«Trabalhamos já só para o prato da sopa»

Secretário-geral do PCP esteve anteontem com trabalhadores da Exide, em Vila Franca de Xira, e deixou-lhes palavras de ânimo para a luta que todos têm de travar por melhores salários, pelo cumprimento de direitos, pelo respeito que merece quem cria a riqueza.

Nós, trabalhadores, somos a maioria e juntos temos mais força

Umas dezenas de minutos antes da troca de turno do meio da tarde, na Exide, já muitos trabalhadores e militantes comunistas se encontravam à porta da empresa. A presença do Partido é habitual – em contactos de esclarecimento e mobilização ou nas acções de luta, manifestando solidariedade e expressando activa defesa daqueles que lá laboram. Mas, desta feita, estaria também Paulo Raimundo, Secretário-geral do PCP.

A recebê-lo, junto ao portão da unidade de produção de baterias, a única que resta em Portugal, um pano pintado pela célula dos trabalhadores comunistas deixava tudo muito claro: «contra o aumento do custo de vida, pela valorização dos salários». Essa é a reivindicação de emergência, que além de dizer respeito àqueles que se encontram no activo, pode ser glosada para os que já trabalharam e vêem as respectivas reformas e pensões serem escassas para o brutal aumento dos preços em curso.

Ora, o aumento das remunerações foi justamente o primeiro mote da conversa entre Paulo Raimundo e um trabalhador e dirigente sindical na Exide. Fábio Roxo, para quem as palavras já começam a ser parcas face à realidade quotidiana.

«Trabalhamos já só para o prato da sopa. O dinheiro não chega para a casa, a precariedade é cada vez maior, portanto falar de empobrecimento é já quase um eufemismo para a quase escravatura», relatou ao Secretário-geral do PCP, antes de lhe entregar um folheto com as principais reivindicações dos trabalhadores e denunciar que «na fábrica do grupo na Alemanha, pagam uma fortuna para fazerem o mesmo que aqui fazemos».

Entre as reivindicações laborais estão, por isso, um aumento de pelo menos 125 euros. E Paulo Raimundo concordou não se tratar de nada extraordinário perante o crescimento de despesas como as com o crédito à habitação ou a alimentação, insufladas pela especulação que só aproveita aqueles que «acumulam fortunas», que «se andam abotoar à grande» com «a riqueza que só vocês produzem», lembrou.

 

«Isto não tem de ser assim»

Ao primeiro diálogo, seguiram-se longos minutos de contacto entre o dirigente comunista e os trabalhadores, que entravam e saíam da fábrica. Simpatia e palavras de agradecimento, na maior parte dos casos, para com a presença de Paulo Raimundo. Mas surpresa, pouca, já que, como já se disse, os comunistas estão não apenas inúmeras vezes à porta desta empresa, como têm organização dentro dela.

Não é por isso de estranhar que alguns dos que terminaram a jornada tenham esperado um pouco para ouvir o Secretário-geral comunista salientar que «isto está muito difícil», que andamos a «ganhar para sobreviver», que quem manda em quem governa e os executantes desta política, «têm muita força».

«É tudo verdade. Mas nós, trabalhadores, somos a maioria e todos juntos temos ainda mais força», afirmou. Por isso, apelou a que encontremos «força uns nos outros» e a «enfrentar com coragem e confiança o dia-a-dia».

Aliás, «a parte de leão dessa coragem que nós, no PCP, materializamos, vêm desse lado: da vossa acção reivindicativa e trabalho», acrescentou Paulo Raimundo, que antes de se despedir com um «até já, camaradas», recebendo respostas de certeza de que, mais cedo do que tarde, se voltam a encontrar na luta, ainda teve tempo de sublinhar que «isto não tem de ser assim, não é inevitável». E assegurar, igualmente, que «os trabalhadores podem contar com o PCP seja aqui seja onde for».

 

 



Mais artigos de: PCP

Votos de bom ano exigem outra política

«O que os portugueses esperariam ouvir do Presidente da República (PR) era a afirmação do seu papel em fazer cumprir a Constituição e os direitos que nela estão consagrados», considerou Jorge Cordeiro, reagindo à mensagem de ano novo proferida por Marcelo Rebelo de Sousa.

Desenvolvimento do Alentejo só com outra política

«Os dados dos CENSOS 2021 vêm, mais uma vez, desmentir a propaganda de sucessivos governos relativamente à falsa aposta no desenvolvimento do Alentejo, tantas vezes usada para fins meramente eleitorais».

Das ideias à intervenção

«Eu tenho 57 anos e desde os 16 sei que as minhas ideias vão de encontro aos ideais do PCP. Já vim tarde! Seria bom que as pessoas indecisas, como eu, se decidissem porque está na altura de fazer algumas coisa pelos nossos direitos, de lutarmos por novos e defendermos os que já conquistámos.»...

Evocação de José Saramago em Caminha

Foi inaugurada no dia 28 de Dezembro, na Biblioteca Municipal de Caminha, uma exposição evocativa do Centenário de José Saramago. A sessão iniciou com um momento musical protagonizado por um aluno da Escola de Música Fernandes Fão, de Caminha, que interpretou Chopin, um dos compositores várias vezes elogiado por José...

Já saiu «O Militante»

«Tomar a iniciativa» é a palavra de ordem do número 382 de «O Militante», queaborda as orientações da Conferência Nacional do PCP, realizada nos dias 12 e 13 de Novembro. «As exigências que estão colocadas ao Partido são muito grandes. A situação do País é muito preocupante. As condições de...

Deputados do PCP no PE no distrito de Portalegre

Sob o lema «Contigo todos os dias. A tua voz no Parlamento Europeu» (PE), prosseguem as Jornadas de Trabalho dos deputados comunistas no distrito de Portalegre. O Secretário-geral do PCP estará hoje em Elvas.

Crises, alheamentos e os interesses do costume

Como se resolve a «crise política»? A pergunta foi feita há dias ao Secretário-geral do PCP pelos jornalistas, num contacto com trabalhadores da Exide, na Castanheira do Ribatejo. A resposta, que foi dada no momento, tem sido repetidamente exposta nas páginas do Avante! e na intervenção do PCP: resolvendo a crise na vida...