Nos lucros da minoria, os sacrifícios do povo
Nos «lucros desviados para uma minoria de privilegiados estão as dificuldades de todo um povo», escondem-se «os salários diminuídos ou não pagos, os direitos roubados, os aumentos especulativos», denunciou Ricardo Costa, da Comissão Política do Comité Central do PCP.
Está em curso um processo de expropriação pelo grande capital de riqueza criada pelos trabalhadores, afirmou Ricardo Costa
O dirigente comunista referia-se, em declaração política ocorrida faz hoje uma semana, a uma realidade «tão gritante» que o grande capital, visando «iludir o essencial», se multiplica em «justificações para um acumular de lucros à custa da intensificação da exploração e da especulação desenfreada». Exemplo disso mesmo são «a afirmação por um dos principais banqueiros que existe uma “hostilidade cultural ao capital e à sua acumulação” ou a acusação de populistas a quem denuncia estes lucros escandalosos», lembrou.
Ricardo Costa chamou a atenção para os «quase dois mil milhões de euros de lucros das 12 empresas do PSI 20 que já anunciaram resultados do primeiro semestre de 2022», realçando que estes são superiores «em mais de 60% que em igual período de 2021». Registou, ainda, que «os 5 maiores bancos – CGD, BPI, Santander Portugal, Novo Banco, BCP – Banco Comercial Português - viram os seus lucros - 1,3 mil milhões de euros - crescer 80%», considerando, assim, que «é significativo que, a uma outra escala, apenas 7 das multinacionais do petróleo tenham anunciado resultados que ascendem a 117,8 mil milhões de euros, ou seja, 153% de aumento».
Mais, salientou o membro da Comissão Política do PCP: «os valores são tão elevados, as taxas de crescimento de lucros tão altas, é tão brutal o contraste entre a euforia do grande capital e as dificuldades da generalidade das MPME's, que fica à vista o aproveitamento especulativo que os grupos económicos estão a fazer da guerra e das sanções, com consequências desastrosas sobre as condições de vida dos trabalhadores e do povo, esmagados pela inflação e pelo aumento incessante de bens essenciais, como a habitação, a energia e a alimentação».
Indisfarçável
Ora, «para tentar esconder o processo em curso de expropriação pelo grande capital da riqueza criada pelos trabalhadores, o grande capital usa os seus meios de difusão de falsas notícias para apontar o dedo aos impostos, procurando novas reduções de impostos para si e para os seus lucros. Reduções que inevitavelmente os portugueses acabariam a pagar dos seus próprios impostos ou da redução ainda maior dos serviços públicos a que têm direito», acusou igualmente Ricardo Costa.
Nesse sentido, recordou que «o PCP tem proposto que os lucros que estão a ser obtidos com a especulação sejam tributados através de um imposto extraordinário», considerando a medida «cada vez mais necessária», como, aliás, «as Nações Unidas vieram reconhecer».
«Mas [o Partido] também tem sublinhado que é preciso ir mais a montante: pôr fim à liberalização da nossa economia, recuperar o controlo público sobre os sectores estratégicos, abandonar os mecanismos especulativos de fixação de preços, revogar as normas gravosas da legislação laboral, romper com o caminho que a política de direita tem imposto ao nosso País».
Essa é uma «necessidade cada vez mais evidente», insistiu o dirigente comunista, para quem, neste contexto, «o aumento geral dos salários – do Salário Mínimo e dos salários na Administração Pública», bem como «das reformas e pensões, emergem como uma questões cruciais e inadiáveis para enfrentar a acentuada perda de poder de compra que os trabalhadores e o povo enfrentam, decorrente da brutal inflação provocada pela especulação ao serviço dos lucros do grande capital».
«Um aumento dos salários que não cai do céu. Tem de ser conquistado com a luta dos trabalhadores e com a ampliação da intervenção organizada dos que, pelo seu trabalho, criam a riqueza do País», concluiu.