O caos das urgências
Faz hoje uma semana, no dia seguinte à declaração política do PCP onde o tema da saúde estivera em destaque, a deputada comunista Carla Cruz voltaria a contestar a ideia segundo a qual a situação caótica nas urgências tem natureza «pontual», como afirma o ministro da Saúde e o Governo. «É mentira, senhor ministro», asseverou, categórica, sublinhando que a «situação é recorrente» quer nos hospitais quer nos centros de saúde e o Governo «sabia-o há muito, pelo menos há um ano».
«Há muito tempo que o caos está instalado nos serviços de urgência dos hospitais, que os utentes esperam horas demais para serem atendidos», sublinhou a deputada comunista nesse debate de actualidade sobre o tema suscitado pelo PS.
Na origem do problema, além da falta de profissionais, está o encerramento de serviços, apontou Carla Cruz, lembrando que mais de 60 por cento das situações que desembocam nas urgências poderiam ser resolvidas pelos cuidados de saúde primários. E só não o são, sustentou, porque em vez de «apostar neste nível de resposta», o Governo encerra «serviços de proximidade, extensões de serviços de saúde, serviços de atendimento permanente».
Também a justificação da «falta de médicos» dada por Paulo Macedo caiu por terra, com Carla Cruz a lembrar-lhe que é «por opção política deste Governo e pelas medidas que este e os seus antecessores tomaram que muitos profissionais foram levados a abandonar precocemente o SNS».
A deputada comunista afirmou ainda não ver qualquer razão para a estupefacção do ministro por empresas de trabalho temporário não estarem a cumprir com as suas obrigações para com os profissionais com os quais tinham contrato. Pela razão simples, observou, de que o titular da pasta da Saúde conhecia o problema, uma vez que foram várias as perguntas que o PCP lhe endereçou relatando situações concretas de incumprimento dos contratos pelas empresas de trabalho temporário, como aconteceu nos hospitais da Póvoa do Varzim ou de Barcelos, ou em centros de saúde como o de Estremoz.
Severamente criticado pela sua política de desinvestimento e de ataque ao SNS, sobre o Governo recaiu ainda a acusação de transferir para os privados a prestação de cuidados de saúde. A comprová-lo estão os cortes de 2,3 mil milhões de euros nos últimos quatro anos ao SNS, a que se junta mais um corte de 100 milhões de euros em 2015. Ao mesmo tempo, continua o favorecimento aos privados. Se em 2012 os hospitais públicos atenderam menos 4,8 por cento dos episódios de urgência do que em 2010, já os hospitais privados, no mesmo período, realizaram 6,5 por cento do total dos atendimentos, o que perfaz um aumento neste sector de 11,6 por cento.
E por todas estas razões Carla Cruz não hesitou em concluir que a política de saúde do Governo pode «satisfazer os interesses dos privados mas está a condenar à morte antecipada de milhares de portugueses».