Herr Tomás

Manuel Gouveia

Mais uma vez, o Orçamento do Estado não contempla as verbas necessárias à ferrovia portuguesa. O Governo justifica essa falta de investimento com as orientações recebidas da UE, ou seja, da Alemanha. Mas essas orientações que o Governo português segue tão obedientemente são as mesmas que essa Alemanha olimpicamente ignora.

O Governo português continua a recusar a contratação de trabalhadores para a CP e para a EMEF, empurrando-as para a subcontratação, originando sucessivas supressões, degradando a oferta. Noutra União Europeia, a Alemanha anunciou a contratação, até ao final de 2020, de 50 mil (sim, cinquenta mil) trabalhadores para a Deutsche Bahn (DB), a empresa ferroviária pública alemã.

O Governo português continua a adiar a aquisição de comboios. Tem apenas prevista a aquisição de 22 comboios para o serviço regional e para daqui a quatro anos, enquanto que para o serviço urbano da CP e para o Longo Curso nenhum investimento está previsto. Diz o Governo que mandam as regras da UE, que é preciso poupar no investimento. Noutra União Europeia, o Governo alemão anunciou o investimento de 86 mil milhões de euros na DB, nomeadamente com um audacioso programa de investimento em material circulante produzido na Alemanha.

O Governo português continua a manter a separação entre a exploração e a infra-estrutura ferroviária, porque a tal estará obrigado pela União Europeia (processo que o Governo de Passos Coelho só tornou mais cretino quando fundiu a REFER com a EP). Noutra UE, na Alemanha, a DB, além de operar os comboios, gere a infra-estrutura ferroviária, o transporte de mercadorias (por cá já oferecido a uma multinacional suíça) e transporte rodoviário.

Daqui a uns anos, a DB, que já detém 33% da Fertagus, virá com os seus comboios fazer-nos o favor de explorar os sectores lucrativos que a CP está a ser impedida de assegurar. Tal como um frei Tomás neocolonial.

 



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