França treinou terroristas no Mali

Carlos Lopes Pereira

O pri­meiro-mi­nistro do Mali, Cho­guel Maïga, acusou a França de ter im­pe­dido a en­trada do exér­cito ma­liano em Kidal e de ter en­tregue o con­trolo dessa ci­dade a grupos ar­mados não-go­ver­na­men­tais.

Numa en­tre­vista à agência de no­tí­cias russa RIA No­vosti, ci­tada pela RT France, em res­posta à questão sobre o po­ten­cial fi­nan­ci­a­mento es­tran­geiro de grupos ter­ro­ristas a ac­tuar no Mali, o go­ver­nante ma­liano re­feriu-se à in­ter­venção mi­litar da NATO na Líbia, em 2011, que lançou no caos o Es­tado líbio. «Os ter­ro­ristas pri­meiro vi­eram da Líbia. Quem des­truiu a Líbia? Foi a França e seus ali­ados», lem­brou.

Maïga re­velou os laços entre grupos ar­mados e a França, acu­sando Paris de ter per­mi­tido a forças não-go­ver­na­men­tais con­trolar a ci­dade de Kidal. «Che­gada a Kidal, a França proibiu o exér­cito ma­liano de ali en­trar, criou um en­clave», ga­rantiu.

Se­gundo o di­ri­gente ma­liano, os fran­ceses es­co­lheram dois ad­juntos do chefe da or­ga­ni­zação ter­ro­rista Ansar Dine (des­crita pela AFP como uma «ne­bu­losa jiha­dista vin­cu­lada à Al-Qaeda») a fim de «formar uma outra or­ga­ni­zação». E terão também con­tac­tado os di­ri­gentes do MNLA (Mo­vi­mento Na­ci­onal de Li­ber­tação de Azawad), se­pa­ra­tistas tu­a­re­gues.

Paris cons­ti­tuiu, pois, uma or­ga­ni­zação de com­ba­tentes a quem «en­tregou Kidal». «Até agora, o go­verno ma­liano não exerce a sua au­to­ri­dade na re­gião de Kidal. Foi a França que criou este en­clave, uma zona de grupos ar­mados trei­nados por ofi­ciais fran­ceses. Nós temos provas disso», afi­ançou o pri­meiro-mi­nistro do Mali.

As de­cla­ra­ções de Maïga surgem num con­texto de cres­centes ten­sões entre Paris e Ba­mako, ou­trora in­de­fec­tí­veis ali­ados.

A pre­texto da luta anti-ter­ro­rista, a França in­tervém mi­li­tar­mente no Mali desde 2013, com a ope­ração Serval, subs­ti­tuída de­pois pela Barkhane. Mas a ac­ti­vi­dade jiha­dista não só não foi «con­tida» como se agravou e es­tendeu a ou­tros países do Sahel, onde per­ma­necem mi­lhares de sol­dados es­tran­geiros – fran­ceses, norte-ame­ri­canos e da União Eu­ro­peia, além de um con­tin­gente das Na­ções Unidas.

No úl­timo ano, após as forças ar­madas to­marem o poder no Mali, com dois golpes de Es­tado, as di­ver­gên­cias franco-ma­li­anas acen­tu­aram-se. Em Junho, a França anun­ciou a re­or­ga­ni­zação do seu dis­po­si­tivo mi­litar no Sahel, aban­do­nando as bases no norte do Mali (Kidal, Tom­bouktou e Tes­salit) e re­du­zindo os efec­tivos da Barkhane até 2023 de cinco mil sol­dados para me­tade.

Ba­mako acusou Paris de aban­donar o Mali «em pleno voo» e tornou pú­blicas con­ver­sa­ções com Mos­covo sobre o re­forço da co­o­pe­ração téc­nico-mi­litar há muito exis­tente com a Rússia.

Ques­ti­o­nado pela RIA No­vosti sobre a ca­pa­ci­dade de o Mali de­fender-se pe­rante a já in­vo­cada «re­ti­rada das tropas fran­cesas», Maïga de­nun­ciou a ameaça: «Esta chan­tagem não pode en­fra­quecer a nossa de­ter­mi­nação de pro­teger o nosso ter­ri­tório, o nosso país. Esta chan­tagem não será uma razão para pôr fim à co­o­pe­ração com par­ceiros fiá­veis como a Rússia». E en­fa­tizou que o Mali, Es­tado so­be­rano, tem o di­reito de co­o­perar com qual­quer Es­tado, no in­te­resse do seu povo.

É assim: os povos, em África e em todo o mundo, re­jeitam as im­po­si­ções ne­o­co­lo­niais, as in­ter­ven­ções es­tran­geiras, a pi­lhagem das suas ri­quezas, e lutam pelo re­forço da in­de­pen­dência e so­be­rania dos seus países, pela cons­trução em paz do pro­gresso.




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