O bom, o mau e o patrão

António Santos

Quase 60 mil trabalhadores estado-unidenses da televisão e do cinema votaram, pela primeira vez na história, a favor da convocação da greve, anunciou, na segunda-feira, a federação de sindicatos do sector, conhecida como Aliança Internacional de Empregados dos Palcos Teatrais ou IATSE.

Dos escritores aos actores, passando por operadores de câmara, maquilhadores, cozinheiros, carpinteiros e pintores, as queixas são as mesmas: horários de 12 a 17 horas seguidas sem fins-de-semana nem pausas para almoço nem descanso, salários abaixo de 18 dólares por hora e condições laborais degradantes. Os trabalhadores exigem ainda uma fatia dos lucros gerados pelos seus filmes e séries nos serviços de streaming.

Há menos de um mês, a AMPTP, a principal associação patronal da indústria cinematográfica dos EUA, classificava estas exigências como «delirantes» e recusava-se sequer a discuti-las porque, afiançavam, «aceitar negociar sob uma ameaça de greve é ceder à chantagem e isso para nós seria perder a batalha fundamental entre o bem e o mal».

Perder será provavelmente um exagero, mas algo mudou, na segunda-feira, quando se soube que, contados os votos dos 90 por cento de 60 mil trabalhadores que participaram no escrutínio, 98,6 por cento tinha autorizado da greve.

«A bola agora está do lado deles [dos patrões]», fez saber o presidente do IATSE, Matthew Loeb, num comunicado divulgado depois da votação, «se quiserem evitar uma greve, sentam-se novamente à mesa das negociações e fazem-nos uma oferta razoável», sugeriu. Escassas horas mais tarde, a AMPTP retomou as negociações, sem perder por isso a fundamental batalha, mas a pressão sobre os trabalhadores continua a aumentar.

Na ia_stories, uma página de Instagram dedicada à partilha das experiências pessoais dos trabalhadores, são muitos os que denunciam que, na iminência da primeira greve em 128 anos da IATSE, muitos patrões aceleram a produção e aumentam ainda mais as jornadas laborais. «O meu patrão acabou de nos dizer que vamos trabalhar 14 horas, 7 dias por semana “até aviso em contrário”. Estão a tentar adiantar o máximo de trabalho possível antes da greve», pode ler-se numa publicação. «Batalha entre bem e mal? É mais uma batalha entre os interesses deles e os nossos. Durante muitos anos estivemos à defesa, é hora de passarmos ao ataque», pode ler-se noutra.




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