Auditório 1.º de Maio

Tardes de boa música

Nuno Gomes dos Santos

Diversidade foi o que não faltou nas tardes do Auditório 1.º de Maio, no sábado logo a abrir com os sons do ehru e do suona, instrumentos, respectivamente, da família do violino e do oboé, trazidos pelo Grupo de Artistas da Província de Fujian, na China, que nos deram um espectáculo que misturou marionetas, vozes e danças tradicionais, que deu lugar, depois de aplausos convictos, aos Terra Livre, grupo empenhado, português, amante da ecologia, comunicando com um público dançante e interventivo.

Depois, não indo o Auditório à capela, foi a capela ao Auditório: sete mulheres em palco a dar voz à música tradicional portuguesa, tendo como acompanhamento apenas percussão (bem trabalhada), sete mulheres juntas no projecto Segue-me à Capela. Pouca harmonia de vozes, muito uníssono e tudo a resultar em coisa agradável de se ouvir.

O jazz mostrou-se, nessa tarde, com o Eduardo Cardinho Quarteto e o LiftOff, também quarteto, no primeiro com uma boa combinação de acordeão e vibrafone, no segundo com outra combinação, não menos boa, de vibrafone e piano. Pelo meio actuaram os Warsaw Village Band, um grupo experiente e qualificado, muito do agrado do público, que se deu bem com a tradição temperada com modernidade desta banda polaca.

Joe Hill
e Pete Seeger

Hill's Union abriu a tarde de domingo. Um trio: Pedro Salvador, Rui Alves e Tiago Santos. Propunham-nos um «tributo a Pete Seeger». Tema que nos leva longe: Joe Hill, sueco de nascimento, viveu nos EUA e foi um sindicalista revolucionário. A sua vida e obra (era compositor também) influenciaram muito Pete Seeger, que escreveu uma canção chamada, precisamente, Joe Hill. Melhores razões para redobrarmos a atenção seriam difíceis. Os Hill's Union conquistaram o público, o que não é pouca coisa. Quanto a conseguirem fazer passar a mensagem que lhes está no nome e no anúncio daquilo a que vinham, é outra história. Para Pete Seeger terá sido um ambiente demasiado pesado...

Depois Vítor Rua baralhou o esquema, com os seus Metaphysical Angels, tocando uma música sem género definido, provocadora, e deixando o público entre a hesitação do aplauso e o silêncio. Palmas, e não poucas, ouviram-se quando o músico fez uma dedicatória a Rúben de Carvalho.

A seguir, os Tèada foram do agrado de todos, com a sua música irlandesa tradicional e, para acabar a tarde, o quarteto de César Cardoso com o seu convidado Julian Arguelles, seria a concretização da promessa de umas excelentes últimas notas antes do comício.


À noite no Auditório

Jon Luz é um velho amigo da Festa! Foi isso mesmo que veio dizer ao público que se foi juntando no espaço do Auditório 1.º de Maio. A noite de música africana na Festa estava inaugurada da melhor maneira. O cantor de Tenho Uma Lágrima ao Canto do Olho viria a seguir. Bonga trouxe a belíssima música angolana à Festa e o público correspondeu, dançando do início ao fim do memorável espectáculo. A noite encerrou com Liliana Almeida, Kimi Djabate e Rolando Semedo, que é o mesmo que dizer Semba, Gumbé e Coladeira. Vozes e instrumentos num casamento sonoro entre o acústico e o elétrico, a dança a juntar artistas e público num grande espaço de celebração da música africana.

Celina da Piedade, que traz o Alentejo na voz e na concertina, trouxe com ela as Vozes de Cante e João Gil, o músico cuja carreira tem a idade da Festa. Vozes e instrumentos em modas do campo e da cidade, umas dadas a saber, outras sabidas já pela muita gente que se lhes juntou em coro.

O Delvon Lamarr Organ Trio trouxe à Festa a música dos EUA. Três músicos guiando o público da Festa por muitos dos géneros da música norte-americana.

Omiri entra sozinho em palco, mas rodeado de gente. É que, enquanto no ecrã vão correndo registos de artistas populares, Vasco Ribeiro Casais constrói, ao vivo, teias sonoras que se fundem naqueles sons. Desta vez trouxe consigo Celina da Piedade!

A voz e a guitarra bastariam para que Mafalda Veiga enchesse o palco do Auditório. Mas trouxe mais: um conjunto de excelentes músicos e ainda Ana Bacalhau. Espalhou canções e recebeu-as de volta num coro de mil vozes.

É Algazarra e é Kumpania. O pó que se levantou do terreiro, acrescentando um «efeito especial» à festa, revelou que a Festa é o lugar da Kumpania Algazarra.

O Fado de Lisboa encerrou 2019 do Auditório 1.º de Maio. Joana Amendoeira primeiro, trazendo na voz poderosa e terna os Fados de Ary dos Santos. A seguir, a voz (a arte) de Teresinha Landeiro, um nome de valor a juntar-se ao elenco da Festa. Pedro Moutinho encerrou a última noite do Auditório, deixando no ar fados de Um Fado Ao Contrário e outras composições. O público não tinha pressa de sair, sabedor de que amanhã, ali, será só em Setembro de 2020.


Galeria:



Mais artigos de: Festa do Avante!

Uma Festa única ano após ano

À 43.ª edição, a Festa do Avante! continua a ser como a caracterizou Álvaro Cunhal em 1976: «a maior, a mais extraordinária, a mais entusiástica, a mais fraternal e humana, realizada no nosso País.» E, se assim é, é devido à forma – militante, dedicada, abnegada – como é construída e mantida a...

Mobilização e participação na Festa e na batalha das legislativas

Permitam-me que partilhe convosco um sentimento e uma reflexão. Num tempo em que ressurgem as vozes e os vaticínios do costume, num tempo em que se lança a ideia de que já não se usa a mobilização e a participação política em iniciativas e comícios, seja em campanha eleitoral, seja na vida...

Comício grandioso como são a Festa e o Partido

Empolgante, sublime, galvanizador - assim foi o comício da Festa. Não há outra forma de o descrever ou caracterizar. O que ali se viveu e foi partilhado pelos muitos e muitos mil que encheram o recinto tangente ao palco 25 de Abril e espaços adjacentes foi uma exaltante expressão de confiança...

Ideais, convicções, coragem e uma imensa confiança

É com imensa alegria que saudamos todos os construtores da Festa do Avante!, participantes e convidados, os nossos amigos do Partido Ecologista «Os Verdes» e da Intervenção Democrática, e os independentes que connosco integram a CDU. Saudação especial à juventude e à JCP, que tanto na...

Sublime expressão do ideal e projecto comunistas

Quarenta e três anos depois da sua primeira edição, a Festa do Avante!, Festa do Portugal de Abril, aqui está afirmando-se, cada ano, sempre diferente, sempre bonita, sempre nova, reflectindo assim a identidade do Partido Comunista Português. A Festa do Avante! – sublime expressão do ideal e...

Não aceitamos impossíveis! Inevitável é o nosso projecto

Viva a Festa do Avante! Quem quiser saber por que luta o PCP e a JCP tem aqui a mais transparente demonstração. Não aceitamos impossíveis! É pelo sonho, pelo ideal, pelo projecto que lá vamos! Esta nossa Festa do Avante! é a Festa onde, passados 45 anos, se sentem vivos os valores da...

«A cortiça quando nasce é de todos!»

O maior acontecimento político-cultural realizado anualmente em Portugal, a nossa Festa do Avante!, concedeu este ano lugar de relevo, no Pavilhão Central, à cortiça e com ela às lutas de todos os trabalhadores do sector, sempre com o apoio firme do PCP. Percorrendo os 31 painéis da exposição...

Portugal e o resto do Mundo vistos pelo Cinema

Pelas sessões contínuas do CineAvante! passou um cinema que olhou Portugal e o resto do mundo, com expressões artísticas plurais. Manteve-se a aposta nos filmes portugueses de raízes populares e desafios estéticos que muitas vezes não chegam aos espectadores. No contexto dos 45 anos do 25 de...

Um Partido imprescindível no Abril de ontem e do futuro

Exposições, fórum, auditório, imprensa, arte, cinema, loja, bar, esplanada e zonas cobertas e a proximidade ao Espaço Criança, às sombras naturais e à varanda sobre o rio e o casario, são atributos que fazem do Espaço Central o local privilegiado para melhor conhecer o Partido e, dá-lo a...

Projectar no futuro a luta do presente para fazer avançar o País

«Valorizar o trabalho e os trabalhadores. Aumento dos salários, emergência nacional» foi a reflexão trazida, sábado à tarde, ao Fórum. Na mesa estiveram Francisco Lopes, João Dias Coelho, João Torres (respectivamente do Secretariado, Comissão Política e Comité Central), Maria Almeida, da...

Prioridade ao valor artístico

Na XXI Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante! estavam expostas setenta e oito obras seleccionadas entre quase duzentas e cinquenta. Actualmente as artes visuais abrangem um amplo espectro. Pintura, gravura, desenho, fotografia, assemblage, escultura, instalações, outras técnicas...

10 palavras revolucionárias que definem os espectáculos

Para este texto poderia haver uma discutível abordagem, ao estilo “crítico musical”, para concluir: foi o melhor conjunto de espectáculos dos últimos anos na Atalaia. Mas há coisas para dizer, bem mais importantes do que isso.   Camaradagem O público salva, domingo, o espectáculo de Silvia...

«Tenho tanto orgulho no nosso partido!»

Maria, Teresa e Joana entram, sexta-feira à noite, no largo círculo relvado que serve de plateia ao Palco 25 de Abril, meia-hora antes de começar o concerto sinfónico «Do Romantismo ao Modernismo». Joana carrega umas cadeiras brancas, de plástico, «roubadas» não sei onde. Teresa traz uma...

A tradição avança com o mundo

O Palco Raízes substitui, a partir deste ano, o Palco Arraial, mas a música e as danças tradicionais, etnográficas e folclóricas mantêm, ali, a dignidade e visibilidade que inquestionavelmente merecem e que a Festa do Avante! sempre lhes concedeu. Mais do que uma mera alteração de designação,...

Sê livre, sê feliz

Os 20 anos da Estratégia Nacional de Luta contra a Droga e a actualidade da problemática envolvida motivaram a escolha do tema que este ano foi posto à reflexão dos visitantes: Adicções e Dependências. «Avó, adiccção não está mal escrito?» Não há nada como a curiosidade das crianças para ir...

Um mundo solidário

A Festa do Avante! é, em todas as edições, um mundo de solidariedade e fraternidade, de alegria e convívio, de cultura. No Espaço Internacional, esse ambiente singular é marcado também pela presença de dezenas de delegações e stands de partidos comunistas e operários e de outras organizações....

Expressão de solidariedade internacionalista

As 57 delegações de partidos comunistas e operários e forças progressistas, de 43 países, que participaram nesta edição da Festa do Avante! fizeram dela, mais uma vez, uma poderosa expressão de solidariedade internacionalista. Os delegados internacionais visitaram a Festa e participaram em...

Grande Corrida engrandeceu a Festa do Desporto

Joana Fonseca (individual) e Nelson Cruz (Clube Pedro Pessoa) foram os mais rápidos a cobrir os 11 000 metros da Corrida da Festa, disputada na manhã de domingo. Aos lugares secundários do pódio subiram Mariam Martins (ind.) e Helena Miranda (Belenenses) e, em masculinos, João Mota (Clube...

Irreverência, agitação e confiança no futuro

A Festa do Avante! acolheu, uma vez mais, a Cidade da Juventude. Erguida a pulso pelos jovens comunistas e muitos outros jovens amigos da JPC e da Festa nos últimos meses, a Cidade apresentou-se mais colorida e irreverente, revelando-se capaz de agitar os milhares que por lá passaram durante...

Local de sonhos e alegria

A Festa do Avante deste ano foi novamente um lugar de confraternização para todas as idades. Com acessos facilitados para quem vinha acompanhado de crianças pequenas, o Espaço Criança foi uma vez mais procurado para o convívio familiar, tornando-se um lugar de alegria e brincadeira. Nestes...

A Festa exige um País a avançar

Às primeiras notas da Carvalhesa, jovens e menos jovens saltam das mesas para dançar a música que é já um hino da Festa. O impulso para deixar para segundo plano os êxtases do palato repetiu-se mais do que uma vez,...

Lugar de encontro de memórias onde a verdade liberta

O Avanteatro voltou a apresentar uma diversidade de espectáculos de qualidade por grupos de todo o País. As manhãs de sábado e domingo foram dedicadas aos mais novos, houve espectáculos no exterior, música, cinema, debateu-se a criação e a fruição culturais e um espectáculo surpreendente de...

Conhecer e reflectir para transformar

A grande, e profícua, jornada de apresentações de novos livros no renovado espaço da Festa do Livro, começou com um texto que Jorge Cordeiro considerou imperdível: Um Perigoso Leitor de Jornais, de Carlos Tomé. O conteúdo deste livro foi pormenorizadamente analisado por Manuela Bernardino. A...

Olh’ó Avante!, ouviu-se na Atalaia

No sábado ao final da tarde foram muitos os que adquiriram a edição especial do Avante!, exclusiva para a Festa, vendida por todo o recinto. Para além da reportagem e de fotos do primeiro dia da Festa do Avante!, o jornal continha ainda artigos sobre a situação internacional, as eleições...

Os fotógrafos da Festa

Ana Ferreira Ana Martins Ângela Bordalo Fernando Teixeira Hernâni Abrantes Jacinto Oliveira Jaime Carita Jorge Caria José Coelho Luís Duarte Clara Manuel Pinto Jorge Mário Saldanha Miguel Mestre Nuno Lopes Nuno Trindade Paulo Oliveira...