Da Líbia ao Mali, as mesmas guerras

Carlos Lopes Pereira

Quase uma década depois da agressão militar dos EUA e da NATO à Líbia, em 2011, continua a violência no país norte-africano, dilacerado pela guerra civil e por múltiplas ingerências estrangeiras.

Segundo as Nações Unidas, no último trimestre foi registado um aumento de 65 por cento no número de civis mortos no conflito. Entre Abril e Junho, mais de uma centena de civis, incluindo mulheres e crianças, foram vítimas dos combates terrestres, de ataques aéreos e da explosão de munições abandonadas.

A maioria das vítimas pertence à região ocidental da Líbia, cenário de confrontos entre forças do general Khalifa Haftar (Exército Nacional da Líbia) e tropas do Governo de Acordo Nacional, com sede em Trípoli e reconhecido pela ONU.

Após a agressão norte-americana e dos seus aliados, e com a destruição do Estado unitário, a Líbia está dividida entre duas administrações rivais, uma controlando zonas do Oeste, outra com influência no Leste do país, cada uma delas apoiada por milícias armadas e por governos estrangeiros.

Em Abril de 2019, as forças de Haftar, ligado ao parlamento líbio com sede em Tobruk, lançaram ataques contra a capital e zonas do Noroeste. O governo de Trípoli solicitou auxílio militar à Turquia e rechaçou a ofensiva, havendo agora o perigo da intervenção armada do Egipto, a pedido da facção que apoia Haftar.

Estando a guerra civil num aparente impasse, do ponto de vista militar, multiplicam-se as iniciativas de paz – da ONU, da União Europeia, da Rússia, da Turquia, do Egipto… e até dos EUA, os principais responsáveis pela guerra e pelo caos na Líbia.

Com enorme hipocrisia e sempre preocupado com os negócios petrolíferos, Washington pediu às partes envolvidas que cheguem a um cessar-fogo sob os auspícios da ONU. «Apelamos a todas as partes, aos responsáveis pela escalada actual e aos que trabalham para lhe pôr fim, a que Corporação Nacional do Petróleo possa retomar a sua actividade vital, com total transparência, e a implementar uma solução desmilitarizada para Sirte e Al-Jufra, respeitar o embargo de armas imposto pela ONU e concretizar um cessar-fogo no âmbito das conversações militares 5+5 dirigidas pela ONU», afirmou Robert O’Brien, assessor de segurança nacional da Casa Branca.

Sem pudor, esclareceu que está «profundamente preocupado» com a escalada do conflito na Líbia e que os EUA opõem-se a qualquer participação militar estrangeira, incluindo o recurso a mercenários.

É de notar que a destruição da Líbia pelos EUA e NATO provocou também a instabilidade no Sahel, onde alastrou a vários países a guerra de rapina pelos recursos naturais dos povos da região.

Um desses países é o Mali, que desde 2012 sofreu um golpe de Estado, movimentos separatistas, actividades terroristas, conflitos inter-étnicos, a corrupção dos governantes e a chegada de milhares de soldados estrangeiros, sobretudo franceses e das Nações Unidas, tudo isso agravando as condições de vida do povo.

Nas últimas semanas, os malianos manifestam nas ruas o seu descontentamento, pedem o afastamento do presidente da República, exigem uma governação patriótica.

A crise maliana está rodeada de incertezas. Mas é certo que, tal como o povo da Líbia, o povo do Mali alcançará, com a sua luta, o fim da guerra, a paz e o direito a construir soberanamente o desenvolvimento.




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