Resistir ao fascismo desde o primeiro dia
O PCP foi, inquestionavelmente, o principal motor da resistência e da unidade antifascistas. As grandes jornadas de luta que marcaram todo o período da ditadura, a acção clandestina permanente, a dinamização de organizações e movimentos unitários, a definição do rumo para o derrubamento do fascismo, tudo isto tem a marca indelével dos comunistas portugueses. A reorganização de 1940/41 foi um momento marcante e decisivo para que o Partido assumisse este seu papel, mas não foi de modo nenhum o único.
Já dez anos antes, enquanto todos os outros partidos abandonavam a luta, temendo a repressão, o PCP afirmava a sua determinação em resistir e preparou-se para o fazer, orgânica e politicamente. Entre 1935 e 1936, empenhou-se na constituição de uma Frente Popular Antifascista. Apesar de toda esta combatividade, a década de 30 foi particularmente dura para os comunistas e o seu Partido. As prisões sucederam-se a um ritmo avassalador, ceifando organizações, quadros e dirigentes (entre os quais o próprio Secretário-geral, Bento Gonçalves). Uma e outra vez foi preciso recomeçar quase do zero.
Porém, já antes do golpe militar de 28 de Maio de 1926 o PCP compreendia o perigo que a acção dos sectores mais reaccionários da grande burguesia representavam para as liberdades democráticas e a capacidade de organização e luta dos trabalhadores. E apontava à constituição de alianças sociais e políticas capazes de travar o passo ao fascismo: a participação dos comunistas nas eleições parlamentares de finais de 1925, em coligação com a Esquerda Democrática, visou precisamente esse objectivo.
Em Novembro, O Comunista apelava ao voto proletário na «lista popular»: «Teres voto e não votares seria, em outra ocasião, simplesmente idiota: presentemente, em face do perigo eminente dum triunfo da reacção, será, antes de mais nada, fazeres um “frete” – é o termo – ao Capital e ao Estado que nos esmagam (...) numa palavra: ao fascismo (...).»
As primeiras organizações fascistas (a Confederação Patronal, a Cruzada Nun’ Álvares e a União dos Interesses Económicos) tinham surgido em Portugal em 1923 e 1924, inspiradas em Mussolini e Primo de Rivera. A sua influência nunca cessou de se alargar, condicionando decisivamente a acção dos últimos governos da República.
No início de Maio de 1926, nas vésperas do golpe militar, O Comunistaorientava os militantes com medidas concretas de combate ao fascismo, «uma das formas clássicas da contra-revolução social nos períodos da decadência capitalista». A luta travava-se, vibrante, mas revelou-se incapaz de impedir o golpe e a fascização da sociedade: a inexperiência e as dificuldades organizativas com que o Partido então se confrontava, aliadas à recusa dos anarco-sindicalistas em levar a cabo uma acção unitária consequente, explicam-no.
Todas estas insuficiências e erros, assim como os exemplos de dedicação, integram o património de um século do PCP. É com estas lições e exemplos que os comunistas prosseguem hoje a luta contra os projectos reaccionários e fascizantes, a política de direita, o imperialismo – pela liberdade, a democracia e o socialismo.