Quem trabalha ou se desloca ao Centro de Trabalho Soeiro Pereira Gomes (SPG), em Lisboa, habituou-se, nos últimos meses, à sua presença quase diária. Vestida de jardineiras à frente do painel que decora a fachada da sede do Partido Comunista Português, Inês Levezinho Salgueiro, por vezes acompanhada por um ajudante, restaurava aquela obra rara, senão mesmo única em Portugal, e expressão da liberdade conquistada com a Revolução de Abril.

Agora que terminaram os trabalhos de restauro, menos absorta pela tarefa mas com a mesma simpatia com que respondia aos bons-dias, Inês Salgueiro relatou ao Avante! ter-se sido um «desafio bastante interessante». Do ponto de visto técnico, tratando-se de uma composição de materiais cerâmicos e em pedra sobre betão armado, obrigou a substituir os azulejos que se destacaram ou partiram em resultado do processo natural de corrosão, explicou.

Ora a substituição de «azulejos monocromáticos, feitos em série em fábricas que já não existem» e impossíveis de reproduzir industrialmente nas unidades existentes – pois estas «já não usam os mesmos materiais ou as mesmas cores» – obrigou a procurar «um ceramista, que fez manualmente as peças com o mesmo tipo de material e a mesma cor, incluindo azulejos de autor, o que apresentou um desafio acrescido» na medida em que obrigou a artista e o ceramista a «perceber a intenção do autor» de uma determinada fracção da composição.

«Tudo isto levou a que o restauro se prolongasse», concluiu Inês Salgueiro, para quem a extensão do trabalho no tempo não foi um problema, não só porque, como realçou, foi «muito bem recebida por todos os camaradas», mas também porque manteve contacto com «uma obra que foi uma feliz surpresa» quando, ao início, soube ter sido concretizada conjugando a criatividade, estilo e trabalho de tantos artistas.

Inaugurado em 1978, o mural da fachada da SPG contou com trabalhos de 39 artistas, entre os quais uma escultura de José Dias Coelho, assassinado pela PIDE a 19 de Dezembro de 1961. Rogério Ribeiro coordenou o projecto e uniformizou as fracções de cada artista, divididas em dois blocos de 16,35 metros e 13,10 metros por 2,27 metros, respectivamente.

Para além de obras de José Dias Coelho e Rogério Ribeiro, o painel integra obras de Américo Moura, Aníbal Alves, António Domingues, António Trindade, Armando Alves, Casquilho, Cipriano Dourado, Fernando Oliveira, Gil Teixeira Lopes, Henrique Ruivo, Hilário Teixeira Lopes, Isabel Sabino, Jaime Cenoura, João Vieira, Jorge Trindade, Jorge Vieira, José António Flores, Lebroto, Lobato, Lurdes Freitas, Manuel Augusto Araújo, Manuel Jorge, Manuel Moura, Maria Barreira, Maria Isabel Cabral, Matos Simões, Maurício Penha, Navarro Hogan, Pilo, Querubim Lapa, Reinaldo, Rodrigo, Rogério Amaral, Rui Anahory, Teresa Dias Coelho, Vasco da Conceição e Virgílio Domingues.