Mais pobreza e desigualdade
A propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinalou a 17 de Outubro, a CGTP-IN alertou para «a agudização das situações de pobreza ou exclusão social na Europa», nomeadamente nos países submetidos aos ditames da troika, onde foram aplicados «verdadeiros programas de empobrecimento dos trabalhadores e dos pensionistas».
No documento divulgado a propósito, a Inter afirma que Portugal «tem um problema grave e persistente de pobreza», encontrando-se «há mais de dez anos entre os países com a mais alta taxa de risco de pobreza e exclusão social», e que a situação se agravou com a política de direita levada a cabo pelo Governo PSD/CDS. Os dados divulgados pelo Eurostat são reveladores: em 2014, a taxa de risco de pobreza ou exclusão social atingia os 2,9 milhões pessoas, 27,5 por cento da população.
Com base neste dados, a CGTP-IN destaca o aumento de 3,7 por cento no índice de pobreza entre as crianças e os jovens menores de idade, entre 2010 e 2014, fixando-se nos 31,4 por cento. Isto «significa que praticamente uma em cada três crianças portuguesas é pobre, em consequência da manutenção do desemprego em níveis inadmissíveis e dos baixos salários dos pais. Quase um quarto das famílias com crianças vive abaixo do limiar da pobreza, percentagem que atinge os 40 por cento no caso das famílias monoparentais», sublinha o texto.
No caso dos idosos e pensionistas, a situação de pobreza ou exclusão atinge os 21 por cento, o que evidencia que os seus rendimentos «continuam a ser manifestamente insuficientes para garantir uma vida digna».
Empobrecimento da população activa
Entre os trabalhadores, a taxa de pobreza e exclusão social conheceu um aumento substancial, nomeadamente entre os desempregados (situa-se nos 60 por cento) e os trabalhadores por conta de outrem (12,4 por cento em 2014, face a 10,7 por cento em 2010), afectados que são, estes, pela redução dos salários, os salários em atraso, o trabalho a tempo parcial (mais de 800 mil trabalhadores, incluindo os que estão em subemprego) e a precariedade – que atinge mais de 80 por cento de todos os contratos de trabalho formados entre Outubro de 2013 e Agosto de 2015, explica o documento.
A Intersindical salienta o facto de 700 mil trabalhadores auferirem o salário mínimo nacional – que, apesar do aumento para 505 euros, em termos líquidos continua pouco acima do limiar da pobreza – e de o rendimento líquido de 1,2 milhões de trabalhadores ser inferior a 600 euros por mês. Estes números são demonstrativos da situação inadmissível que é «haver muitas centenas de milhares de trabalhadores que, trabalhando, estão a empobrecer», critica a CGTP-IN, sublinhando de igual forma, mais uma vez, o facto de a «actual insuficiência do sistema de protecção social no desemprego deixar mais de metade dos desempregados sem qualquer rendimento».
Agravamento da desigualdade
Depois de afirmar que, ao contrário do que é propalado pelo Governo PSD/CDS, «os mais desfavorecidos não foram protegidos das medidas de exploração, tendo sido precisamente a camada mais pobre da população (10 por cento mais pobres) aquela que maior penalização sofreu no rendimento», o documento destaca que, «enquanto a maioria empobrece, uma minoria enriquece». E prossegue: «o aumento das disparidades na distribuição do rendimento confirma Portugal como um dos países mais desiguais da União Europeia (UE)».
O Índice de Gini (indicador que avalia o nível de concentração do rendimento – mais alto quanto maior for a desigualdade) é dos mais elevados de toda a UE, explica o documento, sendo que «os 10 por cento mais ricos ganharam, em 2013, 11,1 vezes mais do que os 10 por cento mais pobres», e essa diferença não tem parado de crescer.
Considerando a repartição do rendimento entre o trabalho e o capital, a Intersindical chega à conclusão de que esta se tornou cada vez mais desigual desde que o Governo PSD/CDS entrou em funções: o que vai para ordenados e salários passou de 36,1 por cento em 2011 para 34,5 por cento em 2014; em contrapartida, os lucros passaram de 41,6 por cento em 2011 para 43,3 por cento em 2014. E acrescenta: «Neste período, em que o Produto Interno Bruto desceu cerca de 3,9 mil milhões de euros, os ordenados e salários perderam 3,1 mil milhões de euros, mas a parte do capital aumentou mais de 1,7 mil milhões de euros.»
Acabar com a política de direita
«O aprofundamento das desigualdades sociais e o aumento da pobreza e da exclusão social são indissociáveis da política de direita, que beneficia o grande patronato e as grandes empresas, garantindo-lhes as condições para acentuar a exploração, e apropriar-se de uma parte cada vez maior da riqueza criada pelos trabalhadores, ao mesmo tempo que milhões são deixados na miséria», explica a CGTP-IN, afirmando ser tempo de pôr termo ao Governo PSD/CDS e à política de direita, e ser hora de assumir uma política alternativa que promova um verdadeiro combate à pobreza e valorize o trabalho e os trabalhadores.
A CGTP-IN reivindica
Aumento real dos salários em 2016 em, pelo menos, 4 por cento e acréscimo salarial não inferior a 40 euros/mês; actualização do SMN em 600 euros no início de 2016; reposição imediata de todos os salários, subsídios e pensões roubados desde 2011; alterações na legislação de trabalho no sentido do progresso social e do reforço dos direitos; efectivação do direito de contratação colectiva consagrado na Constituição; actualização dos montantes de todas as pensões e do Indexante dos Apoios Sociais e actualização e melhoria das prestações da Segurança Social em geral; melhoria do regime de protecção social no desemprego; alteração da legislação da condição de recursos, nomeadamente no que respeita ao conceito de agregado familiar e ao método de capitação, para facilitar o acesso às prestações não contributivas e outros apoios sociais; reforço geral das funções sociais do Estado em recursos humanos, técnicos e financeiros.