As comemorações terminaram os ideais de Outubro continuam
CENTENÁRIO O programa central do PCP de comemorações do centenário da Revolução de Outubro, que decorreu ao longo deste ano, terminou no sábado, 9, numa magnífica sessão política e cultural realizada no célebre teatro portuense Rivoli, em que participou o Secretário-geral Jerónimo de Sousa.
O programa de comemorações terminou da melhor forma
«Comemorámos Outubro reafirmando a determinação inabalável do PCP de lutar para que o socialismo se torne uma realidade do amanhã do povo português. Saímos destas comemorações mais fortalecidos, mais conhecedores e mais convictos da justeza da nossa luta.» Estas palavras, proferidas por Jerónimo de Sousa quase no final do discurso com que encerrou a sessão do passado sábado no Porto, expressam na perfeição o espírito que presidiu às comemorações realizadas ao longo do ano.
Nas múltiplas sessões públicas e debates temáticos, em livros, artigos e exposições, no seminário de dia 17 de Junho na Faculdade de Letras de Lisboa e no grande comício do Coliseu de Lisboa de 7 de Novembro, deu-se a conhecer as grandes conquistas da Revolução e o seu impacto internacional, denunciou-se a natureza exploradora, predadora e opressora do capitalismo, destacou-se a superioridade do socialismo e afirmou-se o projecto comunista para Portugal, de que o PCP é portador e protagonista. Quem de alguma forma tomou contacto com estas comemorações ficou mais convicto de que o socialismo e o comunismo são o futuro da Humanidade e que estes se constroem com a acção e a luta dos trabalhadores e dos povos.
Na tarde de sábado, num Rivoli transbordante, estiveram presentes todas estas dimensões, sobretudo na intervenção do Secretário-geral do Partido, que transcrevemos na íntegra nas páginas seguintes. A elas aliaram-se outras, presenças assíduas não só nas comemorações realizadas este ano como na própria luta revolucionária mesmo desde antes desse Outubro libertador: a arte, e em particular a música, da qual Fernando Lopes-Graça disse um dia ser o veículo supremo para que a «poesia de fundo popular e de projecção colectiva» viva verdadeiramente e aja a fundo sobre a sensibilidade, estimulando à acção.
Para o compositor, citado pela voz-off que apresentou a sessão, é precisamente isto «que se pode verificar através de toda a História nos períodos em que as consciências se acham abaladas e os homens sentem a necessidade de comungar e de se fortalecer num mesmo ideal.»
Música de combate
E foi precisamente essa música que passou pelo palco do Rivoli. Música de exaltação, de combate, de sonho, cantada e reinventada por revolucionários de todo o mundo. Música de diversas proveniências e diferentes estilos, mas que há muito acompanham a luta dos trabalhadores e dos povos pela sua libertação e emancipação. Música que é, ela própria, mobilizadora e impulsionadora de múltiplos e exaltantes combates de classe de ontem, de hoje e seguramente também de amanhã.
Antes mesmo de os músicos subirem ao palco sooaram na aparelhagem do Rivoli o terceiro e quarto andamentos da obra de Dmitri Shostakovitch O Ano de 1917, respectivamente O Cruzador Aurora e A Alvorada da Humanidade. O momento era então de bailado, com Júlio Cerdeira – acompanhado por Adriano Cerdeira – a apresentar uma expressiva coreografia da sinfonia, representando com mestria tanto os momentos de tensão e de conflito como os de exaltação e festa. No final da sua emocionante interpretação – que envolveu lanternas e pós vermelhos a voar – Júlio Cerdeira mostrou dançando como o surgimento do novo, sendo difícil, é sempre belo e glorioso.
A seguir foi a vez da Orquestra Ligeira de São Pedro da Cova assumir o protagonismo, interpretando a versão de Katiuska do espanhol Pablo Sorozábal e uma rapsódia de temas tradicionais russos, entre os quais sobressaiu a célebre Kalinka, que entusiasmou a plateia. À orquestra juntaram-se depois um acordeonista, dois guitarristas e os sete membros do Coro Uma Vontade de Música.
Foi, pois, com o palco cheio que soaram os primeiros acordes do Coro dos Girondinos, canção revolucionária popularizada durante as revoluções que abalaram a Europa em 1848 e entoada pelos operários nas barricadas de Paris. Nos combates travados na capital francesa pouco mais de 20 anos depois, em 1871, esteve Eugéne Pottier, autor do mais famoso hino revolucionário da história, que é também o do PCP, A Internacional, a canção que se seguiu: aí, orquestra e demais músicos e cantores tiveram a ajuda das centenas de pessoas que enchiam por completo a plateia e o balcão do Rivoli.
A seguir, A l’appel de Lenine levou o público de volta para a Rússia revolucionária e para o combate à restauração capitalista e à agressão estrangeira, finalmente derrotadas em 1921. Daí passou-se de imediato para a Itália da Segunda Guerra Mundial, do combate sem tréguas contra o fascismo interno e o nazismo ocupante, por um país livre, socialista, com Bandiera Rossa.
Canção do Camponês, poema de Arquimedes da Silva Santos e música de Lopes-Graça, foi o tema seguinte, remetendo para o Alentejo e as heroicas lutas dos operários agrícolas pelas oito horas, em 1962, e pela construção da Reforma Agrária, após a Revolução. O programa musical terminou com o Hino do Komintern, de Hans Eisler, com letra adaptada por José António Gomes, que se juntou ao coro.
Poesia, filme
e apoteótico final
Para além da música, também a poesia – igualmente presente camarada de luta – marcou presença no Rivoli. Gisela Loureiro, um dos elementos do Coro Uma Vontade de Música, declamou um excerto do poema de Maiakovsky escrito por ocasião da morte do brilhante revolucionário e guia da Revolução de Outubro: nas inspiradas linhas do poeta, e na vida, como a história veio a comprovar, Lénine estava – e está – «mais vivo do que os vivos», pois é «o nosso saber, a nossa força, a nossa arma»!
Outro poeta comunista, José Carlos Ary dos Santos, foi também homenageado, dois dias após se ter celebrado o seu 80.º aniversário: em vídeo, foi o próprio Ary a declamar A Bandeira Comunista, a mesma que, ontem como hoje, «subirá sempre mais alto» quaisquer que sejam os desafios e os adversários.
No filme projectado na grande tela instalada no fundo do palco destaca-se, ao som do hino da União Soviética, as grandes conquistas da Revolução de Outubro e a inserção deste marcante acontecimento na marcha da humanidade explorada rumo à sua libertação. A vitória sobre o nazi-fascismo, a queda do sistema colonial, os avanços políticos, económicos, sociais e culturais alcançados pelos trabalhadores de todo o mundo e as múltiplas revoluções realizadas foram aspectos sublinhados no filme.
A terminar, após a intervenção do Secretário-geral, os músicos voltaram ao palco para, com as centenas de militantes e simpatizantes comunistas presentes, interpretar os hinos sempre entoados nas iniciativas do PCP – Avante, Camarada, A Internacional e A Portuguesa.