Quem tem medo de Abril e Maio?

Abril e Maio são sempre meses de grande agi­tação em certos meios de co­mu­ni­cação so­cial, que 46 anos de­pois ainda dão notas de um sau­do­sismo de um tempo em que Abril não sig­ni­fi­cava li­ber­dade e de­mo­cracia, e que em Maio os tra­ba­lha­dores, que em 48 anos de fas­cismo nunca dei­xaram de o as­si­nalar com luta, ti­nham pela frente o sis­te­má­tico e brutal apa­relho de re­pressão fas­cista. Em tempos de surto epi­dé­mico, os ar­gu­mentos podem ser novos mas o des­con­forto e, tantas vezes, o ódio aos va­lores de Abril são já re­quen­tados.

Nos mais re­centes ata­ques a Abril e Maio, foi a co­mu­ni­cação so­cial que as­sumiu a di­an­teira. Basta lem­brar uma das per­guntas que marcou a con­fe­rência de im­prensa após a úl­tima reu­nião do Con­selho de Mi­nis­tros: como é que se ex­plica que não se possam fazer fu­ne­rais e festas de anos, mas que se possa ce­le­brar o 25 de Abril e o 1.º de Maio? Neste caso não foi pre­ciso es­perar pelos co­men­ta­dores para marcar o tom: grande parte da im­prensa, de­pois de se­manas a se­mear o pâ­nico, exa­cer­bando re­a­li­dades e re­pe­tindo até à exaustão o mantra «fi­quem em casa», ditou a linha. Por mais que sejam evi­dentes as di­fe­renças, os riscos de saúde pú­blica que cada ini­ci­a­tiva com­porta, a ra­ci­o­na­li­dade pa­rece ter saído com­ple­ta­mente de cena. As acu­sa­ções de «ir­res­pon­sa­bi­li­dade», de «in­sen­si­bi­li­dade» foram sendo ma­tra­que­adas e, de­pois, re­pe­tidas pelos co­men­ta­dores de ser­viço.

Ao con­trário do que al­guns – res­pon­sá­veis po­lí­ticos e de ór­gãos de co­mu­ni­cação – apa­ren­te­mente en­se­javam, nem um des­ne­ces­sário e des­pro­por­ci­o­nado es­tado de emer­gência sus­pendeu os tra­ba­lhos da As­sem­bleia da Re­pú­blica. Esse, é facto, era um dos de­sejos dos sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios (e, na­tu­ral­mente, com mais alergia aos meses de Abril e Maio) com as­sento no Par­la­mento, com ampla di­fusão me­diá­tica. Ou seja, por de­trás do ataque feroz à sessão so­lene da As­sem­bleia da Re­pú­blica de dia 25 não está senão quem, na co­mu­ni­cação so­cial, tem sau­dades do dia 24.

De igual modo, os mesmos surgem agora a pôr em causa que a data seja as­si­na­lada, ainda que sem a ha­bi­tual di­mensão e ex­pressão por todo o País, de forma a ir ao en­contro das re­co­men­da­ções das au­to­ri­dades de saúde pú­blica. É certo que, ano após ano, não davam mais do que uma pá­lida amostra das múl­ti­plas ac­ções do 1.º de Maio. Mas não é de­mais lem­brar-lhes que antes de Abril, apesar das proi­bi­ções e da re­pressão do fas­cismo, Maio saía à rua. Que o facto de os ór­gãos que já exis­tiam à época não terem re­gisto disso nos seus ar­quivos não seja des­culpa. Basta con­sultar os do Avante! – que estão pú­blicos.

O pro­blema com Abril e Maio não tem nada a ver com a epi­demia ou a saúde pú­blica. Está na mesma razão que leva a ge­ne­ra­li­dade dos jor­nais, das rá­dios e das te­le­vi­sões a ig­norar e ocultar a acção e in­ter­venção do PCP neste pe­ríodo.




Mais artigos de: PCP

PCP prepara XXI Congresso

PCP O XXI Con­gresso do PCP, que se re­a­liza entre 27 e 29 de No­vembro, está a ser pre­pa­rado pelo co­lec­tivo par­ti­dário e nem a ac­tual si­tu­ação que o País atra­vessa o de­verá im­pedir.

No combate à epidemia nem um direito a menos

RE­SISTIR No pas­sado sá­bado, dia 18, o PCP di­na­mizou, nas suas di­versas pla­ta­formas di­gi­tais, uma au­dição pú­blica sob o tema «No com­bate à epi­demia nem um di­reito a menos» que abordou os di­versos pro­blemas en­fren­tados pelos tra­ba­lha­dores nestes tempos com­plexos.

Patrões arrecadam lucros mas sacodem os prejuízos

«Os constantes apelos à unidade nacional não podem servir para esconder ofensivas e injustiças contra os trabalhadores», considera a Comissão Concelhia da Azambuja do PCP, que em comunicado dirigido aos trabalhadores da Sonae, Worten e DHL acusa o Grupo Sonae de usar como pretexro o vírus para negar aumentos salariais...

A 4, 5 e 6 de Setembro lá estaremos, na Festa

PRE­PARAÇÃO Pe­rante os tempos com­plexos e in­certos em que vi­vemos, há quem se in­ter­rogue como será este ano a Festa do Avante!? É a 4, 5 e 6 de Se­tembro, na Quinta da Ata­laia, e já está a ser pre­pa­rada.

Pescadores não querem palavras mas apoio à actividade

«Os homens e mulheres que sempre deram, e dão, tudo de si para assegurar o fornecimento de pescado e produtos da pesca ao País, constituem uma força de trabalho e um sector que têm de ser respeitados, valorizados e protegidos com acções concretas e não apenas com palavras». Esta é a conclusão da Direcção da Organização...

Impedir a destruição do tecido produtivo

«A questão económica que hoje continua a ser a absolutamente central é a resposta à difícil situação económica de milhares de micro, pequenas e médias empresas (MPME) e do tecido produtivo», considera o PCP, que acusa o ministro da Economia de, à «grave situação e ao falhanço e desadequação das suas medidas», responder...

PCP insiste no controlo público da Efacec

Em nota de imprensa divulgada quando se avolumam as notícias que dão conta da possibilidade de nacionalização da Efacec, a Direcção da Organização Regional do Porto (DORP) do PCP realça que o resgate para o universo público da empresa permitiria também defender os postos de trabalho, responder às necessidades mais...

Dar a mão à pequena agricultura

Em Ovar, os pequenos agricultores alertam que o apertado cordão sanitário que os impossibilitou de desenvolver a actividade normal, e a manutenção do encerramento dos mercados municipais de Ovar e Esmoriz conduzindo os consumidores para as grandes superfícies que se mantêm abertas, vão acrescentar dificuldades e podem...