Dedicação revolucionária de António Gervásio é exemplo na luta do seu Partido de sempre
FALECIMENTO «O melhor tributo que podemos prestar a António Gervásio é estarmos à altura da sua dedicação à causa revolucionária do seu Partido», sublinhou Jerónimo de Sousa nas exéquias do ex-dirigente do PCP.
A tudo resistiu e a nada renunciou
O Secretário-geral do Partido falava na homenagem a António Gervásio, falecido na sexta-feira, 10, aos 92 anos, em Montemor-o-Novo. E foi na sua terra que familiares, amigos e camaradas puderam despedir-se do ex-dirigente comunista, cujo corpo esteve em câmara ardente entre as manhãs de sábado e de domingo, antes de ser transportado para Setúbal, onde foi cremado.
Nas primeira palavras na despedida a António Gervásio, em Montemor-o-Novo, Jerónimo de Sousa expressou a «profunda mágoa e tristeza» pela partida de «um homem de grande coragem e uma vida de incansável lutador, inteiramente consagrada aos interesses dos trabalhadores, do povo e do País, à luta contra a ditadura fascista e pela liberdade, à nossa Revolução libertadora de Abril e à defesa das suas conquistas, ao ideal e ao projecto comunista».
«Neste triste e comovido último adeus», reiterou «a mais sentida solidariedade do nosso Partido e do seu colectivo partidário» à família de António Gervásio: «à sua mulher Maria Lourença Cabecinha, sua companheira de sempre, filha desta terra, funcionária do Partido na clandestinidade, prisioneira antifascista, mulher de coragem a quem o nosso Partido muito deve pela sua longa trajectória de militância comunista, ao seu filho, à sua neta e a todos os que por ele sentiam laços de afecto mais próximos e fortes».
Nascido «nesta terra de grandes tradições revolucionárias, António Gervásio era um operário agrícola que cedo conheceu a exploração e dureza da luta pelo pão e a liberdade. Aderiu ao PCP em 1945, aos 18 anos, para entregar toda uma vida de dedicação à causa da emancipação dos trabalhadores e do povo e da luta por uma sociedade nova liberta da exploração». E foi «aqui, nesta terra e concelho» que «começou por participar e dirigir várias lutas, por melhores jornas e contra o desemprego».
«Aos 27 anos, “mergulhou” na clandestinidade, como funcionário do Partido, para realizar tarefas de Norte a Sul do País», destacou ainda Jerónimo de Sousa, que lembrando que António Gervásio foi membro do Comité Central do PCP de 1963 a 2004 e da sua Comissão Executiva entre 1966 e 67, bem como da Comissão Política de 1976 a 1990 e da Comissão Central do Controlo entre 1996 e o ano 2000, recordou que «são enormes e dignas de ser sempre recordadas como exemplo as provas de coragem e firmeza revolucionária de que deu mostras em muitos momentos da sua vida de intrépido combatente em defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores e perante os torcionários da PIDE».
Comportamento exemplar
A nota do Secretariado do Comité Central do PCP publicada no dia da sua morte já o tinha realçado, mas o Secretário-geral do PCP voltou a referir que António Gervásio «foi preso três vezes durante o período da ditadura fascista de Salazar e Caetano – em 1947, 1960 e 1971 –, tendo passado, «no conjunto, cinco anos e meio nas prisões do Aljube, de Caxias e Peniche.
«Nas prisões de 1960 e 1971, António Gervásio foi brutalmente torturado e espancado. Na prisão de 1971 foi impedido de dormir durante 18 dias e 18 noites» e «no seu julgamento na Boa Hora, em Maio de 1961, foi espancado em pleno tribunal por denunciar as torturas da PIDE».
«A tudo resiste e a nada renunciou, como homem de carácter e firmes convicções comunistas», recordou também Jerónimo de Sousa, que aproveitou para chamar à atenção que António Gervásio foi um dos protagonistas da evasão da prisão de Caxias «na célebre e audaciosa fuga no carro blindado de Salazar, com outros dirigentes comunistas, para retomar de imediato o seu posto de combate e a luta do seu Partido e do nosso povo contra a ditadura fascista», não deixando igualmente de chamar à atenção que António Gervásio «estava na prisão do Forte de Peniche quando irrompe a Revolução de Abril», sendo «um dos presos libertados na madrugada de 27 [de Abril de 1974] com a intervenção do destacamento militar, comandado pelo Capitão Machado Santos, também falecido nesta última sexta-feira e perante quem nos inclinamos também, honrando a sua memória neste dia de tristeza e dor para todos nós».
Sem tréguas
«Percorrendo o País de lés a lés, o dirigente revolucionário António Gervásio deu uma valiosa contribuição para erguer e afirmar o PCP como um grande partido nacional. Fê-lo com a sua reconhecida tenacidade e modéstia desinteressada na realização das múltiplas tarefas que o Partido lhe confiou», disse ainda Jerónimo de Sousa.
«Aqui, nos campos do Sul, foi um participante directo e incansável em todo o processo da Reforma Agrária, esse grande sonho de gerações e gerações de proletários agrícolas, que se tornou momentaneamente realidade com a Revolução de Abril, sob a consigna “a terra a quem a trabalha”, com a constituição de Unidades Colectivas de Produção, visando a liquidação do latifúndio que tanta miséria semeou nestes campos de Montemor-o-Novo e no Alentejo». No mesmo Alentejo, continuou o dirigente do Partido, onde havia «desempenhado um relevante papel na organização e condução de pequenas e grandes lutas, nomeadamente nas históricas greves de Maio de 1962 que levaram à conquista das 8 horas pelos trabalhadores dos campos do Alentejo e Ribatejo».
Além de importantes tarefas partidárias, António Gervásio desempenhou importantes funções institucionais, designadamente como «deputado à Assembleia Constituinte, que elaborou a Constituição da República Portuguesa».
«Neste momento de despedida, valorizamos os valiosos testemunhos que nos deixa da sua rica experiência de vida e de luta, nomeadamente o seu mais recente livro, “Histórias da Clandestinidade”, contribuindo para a preservação da memória do que foi o fascismo e de como o PCP enfrentou a repressão e se constituiu como o partido da classe operária e de todos os trabalhadores, e a força dirigente da oposição antifascista», acrescentou o Secretário-geral do PCP, para quem «o exemplo de militante e dirigente do PCP» de António Gervásio «perdurará em todos e em cada um de nós para prosseguirmos a luta de emancipação social que o animou».
Assim, «o melhor tributo que podemos prestar a António Gervásio é estarmos à altura da sua dedicação à causa revolucionária do seu Partido, da sua vontade de honrar os compromissos de vida e de luta e da sua inquebrantável determinação e vontade de fazer sempre mais e melhor para servir a causa justa do seu Partido, com tudo o que ele comporta de aspiração, sonho e projecto por um mundo melhor», concluiu.