- Nº 2569 (2023/02/23)

Ucrânia – falar claro

Opinião

O impensável está a acontecer. Propaga-se à escala de massas a naturalização da guerra, do militarismo e da confrontação internacional. As condecorações que falam de liberdade são usadas para alimentar a guerra e endeusar políticos que calam e perseguem os que se lhe opõem. Os comentadores exultam quando se anuncia que a guerra só parará quando um dos lados estiver derrotado militarmente. Os que defendem a insana escalada da guerra são apresentados como heróis, os que se lhe opõem e lutam pela paz são alvo da mentira e da calúnia. O «faroeste» norte-americano está instalado.

A situação é cada vez mais perigosa e pode sair de controlo. Mais do que nunca é preciso ter coragem, falar claro e tomar posição. Não por Putin, como nos acusam, mas pela Paz, que só pode existir se se desistir da guerra. Para isso é preciso compreender que a guerra na Ucrânia teve início há 9 anos após um golpe de Estado protagonizado por forças fascistas, montado com a intervenção directa dos EUA, da NATO e da União Europeia, que visou a deposição dos governantes da Ucrânia que se opuseram à operação para arrastar o país no conflito emergente das potências da NATO contra a Federação Russa. É preciso lembrar que esse conflito começou a desenhar-se ainda antes de 2014, quando a «cooperação estratégica» da Federação Russa com os EUA e a NATO, nascida com o fim da URSS, se começou a traduzir num cerco geoestratégico materializado no alargamento da NATO até à fronteira com a Rússia; na tentativa, por parte dos EUA, de isolamento económico da Rússia na Europa e numa guerra económica que se desenvolveu na relação directa da participação da Rússia na dinâmica dos BRICS e das relações com a China.

Este é o tempo de afirmar que o poder político que Zelensky protagoniza agiu e age às ordens das potências do G7, com destaque para os EUA; que foi esse poder que desencadeou uma guerra contra o seu próprio povo e levou a cabo massacres, perseguições, prisões e ilegalizações de partidos políticos. É o tempo de lembrar que o «apoio» e presença militar «ocidental» na Ucrânia não é coisa do último ano, colaborou e colabora com grupos nazis, e foi exactamente esse um dos factores que escalou o conflito. Este é o momento de recordar que no passado recente houve Acordos de Paz que continham soluções para os complexos problemas presentes naquele conflito. Acordos que, nas palavras de Merkel e Hollande, foram assinados para dar tempo à Ucrânia para ser armada e preparada para a guerra aberta com a Rússia.

A verdade é que o conflito na Ucrânia está longe de ser «apenas» um conflito «regional», integra uma estratégia de confrontação que os EUA e a NATO levam a cabo e que não envolve só a Federação Russa. Vai para lá disso, como é fácil de ver com as manobras dos EUA visando alimentar um conflito com a China e, agora, bombardear as tentativas deste País para caminhos de negociação para a paz.

Condene-se a guerra, toda ela, em vez de se aceitar o jogo da dicotomia do ódio. Rejeite-se a lógica que Biden foi levar a Kiev: a loucura belicista com consequências inimagináveis. Todos os que amam verdadeiramente a paz e a democracia têm de dizer não à espiral da guerra. É preciso parar e dizer que não queremos ser empurrados para uma guerra mundial, usando as palavras do primeiro-ministro. Uma guerra contrária aos interesses dos povos ucraniano e russo, e de todos os povos do Mundo, que só serve aqueles que estão a lucrar e muito com a guerra. Aos povos interessa a paz.