Acidente em Soure prova urgência de integração ferroviária
O PCP reiterou que «a aposta no sistema ferroviário, na sua modernização, qualidade e segurança, exige investimento público, meios humanos e a reunificação da CP, com a integração da infra-estrutura ferroviária, actualmente na IP, como elemento fundamental». Para o Partido, só assim se assegura «escala para agregar e desenvolver engenharia e tecnologia ferroviária, exercendo a gestão da infra-estrutura e como operador único em todo o território nacional».
Esta posição assumida na sequência do acidente que provocou dois mortos e 36 feridos depois de um veículo de manutenção ter colidido com um Alfa Pendular à saída da estação de Soure, distrito de Coimbra, a 31 de Julho.
No texto, divulgado dia 5 pelo seu gabinete de imprensa, o Partido sublinha que, não tendo envolvido «estranhos ao sistema ferroviário e tendo como intervenientes elementos centrais deste sistema», o acidente «coloca em primeiro plano as justas preocupações manifestadas pelo PCP sobre a qualidade geral de serviço e as condições de segurança de todas as componentes do sistema no âmbito nacional». Além do mais, considera o PCP, «salienta as consequências da pulverização do sistema ferroviário que a CP unificada representava, designadamente com a perda de capacidades técnicas, em submissão ao que os grandes grupos económicos deste sector designam por mercado ferroviário».
«Um percurso imposto por sucessivas opções que, contrárias ao interesse nacional, tem vindo progressivamente a agravar-se», acusa ainda o Partido, antes de lembrar que, «em 2017, o órgão do Estado dedicado à prevenção e investigação de acidentes ferroviários passou a integrar o mesmo órgão para os acidentes com aeronaves».
«Toda uma situação que espelha a menorização do sistema ferroviário, com reflexos inevitáveis no domínio da segurança, onde se destaca a própria mercantilização da formação com a redução de padrões de qualidade e desresponsabilização da IP», conclui-se.
Reagindo também ao desastre ferroviário, a Federação de Sindicatos dos Transportes e Comunicações, Fectrans/CGTP-IN, exigiu que o inquérito anunciado pelo ministério que tutela a IP procedesse ao apuramento das causas do acidente, e alertou para a tentação de cair «no estafado argumento da “falha humana”, que mais não serve do que desviar a atenção das verdadeiras causas».
Palavras aparentemente premonitórias, dado que, em comunicado posterior, a Fectrans lamentou que apesar de estar a decorrer o apuramento dos factos, «a administração da IP já veio dizer quem são os culpados», procurando, assim, «justificar a sua incapacidade de implementar as recomendações a que estava obrigada» e que reconhecidamente poderiam ter evitado o acidente.
Neste contexto, a organização sindical reafirmou a reclamação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário de demissão da actual gestão da IP.