Diferente dos outros…

João Frazão (Membro da Comissão Política)

A meio caminho da realização do XXI Congresso do nosso Partido, olhar para o processo que se iniciou há cerca de quatro meses e meio e tem outros tantos pela frente permite-nos questionar o que é que tem este Partido que é tão diferente de todos os outros.

Não fizemos mais que honrar o Centenário do Partido que estamos a celebrar

Diferente, desde logo, porque não soçobrou perante as dificuldades que se colocaram neste ano, de todos tão diferente. Avaliando as novas condições, tomando medidas para garantir a sua segurança e a segurança dos seus militantes, olhou para a realidade que se transformava a uma velocidade estonteante e mudou tudo o que foi preciso para continuar onde sempre esteve, junto dos trabalhadores e do povo, na primeira linha da defesa dos seus direitos e interesses.

Enquanto uns se recolhiam e outros aproveitavam esse recolhimento para, nas novas circunstâncias, intensificar o ataque a salários e direitos, o PCP agia e apelava a que ninguém se calasse perante as injustiças e que ninguém considerasse normal o saque que se começava a organizar.

Com as devidas distâncias, poderia dizer-se que não fizemos mais que honrar o Centenário do Partido que estamos a celebrar. Não é verdade que, no seguimento do golpe de Estado de 1926, todos os outros partidos se dissolveram ou foram extintos e que só nós, de forma organizada, procedemos às mudanças necessárias no nosso funcionamento e, nas novas condições, mantivemos acesa a chama da resistência e da luta? E que, em cada momento que se seguiu, assim fizemos em todas as curvas difíceis da nossa vida colectiva?

Que é que tem este Partido de tão diferente, para manter marcado o seu XXI Congresso, quando todos os outros adiaram reuniões e eleições internas e reduziram o funcionamento quase só à dimensão institucional?

Talvez se possa responder com outra pergunta. Num momento tão complexo para o País e para o mundo, quando o imperialismo revela as suas facetas mais perigosas, mais desumanas, mais predadoras, não conseguindo mais esconder a sua brutal crise estrutural, quando se acentua a ofensiva política, económica, social, ideológica e mesmo militar, para garantir o domínio hegemónico do capital e uma ainda maior concentração da riqueza, poderíamos nós esperar que «isto» passasse, que viessem melhores dias, para, apenas depois, voltarmos ao debate, à organização e à luta?

Organizar e intervir
Até porque a preparação de um Congresso do PCP – mais uma diferença relativamente a todos os outros –, como não inclui o combate entre grupos que se digladiam entre si, antes procura potenciar a opinião e o contributo de todos e de cada um dos militantes, não precisa de nenhuma trégua na batalha.

Precisa, isso sim, como fizemos nesta primeira fase que agora terminou, mesmo nas difíceis condições em que se realizou, e como faremos imediatamente a seguir à Festa do Avante!, de tomar as medidas em cada organização para assegurar a cada militante o espaço para participar neste processo de construção colectiva de uma opinião que, em Dezembro, será de todos.

Não é por teimosia que insistimos no desenvolvimento da vida partidária, que damos toda a força à luta de massas, que mantivemos a edição regular do Avante! – e o distribuímos de forma militante em todo o País –, que realizámos dezenas de reuniões e plenários, que estamos a preparar a Festa do Avante!, a Festa da juventude e do Portugal de Abril, que prosseguimos as comemorações do Centenário do Partido, que preparamos com afinco o XXI Congresso, para o qual discutiremos as Teses, faremos propostas, elegeremos os delegados.

Colocando no centro das nossas preocupações a vida, o bem-estar, a saúde dos trabalhadores e do povo, assentando o funcionamento interno no desenvolvimento criativo do centralismo democrático, não admitindo, nunca, a suspensão da democracia interna, não desistindo do nosso projecto socialista para Portugal, eis também o que faz de nós um Partido diferente de todos os outros.

 



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