Os acordos da «peste»
«O PSD não tem peste», diz António Costa e Rui Rio replica «o PS (também) não tem peste», ficamos assim a saber que, em matéria de «peste», PS e PSD estão de acordo. E não se trata de um mero acordo semântico ou pontual, como pretendem fazer crer, explicando o PS que quem vê um «romance» de «bloco central» está a ver mal, porque o seu «espaço natural de entendimento (é) à esquerda», e realçando o PSD que «é bom que haja duas alternativas». Será que PS e PSD estão até de acordo em dizer que, entre ambos, não existe acordo?
Factual é o conjunto de acordos de substância que agora se confirmam entre PS e PSD. Votaram 70 vezes juntos no Orçamento Suplementar de acentuação de desigualdades, aprovado por acordo do voto do PS e da abstenção negociada do PSD, BE e PAN; votaram juntos em F. Assis para presidente do Conselho Económico Social, paradigma do deslizamento para o «bloco central», que o novo chefe da (des)concertação abraça como «causa de vida»; estão juntos na candidatura a mais um mandato do PR Sousa, de quem o grandíssimo capital espera ainda mais contributo para o branqueamento do PSD e a sua reabilitação para a cooperação intensa com o PS no «bloco central» da política de direita, na tentativa de reverter os avanços conquistados pela luta dos trabalhadores e a acção do PCP nos últimos anos – um processo em curso acelerado, entre tretas e encenações.
Ao longo dos anos, PS e PSD estiveram sempre em «bloco central» de facto, em matérias estruturantes da política de direita e dos respectivos interesses de classe, da UE e do euro. Essa é a verdadeira «peste» em que estão de acordo, aqui e agora, quando a situação do País, mais que nunca, exige uma política alternativa, patriótica e de esquerda.