Para poucos, tudo está bem para a maioria, sobra a factura
O povo e o País precisam da «política alternativa que serve à maioria, que está ao seu serviço e que, acima de tudo, é por ela concretizada», afirmou Paulo Raimundo num jantar-comício na sexta-feira, em Coimbra.
O que propomos interessa à maioria dos trabalhadores e do povo
A iniciativa reuniu mais de 330 pessoas na Associação Desportiva e Cultural da Adémia, um número que surpreendeu a Organização Regional de Coimbra do PCP, que, no próprio dia, teve de acomodar mais meia centena de camaradas e amigos que fizeram questão de participar. Muitos estão na luta com o Partido, mas nele não militam.
Por isso, as primeiras palavras de Vladimiro Vale foram para sublinhar que «este é o vosso Partido». O membro da Comissão Política do PCP lembrou, depois, que empresas como a Navigator arrecadam milhões de euros de lucros mas propõe aos trabalhadores aumentos miseráveis nos salários, e que o PS, gozando da convergência, à vez, de PSD, IL, Chega e até PAN, rejeitaram, na discussão do Orçamento do Estado para 2023, propostas comunistas de requalificação e investimento em infra-estrutras e serviços públicos na região. O que «põe a nu as incongruências entre os discursos de várias forças políticas na região e as votações na Assembleia da República».
Incongruências, notou no encerramento o Secretário-geral do PCP, mimetizadas do que fazem patronato, Governo e partidos que o servem, os quais, «sempre que toca a beliscar lucros ou travar salários e direitos», surgem «colados pelos interesses que defendem».
Paulo Raimundo lembrou, por outro lado, as declarações, por estes dias, do presidente do Santander – um entre a elite do «5% dos mais ricos que concentram 42% da riqueza» e líder de um banco que «apresenta lucros de 568,5 milhões de euros». Segundo aquele, os portugueses continuam a ter o «luxuoso» hábito de jantar fora à sexta-feira.
«À conta do sacrifício de quantos se baseiam estes lucros?», questionou o dirigente comunista, que respondendo que são extorquidos aos que «mal podem jantar à segunda e dos que trabalham à sexta, à quinta e a todos os dias», considerou que «o que é preciso é enfrentar os lucros vergonhosos da banca, investir na habitação e travar a subida das rendas e o aumento das prestações».
O Secretário-geral do PCP identificou, em seguida, outras necessidades. Sobretudo a urgência de «uma política alternativa que serve à maioria, que está ao seu serviço e que, acima de tudo, é por ela concretizada». Nesse sentido voltou a salientar as contradições dos beneficiários e executantes da política de abundância para uma minoria à custa da miséria do povo, e insistiu, também, que, recentemente, o primeiro-ministro não explicou «como é que com a guerra foi possível que as 13 empresas cotadas na bolsa tivessem arrecadado 4 mil milhões de euros de lucros nos primeiros nove meses de 2022».
Interessa aos trabalhadores e ao povo
«Isto está tudo bem mas para uns poucos, e sem vontade nenhuma de responder aos problemas concretos da vida de todos nós», acusou o dirigente comunista, que detalhou que PS, PSD, Chega e IL podiam acompanhar o PCP em propostas destinadas a travar a especulação, a transferência de dinheiro público para os grupos económicos e seus accionistas e canalizá-los para os serviços públicos.
Podiam acompanhar o PCP em propostas para garantir a «soberania produtiva, alimentar, energética e monetária» do País, assegurar «o aumento dos salários, pensões e apoios sociais», para «responder aos mais de 2 milhões e meio de pessoas, que vivem com menos de 660 euros por mês, e aos 1,7 milhões com menos de 551 euros por mês».
«Podiam, mas não o fazem» porque «estão todos comprometidos», divergindo somente «no ritmo», acusou ainda, antes de salientar que «o que precisamos não é de ritmos diferentes com outros protagonistas», mas de uma política que «não serve aos poucos que querem continuar a concentrar a riqueza, mas o controlo público dos sectores estratégicos; não serve aos poucos que se enchem à conta da especulação, mas a fixação e controlo dos preços» e «a taxação extraordinária dos lucros como elemento de combate às injustiças».
Uma mudança de rumo, prosseguiu, que «não serve aos poucos que exploram quem trabalha, mas o aumento geral dos salários e pensões; não serve aos poucos que se enchem à custa de benefícios e isenções fiscais» ou «abocanham e concentram apoios comunitários», mas «uma justa política fiscal» e «a aposta na produção alimentar e nacional; não serve aos poucos que querem pôr a mão nos serviços públicos, mas pô-los a funcionar em pleno; não serve aos poucos que querem a revisão e desvirtuamento da Constituição, mas a sua plena concretização; não serve aos interesses de poucos, mas aos direitos dos pais e das crianças».
Em suma, disse igualmente o Secretário-geral do PCP, uma política que «é do interesse da imensa maioria dos trabalhadores e do povo».