Sê livre, sê feliz
Os 20 anos da Estratégia Nacional de Luta contra a Droga e a actualidade da problemática envolvida motivaram a escolha do tema que este ano foi posto à reflexão dos visitantes: Adicções e Dependências.
«Avó, adiccção não está mal escrito?» Não há nada como a curiosidade das crianças para ir ao cerne da questão. Pois é, adição e adicção não são propriamente a mesma coisa, e isso mesmo aprendeu quem passou pelo Espaço Ciência, ficando a saber que «adicção» é a forma usada para denotar o estado de dependência física e psíquica.
Como diria Lénine, aprender, aprender, aprender sempre!
Neste caso a lição começava logo à entrada, com a mensagem Age e sê livre. A passagem pelos diferentes painéise módulosda exposição levava-nos por uma viagem no tempo, dando uma perspectiva histórica não só do uso de substâncias susceptíveis de criar dependência (drogas, tabaco, medicamento, etc.), como também da forma como a sociedade foi percepcionando o seu consumo e como o desenvolvimento tecnológico trouxe novas dependências sem substâncias químicas.
Neste complexo mundo das adicções e dependências nomes há que aparecem com frequência. É o caso de dopamina e serotonina. Conhecida como a «molécula da motivação», a primeira é uma substância química que promove sentimentos de prazer, motivação e recompensa; já a serotonina, também chamada a «molécula da felicidade», é uma substância química que nos faz sentir bem, confiantes e positivos. Ambas são produzidas naturalmente pelo organismo humano, mas quando os seus níveis baixam por doença ou por qualquer outro motivo podem ocorrer situações de tristeza, de depressão, de infelicidade. O recurso a drogas ou comportamentos adictivos para obter a sensação de bem-estar que estas duas moléculas produzem naturalmente é a tentação a que muitos não conseguem resistir. Ceder é o primeiro passo para um doloroso percurso que afecta não só o próprio como toda a sociedade.
Debater e passar a mensagem
As implicações das dependências na vida familiar, profissional e social estiveram no cerne dos quatro debates realizados no Espaço Ciência, em que participaram a nível pessoal ou institucional entidades ligadas a organismos que intervêm no combate às adicções e dependências, e/ou desenvolvem actividade relacionadas com este universo.
Do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) à Santa Casa da Misericórdia, passando pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses ou pela Ordem dos Farmacêuticos, especialistas em diversas matérias relacionadas com o tema, professores, deputados, prenderam a atenção de um auditório interessado e participativo.
Ali se falou da estratégia nacional de luta contra a droga, graças à qual Portugal apresenta dos números mais baixos relacionados com drogas e dos menores números de consumo problemático no espaço europeu, dos novos desafios com as novas drogas e outras dependências como a da Internet e a do álcool; as adicções sem substâncias, como é o caso dos jogos, designadamente o jogo online; as possibilidades ainda por explorar de utilização dos telemóveis individuais no processo pedagógico, tendo em conta que um aparelho desses, hoje tão comuns, dispõe de mais tecnologia do que a que levou o homem à Lua...; a investigação no âmbito da toxicologia forense, alteração de comportamentos, avaliação de condutas, etc., etc., etc., em que seria fundamental, como foi sinalizado, a existência de um organismo de ligação entre as diferentes entidades que actuam na prevenção e combate às dependências.
Por outro lado...
«Dependências? Não, obrigado!» não é exctamente o mesmo que dizer «Drogas? Não, obrigado!». Drogas são os medicamentos que todos tomamos e graças aos quais a esperança de vida caminha para os 100 anos e a qualidade de vida é possível mesmo na doença, como foi lembrado no último debate do Espaço Ciência, numa nota optimista digna de registo.
E porque, como alguém também sublinhou, a ciência tem ideologia, neste espaço privilegiado de troca e aquisição de conhecimentos houve ainda tempo para lembrar a grande conquista que foi a introdução de medicamentos genéricos, pondo à disposição de todos, com garantia de qualidade, o que no passado só estava acessível a certas bolsas e onerava o Estado em favor de interesses privados.
As crianças não foram esquecidas. Quem por ali passou e teve olhos para ver e ouvidos para ouvir cresceu em conhecimento. «Afinal, o que é a luz?» Muitos já sabem. E vocês?