Jerónimo de Sousa alerta para sucessão
de casos e problemas

Política de desastre e abdicação

Os processos relativos à PT e à colocação de professores no arranque do ano lectivo estiveram no centro do debate quinzenal de sexta-feira passada. Realidades indesejáveis que são sinónimo de «negócio ruinoso» e de «ofensa à comunidade educativa», considera o PCP.

Estão a vender tudo ao estrangeiro, tudo é comandado do estrangeiro

Para o Secretário-geral do PCP estes são apenas dois exemplos de «casos, problemas e suspeições» que têm vindo a avolumar-se, intrínsecos à política de aumento da exploração e empobrecimento dos portugueses e do País.

«Cada tiro, cada melro», sintetizou, referindo-se à abundância de factos, episódios e situações graves nas mais diversas áreas da governação. «É na saúde, na educação, na Justiça, nos apoios sociais, é a sucessão de escândalos nas finanças, são as dúvidas e suspeições que resultam do não esclarecimento em relação à Tecnoforma», exemplificou. Sobre este último, no que disse ser «um conselho avisado», recordou a Passos Coelho que «as dúvidas e a suspeição moem mais do que o apuramento da verdade», pelo que sugeriu ao chefe do Governo que faria bem em proceder a «esse esclarecimento cabal».

Quanto aos mais recentes desenvolvimentos da PT, Jerónimo de Sousa não escondeu a sua preocupação pelo evoluir da situação, lamentando que mais uma empresa estratégica nacional esteja em «risco de ser destruída com a sua venda aos franceses da Altice ou sabe-se lá a quem».

«Estão a vender tudo ao estrangeiro», afirmou, em tom indignado, sublinhando que «tudo é comandado do estrangeiro e dirigido à obtenção do lucro accionista, seja em que parte for do planeta».

Derrocada

E disso é exemplo a PT, que há um mês se fundiu com a brasileira OI, no que o líder comunista classificou de «negócio desastroso». Analisando-o, afirmou que «foi um negócio ainda muito pior do que se previa há um ano, com a parte portuguesa do “bolo” a ser profundamente desvalorizada na sequência da derrocada do Grupo Espírito Santo». Anotou que mais de 10% do capital da PT pertencia ao BES, que viria a ser herdado pela administração do Novo Banco, quita essa de capital que teve uma «palavra determinante para a decisão de avançar para a fusão na Assembleia Geral da PT – peça chave no avanço da fusão».

E é aqui que bate o ponto, pois, explicou, dada a presença do Estado no capital do Novo Banco, deveria ter havido uma decisão de forma a «assegurar os interesses portugueses e dos trabalhadores da PT», o que não ocorreu.

«Como é possível tudo isto?», foi a pergunta que Jerónimo de Sousa fez a Passos Coelho, a quem convidou a não persistir na responsabilização do PS no passado «que as tem», enfatizou –, mas com as quais o Governo PSD e CDS-PP procura camuflar as suas próprias responsabilidades no presente. É que «um erro não se resolve, agravando-o», frisou, convicto de que o Governo está sim é a «lavar as mãos como Pilatos».

«Então aqui não há interesse nacional? Ou o interesse nacional é só cortar nos salários, nas pensões, nas reformas, é só prejudicar os portugueses?», inquiriu, exigindo por isso um esclarecimento cabal.

Fingir distâncias

Embora recusando a ideia de que o seu Governo esteja a «lavar as mãos», a resposta de Passos Coelho é afinal o espelho disso mesmo quando afirma que a «operação de fusão que decorreu entre a PT e a OI não é uma matéria do Governo».

«O Governo não tem nenhuma intervenção nesse processo», disse, argumentando que «não se pode responsabilizar o Governo pelas decisões que as empresas privadas tomam».

«O Estado não é accionista do Novo Banco», explicitou, referindo que é o Fundo de Resolução. E revelou que o Governo «não foi consultado sobre essa operação, nem tinha que ser», tal como a pessoa que o Governo designou para o Fundo de Resolução também não o foi. Adiantou ainda que «qualquer decisão que o Novo Banco tenha tomado sobre a fusão da PT com a OI não é reportável ao Governo».
Dito isto, à falta de bons argumentos, enveredou pela caricatura às posições do PCP, atribuindo-lhe a vontade de «nacionalizar os bancos todos».

«Se está assim tão distante do problema da PT e do Novo Banco, por que é que injectou lá tanto dinheiro?», inquiriu Jerónimo de Sousa, na segunda ronda de perguntas ao primeiro-ministro. «Então esse dinheiro – que é dinheiro do Estado e dos contribuintes – não tem de ter um acompanhamento e uma responsabilização por parte do Governo?», insistiu, considerando que esta «ajuda» e este «neutralismo do Governo» acaba por explicar muito do que está a acontecer.

E depois de aconselhar Passos Coelho a não caricaturar as posições do PCP, anotou que em relação a este caso concreto da PT – tendo em conta o interesse nacional que lhe está subjacente e o interesse dos seus milhares de trabalhadores, hoje profundamente inquietos –, o primeiro-ministro «deveria ter outra resposta, que não teve».

Como aliás não teve em relação aos professores.

Ofensa à dignidade

Abordando a atribulada colocação de professores, Jerónimo de Sousa começou por evidenciar as inconsistências e contradições no discurso dos membros do Governo, com o secretário do Estado João Casanova a dizer uma coisa (admitiu o recurso aos tribunais), o ministro da Educação a dizer outra (a possibilidade de um tribunal arbitral), e o primeiro-ministro a dizer outra ainda ao excluir ambas.

«Entendam-se!», exclamou Jerónimo de Sousa, para quem o problema não se situa apenas no «erro», nem na «ofensa aos direitos da comunidade educativa». O que o Governo está a fazer é «ofender a dignidade dos professores, dos trabalhadores não docentes, das famílias, dos alunos», acusou.

Aligeirando a responsabilidade dos decisores políticos, Passos Coelho, na resposta, repetiu o que já dissera noutro momento do debate, ou seja que o Governo está a «reparar um erro administrativo», insistindo que a «opção que o ministro tomou, correctamente, foi resolver esse problema». E recusou, contra toda a evidência, que tenha havido «afirmações distintas» dos vários responsáveis, reiterando que o Governo «está a proceder bem nesta matéria».

«Se tiverem outras soluções, digam», instou ainda o primeiro-ministro. Repto a que prontamente respondeu Jerónimo de Sousa, sublinhando que a solução está em acabar com a precariedade e fazer contratos efectivos. «Faça isso e vai ver que resolve os problemas», asseverou, dirigindo-se a Passos Coelho.




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