Saúde de mal a pior
O PCP voltou a denunciar o ataque brutal do Governo contra o SNS, advertindo que essa ofensiva tem repercussões terríveis sobre a vida das pessoas, que vêem de forma crescente ser posto em causa o seu direito à saúde.
Os utentes pagam cada vez mais para terem cuidados de saúde
Em recente debate temático sobre o SNS, suscitado pelo PSD, foi sobretudo na base dos exemplos concretos que a bancada comunista ilustrou essa dramática realidade.
«Este Governo é responsável pelas crescentes dificuldades dos utentes em aceder aos cuidados de saúde», sintetizou a deputada comunista Paula Santos, que deu variadíssimos exemplos que o atestam, desde o aumento das taxas moderadoras às limitações na atribuição de transporte de doentes não urgentes.
Dificuldades e restrições no acesso à prestação de cuidados de saúde de qualidade geradas também por via da enorme carência de profissionais de saúde em centros de saúde e hospitais, referiu a deputada do PCP, que responsabilizou o Governo pelo fecho de inúmeros serviços e valências nos cuidados de saúde primários e nos cuidados hospitalares, pela existência de um milhão e seiscentos mil portugueses sem médico de família, bem como pelos constrangimentos diários nos centros de saúde e hospitais (falta de materiais, clínico e outros, e medicamentos), que levam ao adiamento da prestação de cuidados de saúde. Tudo em resultado de uma política, acusou, subordinada a uma estratégia de «descredibilização e desmantelamento do SNS», para justificar a sua privatização, correspondendo às ambições dos grupos económicos e financeiros.
Ignorar problemas
Preterindo a abordagem às consequências concretas da política do seu Governo, o ministro Paulo Macedo preferiu teorizar sobre o «pacto para a saúde» (ideia introduzida no debate pelo deputado do PSD Nuno Reis), bem como sobre a «sustentabilidade» e a «reforma» do SNS.
Passou assim ao lado das situações concretas introduzidas no debate pelos deputados comunistas, desvalorizando-as, como é o encerramento de serviços de proximidade, caso da extensão de saúde de Caldelas, Braga, ou da extensão de saúde de Vaqueiros, relatados pela deputada Carla Cruz.
Contestando o argumento do Governo segundo o qual as PPP prestam um bom serviço público, coube-lhe ainda demonstrar quanto isso é falso, assinalando, a propósito, que na PPP do Hospital de Braga há um aumento dos tempos de espera para a 1.ª consulta em várias especialidades, espera que é de mais de 200 dias para cardiologia pediátrica, endocrinologia, imunoalergologia e reumatologia, ou de 300 dias se for uma consulta de pedopsiquiatria.
De situações muito concretas falou ainda a deputada comunista Diana Ferreira, citando, por exemplo, a diminuição de quatro para um do número de neurologistas no Centro Hospitalar de Aveiro, a não entrada em funcionamento do Centro de Saúde em S. Martinho do Campo (Valongo), apesar de construído há mais de um ano, deixando cinco mil pessoas sem médico de família, ou do Hospital S. Sebastião (Sta Maria da Feira) onde as urgências estão à beira da ruptura».
Esperar e desesperar no Algarve
O Algarve é bem o exemplo da acentuada degradação dos cuidados de saúde primários, fruto de uma política de progressivo desinvestimento. Sobre essa dramática realidade falou ainda muito recentemente o deputado comunista Paulo Sá no debate de um projecto de resolução da sua bancada (que a maioria viria a chumbar no dia 19 de Setembro), no qual se propunha medidas concretas para a resolução dos problemas existentes na região.
Falando da carência de recursos humanos nos cuidados de saúde primários, lembrou que faltam 99 médicos, 33 enfermeiros, 59 assistentes técnicos e 130 assistentes operacionais, num total de 342 profissionais de saúde.
Já quanto à carência observada nos cuidados de saúde hospitalares, acrescentou, faltam 183 médicos nos hospitais algarvios, 126 enfermeiros, 42 assistentes técnicos e 114 assistentes operacionais.
«Cento e cinquenta mil utentes da região algarvia não têm médico de família. No Barlavento metade dos utentes estão nesta situação. No concelho de Lagos, a percentagem de utentes sem médico de família atinge os 78%», denunciou Paulo Sá, muito crítico ainda quanto aos tempos de espera que, em termos médios, chega a ser de 826 dias em Neurocirurgia, no Hospital de Faro, enquanto no Hospital de Portimão, para a especialidade de Urologia, os utentes têm de esperar em média 612 dias.
Comum ainda, nos centros e extensões de saúde do Algarve, é a falta de material clínico, medicamentos, vacinas, «um pouco de tudo», no dizer de Paulo Sá, que, por outro lado, realçou o estado obsoleto da «infra-estrutura tecnológica do sistema informático», criando assim «sérios obstáculos» ao seu normal funcionamento.