Sem remendo possível
Um «sopro de vida» a um Governo em estado de coma e sem futuro. Eis, em síntese, como foi interpretado pelo PCP quer o remendo governamental quer a moção de confiança em debate esta terça-feira (ver pág. 32).
A avaliação sumária é de Jerónimo Sousa e baseia-se, em primeiro lugar, na consideração de que se mantém inalterada a «rejeição e a desconfiança da maioria do povo» face à política realizada por este Governo, às medidas que tomou e aos «resultados que apresentou». Uma segunda razão exposta pelo líder comunista em declaração na AR, dia 24, prende-se, de acordo com o que está indiciado, com o prosseguimento da mesma política – com o pacto de agressão, o chamado ajustamento orçamental e as medidas de corte previstas –, o que inevitavelmente levará a um resultado igual ao que existe hoje.
Sem deixar de advertir para a circunstância de este Governo ainda «poder fazer muito mal aos portugueses e ao País», Jerónimo de Sousa mostrou-se convicto de que tal como foi o «descontentamento, a indignação e a luta dos trabalhadores e do povo» a enfraquecer o Governo, será essa «mesma luta, indignação e protesto» que levará à sua «derrota definitiva».
Maquilhagem
Também o deputado comunista João Oliveira reagiu à remodelação governativa, classificando-a de mera operação de «recauchutagem». «Não resolve nem o problema político com que estamos confrontados nem os graves problemas económicos e sociais do País», considerou, numa primeira reacção da sua bancada ao reagrupar de pastas e jogo de cadeiras que coroou a farsa promovida dias antes pelo Presidente da República em nome de um alegado «compromisso de salvação nacional».
É a «tentativa de um novo fôlego para manter a mesma política», sem beliscar o «compromisso de fundo, nomeadamente o pacto da troika», denunciou o parlamentar do PCP. Daí que, em sua opinião, esta recauchutagem não resolva os problemas de credibilidade do Executivo, nem a sua falta de legitimidade, nem a de uma maioria absoluta na AR já sem «correspondência com a realidade e que veio perdendo a sua base social ao longo destes dois anos».
Por isso o PCP continua a dizer que a única forma de resolver os problemas do País, a «única moção de confiança» capaz de resolver os problemas políticos e a grave crise económica e social é a demissão do Governo, a dissolução da AR e a convocação de eleições antecipadas. Esse, como sublinhou João Oliveira, é o primeiro passo para romper com a política de direita, derrotar o pacto da troika e construir uma política alternativa, patriótica e de esquerda.