Eleições na Venezuela

Maré vermelha

Nicolás Maduro deverá vencer as presidenciais de domingo na Venezuela, perspetiva sustentada na entusiástica campanha de massas realizada. O candidato bolivariano adverte, no entanto, para os planos que pretendem distorcer a vontade popular e apela à vigilância.

Fazer pátria e construir o socialismo é o compromisso de Nicolás Maduro

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As mais recentes sondagens indicam que o candidato bolivariano vencerá as presidenciais com pelo menos dezena e meia de pontos percentuais de vantagem sobre Henrique Capriles. As últimas pesquisas mostram, igualmente, que ao contrário da oposição, a maioria dos venezuelanos (cerca de 70 por cento) confia na Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e na transparência do sufrágio. Número idêntico manifesta que no próximo domingo comparecerá nas urnas.

Mais que nas sondagens, o favoritismo de Nicolás Maduro e das forças que o suportam, unidas no Grande Pólo Patriótico, tem sido expresso nas multidões de centenas e centenas de milhares de pessoas que invariavelmente enchem os actos de campanha realizados em todo o país. Organizado e pacífico, o povo mostra consciência e determinação na defesa das conquistas alcançadas de há 14 anos a esta parte, no aprofundamento do processo de «fazer pátria e construir o socialismo», como, aliás, tem repetido Maduro.

Uma maré vermelha de apoio à revolução bolivariana e ao ex-maquinista do metropolitano – cuja origem orgulha quem o apoia, mas serve de arma de arremesso da direita, que repisa o argumento da sua «incapacidade» para o exercício da chefia do Estado –, encheu anteontem Caracas, numa marcha convocada para evidenciar com quem estão a classe operária, os trabalhadores e as suas organizações representativas. Hoje previa-se que voltasse a transbordar as avenidas da capital.

Iniciativas de massas agendadas para os dias em que a Venezuela bolivariana assinala 11 anos sobre o golpe de Estado de 2002 (9 a 13 de Abril), quando uma greve patronal e o sequestro de Hugo Chávez tentaram travar a senda transformadora, mas que acabou derrotado nas ruas pelo povo e pelos sectores progressistas das forças armadas. Foi a determinação e coragem da aliança cívico-militar nascente que permitiu devolver à liberdade o presidente eleito, e o país, resgatado temporariamente pela burguesia reaccionária vinculada ao imperialismo norte-americano, à vontade de escolher e concretizar um caminho soberano.

Vigilância

Intentonas como aquela, mesmo no quadro de uma consulta popular qualificada pela Unasur como exemplar, não são de excluir, adverte Nicolás Maduro, segundo o qual mercenários salvadorenhos estariam na Venezuela para o assassinarem (o presidente de El Salvador já ordenou a abertura de um inquérito), e grupos violentos (os chamados «mão branca», por exemplo) preparam sabotagens às assembleias de voto, às redes elétrica e de distribuição de água potável. Tudo isto «embrulhado» na operação de ataque à imparcialidade do CNE montada pela oposição (ver artigo ao lado nesta página), salpicada, como convém, de acusações sobre o controlo da informação pelo poder bolivariano. Estatísticas relativas ao período de campanha eleitoral confirmam que 70 por cento do espaço noticioso nos canais privados foi dedicado a Capriles. O candidato que reclama pela isenção informativa, por seu lado, rejeitou o convite da estação pública VTV para ali se apresentar aos eleitores.

Os planos de desestabilização gozam do apoio de altos representantes diplomáticos dos EUA, sublinhou, ainda, Maduro, que garante ter provas desse facto. Os apagões eléctricos dos últimos dias, a escassez de alguns géneros nas prateleiras das superfícies comerciais, a especulação monetária e em torno da dívida soberana do território, e a advertência de um suposto «colapso económico» da Venezuela feita pelos serviços secretos norte-americanos em meados de Março, parecem dar-lhe razão. Antevê-se uma estratégia semelhante à aplicada no Chile de Salvador Allende, quando Washington jurou fazer «gritar de dor» a economia do país.

Daí os apelos à serenidade, à mobilização e à vigilância popular e das forças armadas bolivarianas feitos pelo candidato odiado pela grande burguesia nacional e estrangeira - Nicolás Maduro, protagonista da revolução bolivariana e do Partido Socialista Unido da Venezuela, dirigente que desde logo e com audácia vinculou os objectivos da sua presidência aos valores democráticos e de esquerda, comparecendo, a 12 de Março, na Conferência do Partido Comunista da Venezuela, e ali aceitando e valorizando o apoio dos comunistas para a batalha de 14 de Abril.



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