Música livre, complexa, mas acessível pela Orquestra de Jazz do Hot Clube

HOMENAGEM «Respeitar e homenagear o que era central na actividade do Manuel Jorge Veloso: o amor e a admiração por esta música livre, complexa, mas acessível a todos os públicos», eis o que o público pode esperar da actuação da Orquestra de Jazz do Hot Clube na Festa do Avante!. Quem o revela em entrevista é a direcção do histórico Clube, que desde o seu início assumiu como missão a divulgação dessa «linguagem universal» que é o jazz. Em palco estarão excelentes músicos com um repertório que integrará temas de um dos grandes compositores da história do Jazz, Charles Mingus.

A missão do Hot Clube é divulgar o jazz como linguagem iniversal

É sabido que a memória de Manuel Jorge Veloso estará presente e inspira a vossa actuação na Festa. O seu papel pioneiro enquanto divulgador do jazz explica também a vossa opção por apresentar composições dos clássicos?

O Manuel Jorge Veloso participou frequentemente em acções de divulgação de jazz em Portugal que se preocupavam em dar uma panorâmica histórica desta

linguagem musical. Os clássicos da musica para Big Band, são um repertório fundamental para perceber percursos e influências que dão origem ao jazz que hoje se faz.

Promover e divulgar o jazz é, de resto, desde a sua criação, um dos desígnios do Hot Clube de Portugal. Essa é uma chama que se mantém viva?

A missão do Hot Clube é precisamente divulgar o jazz como linguagem universal, mas também apoiar os músicos e compositores portugueses na sua actividade, nomeadamente os mais jovens. Esse trabalho é a essência da nossa actividade, não só no Clube mas também na escola. A orquestra do Hot integra ex-alunos, professores e músicos com carreiras afirmadas no panorama jazzístico

português.

Da área cultural tem havido sinais de preocupação por fragilidades que afectam o sector e que a epidemia COVID apenas evidenciou. Como encaram esta realidade?

A fragilidade do sector cultural português é crónica e só será superada se esta área for considerada fundamental em termos estratégicos e económicos. Temos que começar no sector educativo e terminar a mudança no sector político.

Enquanto for considerada uma área de segunda, nenhum dos seus problemas será resolvido e seremos um país cronicamente inculto e mais pobre.

Como foram passados estes meses ? O processo criativo paralisou ou brotaram novas ideias?

O sector cultural mostrou ser dos mais produtivos e diríamos dos mais mobilizadores de todos. Durante a pandemia a grande maioria dos artistas manteve-se a criar e produzir arte. A questão é que em relação ao trabalho de um engenheiro, de um economista ou de um professor, o trabalho de um artista não é valorizado da mesma maneira. Enquanto essa revolução de mentalidades não for feita os artistas serão sempre um elo frágil nas sociedades.

Que significado e importância atribuem à realização da Festa do Avante! no quadro actual, quer para os artistas quer em geral para as pessoas que precisam de viver a vida e fruir dos bens culturais?

A Festa do Avante! foi sempre um palco de promoção, respeito e valorização dos artistas. Para o Hot Clube é sempre um privilégio integrar a programação da Festa que dá a esta linguagem musical o lugar que ela merece.

O que é que o público pode esperar este ano da vossa presença na Festa?

O público pode esperar um concerto de grande qualidade, com um repertório exemplificativo do melhor que já se compôs para este tipo de formação de jazz.

Numa tentativa de respeitar e homenagear o que era central na actividade do Manuel Jorge Veloso: o amor e a admiração por esta música livre, complexa, mas acessível a todos os públicos.

Que projectos têm em mãos?

Neste momento o Hot Clube está a procurar retomar a actividade de concertos ao vivo e essa é a sua prioridade. Além disso preparamos o novo ano lectivo, ponderando todas as condicionantes a que nos obriga a pandemia. Mas agora mais que nunca é preciso retomar a actividade com energia e determinação.

Quem foi Charles Mingus?

Charles Mingus (1922-1979) foi um contrabaixista, compositor e pianista americano. Ficou também conhecido pelo seu activismo contra a injustiça racial. Uma das suas composições mais icónicas é Fables of Faubus, surgida pela primeira vez no álbum Mingus Ah Um de 1959, que tem por alvo a criatura baptizada com o improvável nome de Orval E. Faubus, governador do Arkansas entre 1955 e 1967 e que, em 1957, decidiu desafiar a resolução do Supremo Tribunal dos EUA contra a segregação racial nos estabelecimentos de ensino, e deu ordens à Guarda Nacional para impedir o acesso de estudantes afro-americanos à Escola Secundária Central, este evento ficou conhecido como a Crise de Little Rock.

Mingus é considerado um dos grandes compositores da história do Jazz, ao lado de nomes como Thelonious Monk e Duke Ellington. As suas composições continuam a ser tocadas actualmente por músicos contemporâneos e por vários ensembles existentes de homenagem a Mingus. Entre estas formações destaca-se a Mingus Big Band, a qual tem vindo a construir um repertório criado por arranjadores/músicos da própria orquestra, tais como Steve Slagle, Jack Walrath e Sy Johnson.

É este repertório que a Orquestra de Jazz do Hot Clube apresentará no concerto na Festa do Avante!, juntamente com alguns arranjos elaborados por membros que a integram, nomeadamente de Luís Cunha e César Cardoso.



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