron­tação que os EUA e a NATO levam a cabo e que não en­volve só a Fe­de­ração Russa. Vai para lá disso, como é fácil de ver com as ma­no­bras dos EUA vi­sando ali­mentar um con­flito com a China e, agora, bom­bar­dear as ten­ta­tivas deste País para ca­mi­nhos de ne­go­ci­ação para a paz.

Con­dene-se a guerra, toda ela, em vez de se aceitar o jogo da di­co­tomia do ódio. Re­jeite-se a ló­gica que Biden foi levar a Kiev: a lou­cura be­li­cista com con­sequên­cias ini­ma­gi­ná­veis. Todos os que amam ver­da­dei­ra­mente a paz e a de­mo­cracia têm de dizer não à es­piral da guerra. É pre­ciso parar e dizer que não que­remos ser em­pur­rados para uma guerra mun­dial, usando as pa­la­vras do pri­meiro-mi­nistro. Uma guerra con­trária aos in­te­resses dos povos ucra­niano e russo, e de todos os povos do Mundo, que só serve aqueles que estão a lu­crar e muito com a guerra. Aos povos in­te­ressa a paz.





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