A pulga, o elefante e o empreendedorismo
Diz, com acerto o ditado, para denunciar quem querendo fugir à verdade ou fingir que não dá conta do que tem à frente do nariz, que «o pior dos cegos é aquele que não quer ver». Em boa medida, o que agora se disse pode ser aplicado, com inteira propriedade, a PS e BE e à Comissão Parlamentar de Inquérito agora constituída.
A não pouco inocente obstrução a que a avaliação ao percurso da TAP envolva mais do que episódios recentes e abranja todos os elementos que envolvem a estratégia com vista à privatização da empresa tem que se lhe diga. Desde logo pelo estafado argumento que o alargamento do âmbito da Comissão desfoca o que se quer apurar. Ou seja, levar a que se foquem atenções em actos e decisões que conduziram a uma inaceitável indemnização de 500 mil euros atribuídos à ex-secretária de Estado, Alexandra Reis, aquando da sua saída da administração, deixando por escrutinar episódios associados às tropelias privatizadoras de PSD e PS que lesaram a companhia e o Estado em incontáveis milhões, como os cerca de 400 milhões de euros, agora denunciado com a negociata de Neelman para comprar parte da empresa com dinheiro da própria empresa.
É verdade que este espírito de «empreendedorismo», recorrentemente invocado para dar conta de sucesso pessoal da nata capitalista, não é novidade. Já na década dos anos noventa do século passado se tinha assistido à magia empreendedora de António Champalimaud, com o patrocínio de Cavaco e não só, ao apossar-se do Banco Pinto & Sotto Mayor, da seguradora Mundial Confiança e por arrasto do Totta e Açores por via de uma «compra» paga com o dinheiro dessas entidades. Quando por aí ouvirem essa conversa de enaltecimento dos que alegadamente saíram do nada para o estatuto de enriquecidos, o melhor mesmo é trazer à memória o ditado que nos lembra que «com as calças do meu pai, também eu sou um homem».