«Pronto, enganei-me!»

As redacções andaram em polvorosa nos dias que antecederam a divulgação da estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a evolução da economia. Não tanto por um nervosismo suscitado pela expectativa de conhecer os dados em si, mas com as sucessivas previsões do que diria a previsão do INE. Confuso?

Na manhã do dia anterior à divulgação dos dados pelo INE, a Lusa fez um resumo de toda a variedade de previsões sobre o crescimento da economia portuguesa no terceiro trimestre que tanta tinta fizeram correr por esses dias na nossa imprensa. Os economistas da Universidade Católica apontavam para 0,2 por cento, os do BPI diziam que podia chegar aos 0,3 por cento – uma marca que tanto os especialistas do Montepio como os do BBVA garantiam possível. No ISEG falava-se em 0,5 por cento – «optimistas!», clamavam os mediadores de serviço.

A verdade é que a previsão que conta (a do INE), apontou para um crescimento do Produto Interno Bruto de 0,8 por cento. Não sendo este o espaço para analisar ou avaliar o que os dados do crescimento económico significam por si, importa notar o que sobre eles se escreveu e disse. Por não baterem certo com a realidade ensaiada (ou desejada), criaram um problema de pronto resolvido: retirando destaque à notícia, ao contrário do que tinham feito com as previsões da notícia.

Vale a pena lembrar que, por exemplo, no caso da Católica, esta já não é a primeira vez que a previsão falha. Mas se o falhanço da previsão não prova a intenção de manipular, uma análise mais apurada dos números já o faz pensar. Enquanto durante o ano de 2015 todas as previsões apontaram para acima (e por vezes muito acima) do crescimento verificado pelo INE, desde o início do ano que a Católica vem apontando para baixo, sempre para baixo – entre 0,1 por cento nos primeiros dois trimestres e 0,2 por cento no terceiro, quando o INE aponta para 0,3 por cento e 0,8 por cento nos mesmos períodos. Um erro cujo sentido foi acompanhando a alteração da situação política nacional.

Dados que permitem fazer títulos como «PIB terá subido 0,3 por cento», que não são mais que uma manipulação da realidade para que bata certo com a história montada pelos comentadores de serviço. Como já estamos habituados, aliás, com a utilização das sondagens como mecanismo de manipulação massiva da opinião pública.

Não raras vezes, ocupa-se mais páginas e minutos de antena com as previsões, antecipações ou comentário do que será, ou do que se espera que seja, comparado com o tempo dedicado à função de informar. Ainda que, recorrentemente, as notícias de véspera não batam certo com os factos. Os discursos que adivinhavam um desastre económico, que aí viria com a reposição de direitos e rendimentos, continuam à procura de razões que o sustentem. E até a venda dos F-16 à Roménia serve para desvalorizar os dados do INE.

Mas por vezes o choque com a realidade é de tal ordem que até leva João Duque, economista, ex-presidente do ISEG e comentador, a reconhecer no título da sua última crónica no Expresso: «Pronto, enganei-me!»




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