Adivinha

Anabela Fino

O presidente norte-americano veio à Europa fazer a apologia da guerra e receber da UE o reconhecimento de que não dispõe nos EUA: segundo as últimas sondagens 52% da população reprova o envio de armas para Kiev, enquanto há cerca de um ano a aprovação dessa medida era de 60%.

Numa corrida contra o tempo, antes que a pré-campanha eleitoral para um segundo mandato o obrigue a focar-se nos problemas internos, Biden foi a Kiev anunciar mais um pacote de ajuda financeira, mais equipamento militar e novas sanções à Rússia, seguindo depois para Varsóvia onde os EUA vão instalar uma base permanente da NATO. Não por acaso, o presidente da Polónia, Andrzej Duda, encontrou-se a semana passada em Bruxelas com o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, e anunciou que este ano Varsóvia vai aumentar os gastos militares para 4% do PIB, o dobro do previsto pelos restantes parceiros.

Biden tinha ainda encontro marcado com os líderes do grupo Bucareste Nove (Polónia, Estónia, Lituânia, Letónia, Bulgária, Hungria, Roménia, Eslováquia e Chéquia), todos membros da NATO, alvo de particular atenção por estarem ‘particularmente expostos’ à proximidade geográfica da Rússia. Uma exposição peculiar, unilateral, que a UE não reconhece quando a Rússia se queixa da proximidade das bases militares da NATO ao seu território.

A vassalagem de Bruxelas a Washington revela-se cada vez mais perigosa, numa altura em que por todo o lado cresce a contestação popular às políticas anti-sociais da UE, de Londres a Madrid, de Lisboa a Paris, de Praga a Bruxelas, com as consequências das sanções impostas à Rússia a provocar, num efeito bumerangue, o agravamento das condições de vida da esmagadora maioria da população enquanto os ricos ficam mais ricos, e a propiciar o crescimento da extrema-direita com a exploração demagógica e populista do descontentamento social.

Semear o medo tornou-se um imperativo: vêm aí os russos, se não forem contidos na Ucrânia, pelo que a UE tem de decidir como acelerar o fornecimento de armas a Kiev, defendeu esta segunda-feira o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, arauto da diplomacia das canhoneiras, que enquanto «conta espingardas» em Bruxelas avisa Pequim de que o eventual fornecimento de armas à Rússia constituiria «uma linha vermelha» para a UE.

Não certamente por acaso, a pressa de Borrell ocorre em simultâneo com a chegada a Moscovo do responsável pela política externa chinesa, Wang Yi, para conversações sobre um possível plano de paz para a Ucrânia. O diplomata sugeriu aos países europeus que «pensassem calmamente» em como acabar com a guerra, e lembrou, sem especificar, que há «algumas forças que aparentemente não querem que as negociações tenham sucesso, ou que a guerra termine em breve». Homessa! Quem será?

 



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