Povo «apertado» exige as respostas inadiáveis
O Governo não pode manter-se cego, surdo e mudo perante uma minoria que mal sobrevive e uma minoria que amassa lucros recorde. E muito menos demitir-se de garantir um presente e um futuro desafogado para pais e crianças, sublinhou Paulo Raimundo, anteontem, em Setúbal, e domingo, em Azeitão.
Com a maioria sem condições para viver, a situação é explosiva
Terça-feira, 7, o Secretário-geral do PCP passou a manhã numa casa que bem conhece: a Associação Cristã da Mocidade (ACM), no Bairro da Bela Vista, onde foi animador sócio-cultural na sua juventude. Trabalhou com crianças procurando que cada uma desse, se possível, mais e melhor. Essa foi uma experiência da qual colheu ensinamentos que perduram, admitiu durante a visita aos dois polos da instituição, na qual esteve acompanhado por dirigentes e quadros da ACM, membros da direcção local do PCP, pelo vereador da Cultura, Desporto, Direitos Sociais, Saúde e Juventude da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, e pelo presidente da Junta de Freguesia de São Sebastião, Nuno Costa.
A ACM opera respostas multifacetadas a populações com carências diversas. Nela, adultos em idade activa, idosos e jovens encontram apoio quando se vêem sem-abrigo, em défice alimentar ou em risco disso; encontram ajuda para problemas de saúde ou de habitação, na capacitação de competências, das básicas e pessoais às de formação profissional, na procura e manutenção de emprego, na abertura de perspectivas de um futuro diferente e melhor. Na ACM, as crianças brincam, expressam-se, preparam a entrada nos ciclos escolares e cumprem-nos, têm condições para prosseguir e medrar. Recentemente, na instituição também encontram um tecto provisório e portas abertas em diversas dimensões urgentes, refugiados vítimas da guerra.
Com tudo isto contactou em primeira mão Paulo Raimundo, que, fazendo a ponte entre o passado que conheceu e a actualidade, considerou normal a evolução da ACM, dado que «as necessidades vão aumentando».
Estamos, porém, «ainda muito longe do que precisamos, quer ao nível dos apoios a estas instituições, quer ao nível do papel do Estado». Aqui não há qualquer contradição, explicou em declarações à comunicação social ao longo e no final da visita. É inegável o presente e o futuro destas instituições. Mas também o é a necessidade de respostas públicas.
Nesse sentido, o dirigente comunista defendeu que «não há qualquer razão para a inexistência de uma rede pública de creches». E «a questão não é tanto o que se faz amanhã, mas o caminho que se abre» para que o papel do Estado seja efectivo, aduziu.
Acresce que, perante o défice demográfico do País, não existe outra saída senão assegurar «direitos aos pais e às crianças. E para além do problema dos salários, dos direitos, da estabilidade e dos horários que permitam a convivência com a família, há a resposta pública, nomeadamente uma rede de creches», insistiu.
Visita ao mercado de Azeitão
Melhores salários, cumprimento de direitos, estabilidade laboral, fixação e controlo dos preços, estiveram, igualmente, no centro das preocupações do dirigente comunista durante a visita ao Mercado Mensal de Azeitão, no domingo. Na ocasião, o Secretário-geral do PCP foi também acompanhado por autarcas setubalenses e dirigentes regionais e nacionais do PCP.
No contacto com feirantes e povo, emergiram com toda a força os baixos rendimentos de quem trabalha, a crescente especulação dos preços, a injustiça da existência de uma imensa maioria «completamente apertada», a par de uma minoria que «se enche como nunca». Por isso, Paulo Raimundo notou que se «as pessoas não são respeitadas, ganham mal e não conseguem viver com condições e dignidade, é natural que reajam». Lamentável, mas simultaneamente ilustrativo das suas prioridades, é a ausência de respostas do Governo, que, assim, avoluma «uma situação explosiva», alertou, antes de concluir que, apesar de tudo, «vimos aqui vontade de não baixar os braços».