«As eleições não eram necessárias mas vamos a elas com confiança!»
«As eleições não eram necessárias. Mas se elas se tornaram inevitáveis, então vamos a elas com confiança», afirmou Jerónimo de Sousa, que responsabilizou o PS pela não aprovação do Orçamento do Estado para 2022 (OE).
«O PS não quis afrontar os interesses do capital», sublinhou Jerónimo de Sousa
Primeiro em Lisboa, sexta-feira, num jantar promovido pela célula dos trabalhadores comunistas do município (ver página 12), e depois num almoço na Marinha Grande, no domingo, (ver página 9), o Secretário-geral do PCP reiterou que a proposta de OE só não foi aprovada «porque o PS não quis afrontar os interesses do capital».
«O PS queria eleições, não encontrar respostas e soluções», algo, prosseguiu, que «já tínhamos deduzido antes pela insuficiente resposta dada», mas que se confirmou no encerramento do debate «quando o primeiro-ministro pediu uma maioria estável e duradoura para o PS, ou por outras palavras uma maioria absoluta».
«Por isso não quis tratar do aumento dos salários como a emergência nacional que é. E nós nem fizemos finca-pé na justa proposta dos 850 euros, admitindo a sua fixação em 755 euros, em Janeiro de 2022», continuou.
O PS «não quis desamarrar o País das limitações e constrangimentos da União Europeia e do Euro com seus draconianos critérios do défice e da dívida, que servem de justificação para impedir opções para defender o interesse nacional», exemplificou igualmente Jerónimo de Sousa, que acusou o PS de pretender «ficar com as mãos livres para servir os interesses que sempre serviu».
«Querem uma maioria absoluta para se libertar da influência do PCP, que obrigou o PS, mesmo contra o seu programa e a sua vontade, a um conjunto de medidas positivas», insistiu o dirigente comunista, para quem, «marcadas que estão as eleições, o que é preciso é garantir o reforço do PCP e da CDU».
Escolha
O Secretário-geral do Partido, por outro lado, esclareceu que o que «importava saber» era se «as opções do Governo, no OE e para lá dele, davam as respostas que os problemas do País exigem, ou se, pelo contrário, permitiam que eles se agravassem». A escolha do executivo governamental foi por este último caminho, justamente quando «Portugal precisa de outras opções e de encetar um caminho alternativo capaz de iniciar uma trajectória de desenvolvimento económico e social».
Da parte do PCP, a intervenção focou-se «em torno do que interessa: do salário e da pensão que não chega ao fim do mês, dos direitos que são roubados por causa do cutelo da caducidade da contratação colectiva, da defesa do Serviço Nacional de Saúde, dos direitos de pais e crianças, da garantia do direito à habitação, aos transportes, dos caminhos para uma maior justiça fiscal, da dinamização da actividade económica, da valorização da produção nacional enquanto factor estratégico», detalhou Jerónimo de Sousa, para quem «com a epidemia, juntaram-se aos graves défices estruturais do País - no plano produtivo, energético, tecnológico e demográfico, aos persistentes problemas dos baixos salários e reformas, do desemprego e da precariedade, do agravamento da carestia de vida, da degradação dos serviços públicos - problemas novos que ampliaram as dificuldades da vida de milhões de trabalhadores e reformados e de outras camadas da população».
«Ganharam outra amplitude as dificuldades das famílias no acesso à habitação e no cuidar dos filhos; as debilidades e dificuldades dos serviços públicos, com particular evidência no Serviço Nacional de Saúde que urge defender da gula dos grandes grupos económicos; a instabilidade de muitos sectores económicos, onde preponderam os micro e pequenos empresários que enfrentam agora acrescidas dificuldades para manter vivas as suas actividades», precisou ainda.
Prova dadas
De resto, fazendo um exercício de memória recente, «os trabalhadores e o povo português sabem que o PCP nunca desperdiçou nenhuma oportunidade para melhorar as suas vidas», acrescentou também Jerónimo de Sousa, que lembrou, a propósito, que «quando foi preciso afastar o PSD e o CDS do Governo, foi este Partido que contou». Como contou «decisivamente para a reposição de vários direitos roubados, como salários, feriados ou a eliminação das restrições à contratação de trabalhadores na Administração Local; o fim dos cortes nas pensões, o seu aumento extraordinário e a valorização do abono de família; a ampliação da protecção aos desempregados, o pagamento por inteiro do subsídio de Natal, a redução do valor das propinas, a redução de taxas moderadoras ou a redução dos custos com medicamentos; na Administração Pública, a reposição das 35 horas e a generalização da sua aplicação ou direito à progressão na carreiras, para não falar na gratuitidade dos manuais escolares, do alargamento do Passe Social intermodal e a redução do seu preço, ou da eliminação do Pagamento Especial por Conta, entre outras medidas».
«Avanços que tiveram a contribuição decisiva do PCP, de que nos orgulhamos e que os trabalhadores e o povo, estamos certos, não esquecem», uma vez que, aduziu, «fazem prova de que é no PCP e com o PCP que se podem inscrever novas respostas e soluções que preencham novas exigências».
Assim, «contem connosco, determinados nesse combate», garantiu o Secretário-geral do PCP, antes de alertar que «o que está em causa é escolher o futuro que vá ao encontro das aspirações a uma vida melhor para o nosso povo», e concluiu que «respostas e soluções para os problemas do País» só são «alcançáveis com o reforço do PCP e da CDU».
Eleições tarde e mal
Conhecida que foi a decisão do Presidente da República (PR) de dissolver a Assembleia da República e convocar legislativas antecipadas para o próximo dia 30 de Janeiro, o PCP, através do membro do Comité Central e deputado António Filipe, reagiu considerando a data «incompreensivelmente tardia». Aliás, contradizendo o próprio Chefe de Estado quanto à necessidade de «uma clarificação da situação o mais rapidamente possível».
Estando em causa «questões de extrema importância para o futuro próximo do País (…), não se compreende que as eleições não sejam marcadas para o mais curto prazo possível, o que aliás corresponderia à data que foi proposta pela quase totalidade dos partidos», explicou António Filipe.
«Dá ideia que está a pôr à frente dos interesses nacionais conveniências de candidaturas à liderança dos partidos da direita e, portanto, não nos parece que seja um bom serviço ao País», criticou ainda, no dia 4, o eleito e dirigente comunista, para quem o argumento da proximidade do Natal e do Ano Novo não colhe, já que várias eleições para a Presidência da República «ocorreram próximas do dia 20 ou 21 de Janeiro», sendo, por isso, «perfeitamente possível e adequado que estas tivessem lugar ou no dia 16 ou 23 de Janeiro».