«O público precisa de “comida para a alma”»
AVANÇAR Arqueólogo sonoro da música portuguesa e construtor de pontes com vários estilos e protagonistas, Stereossauro vai estar este ano na Festa do «Avante!», que na sua opinião contribui para reactivar a cultura e «alimentar a alma» do público.
«A sonoridade do Fado já se entranhou em mim»
De onde vem o nome Stereossauro, qual o seu sentido?
Grande parte do meu trabalho recai na transformação de sons de outras eras passadas, em samplar pedaços de músicas antigas e trazê-las para o presente. Nesse sentido, sou quase um arqueólogo sonoro. E Stereossauro, também porque era uma conjugação engraçada de palavras.
Tem já um longo percurso de trabalho apurado, sólido, centrado na música portuguesa, na remistura de temas, na colaboração com autores e intérpretes de estilos distintos. Porquê esse caminho? É isso que traz à Festa do Avante!, designadamente convidando Camané, Chullage, Ricardo Gordo, Mariza Liz e Carlão?
Esse caminho é o modus operandi normal do hip-hop. Se nos Estados Unidos da América foi assim que começou, com artistas a samplar discos de funk e soul, sendo eu português é natural que o fizesse com discos de música portuguesa, pois esses eram aqueles a que tinha acesso em casa dos meus familiares. E sim: é esse trabalho que vou levar à Festa do Avante
Vai continuar o seu trabalho na mesma senda ou projecta a busca de outros caminhos?
Estou sempre a procurar novos caminhos e novas sonoridades, mas essa sonoridade do Fado já se entranhou em mim há cerca de dez anos, portanto já faz parte de mim. Não vou deixar de o fazer, mas não será esse o meu caminho em exclusividade.
Qual a importância que atribui à realização da Festa do Avante! no actual contexto político e social?
Politicamente não sei responder. Sempre fui muito desligado da política. Socialmente, penso que vai ser muito importante. A cultura é para todos e tem de se manter activa. Não só as pessoas que a produzem precisam de comida na mesa, como o público precisa de «comida para a alma».