As respostas dos comunistas do Sul da Europa à crise
Aprofundar a cooperação entre os comunistas espanhóis e portugueses
A iniciativa, a segunda conjunta entre os dois partidos – a primeira foi o comício de Amizade entre o PCP e o PCE ocorrido dia 15, em Almada – reuniu no centro cultural Conde Duque de Madrid camaradas das diferentes federações do PCE e contou com a entusiástica presença da juventude comunista.
Como lembrou na sua intervenção Jerónimo de Sousa – ver peça em separado – a realização destas iniciativas é «expressão da vontade comum de aprofundar a cooperação entre os comunistas espanhóis e portugueses e de reforçar a solidariedade internacionalista entre os trabalhadores dos nossos dois países».
Coube ao cantor Juan Pinilla dar as boas vindas aos convidados e participantes com umas palavras em português evocando os seus encontros com o escritor José Saramago. A propósito, recordou que Saramago fazia questão de se afirmar como um comunista escritor e não como um escritor comunista, e enfatizava o facto de não ter deixado de ser comunista para ser prémio Nobel.
Também o próprio Juan Pinilla se assume primeiro como comunista e só depois como cantor, mas foi seguramente na dupla qualidade que brindou os presentes com canções recolhidas nas suas visitas ao Alentejo, bem como outras de denúncia da situação económica, social e política que se vive nos dois países.
Daniel Morcillo, secretário do PCM, federação anfitriã da iniciativa, sublinhou as condições especiais que rodeiam o encontro dos dois partidos irmãos dos dois países mais castigados da Europa, as agressões da UE contra os dois povos e os perigos do fascismo com fachada democrática que ambos enfrentam.
Por seu turno, Maite Mola, na qualidade de Secretária de Política Internacional, fez notar que as soluções de social-democracia e da direita são idênticas e que não vale a pena depositar a esperança de saída da crise em nenhuma delas. Denunciou ainda as agressões do imperialismo contra os povos, destacando os casos da Líbia e da Síria, bem como a cada vez mais iminente agressão ao Irão.
No final da sessão pública, Jerónimo de Sousa, que estava acompanhado por Manuela Bernardino, do Secretariado do Comité Central e da Secção Internacional do PCP, recebeu das maõs de Joaquín Recio, da Editorial Atrapasueños, um conjunto de publicações e um quadro do pintor Vazquéz de Sola.
Jerónimo de Sousa
Solidariedade é mais necessária do que nunca
(c) Em Portugal, os trabalhadores e as classes e camadas populares, tal como em Espanha, estão hoje confrontados com uma ofensiva sem precedentes que está a degradar de forma brutal as suas condições de vida e de trabalho.
Lá, como aqui, em Espanha, o flagelo social do desemprego atinge níveis históricos.
Em Portugal, tal como aqui, a precariedade do trabalho bate, em cada dia que passa, novos recordes, fechando as portas do futuro às jovens gerações.
Lá, tal como aqui em Espanha, aprofunda-se o ataque às leis laborais com o objectivo de destruir todo o património de conquistas históricas, resultado da luta de gerações de trabalhadores.
Em Portugal, tal como aqui, pela mão dos partidos da política de direita e do rotativismo da alternância sem alternativa é a imposição da reconfiguração do Estado, cada vez mais moldado aos interesses do grande capital com a diabolização de tudo o que é público e é de todos, para o transformar em objecto de negócio e de lucro.
Em Portugal, como aqui em Espanha, milhares de milhões de euros são canalizados para a banca e o Estado endivida-se para salvar o sistema financeiro.
Lá, como cá, os defensores do melhor Estado e menos Estado nacionalizam prejuízos das actividades fraudulentas e predadoras e privatizam os lucros que alimentam os grandes grupos económicos e financeiros.
Lá, como aqui em Espanha, são os povos que estão a pagar a factura dos desmandos, da especulação e dos privilégios de uma oligarquia cada vez mais parasitária.
Em Portugal, como aqui, a solução das políticas do capitalismo dominante em cada um dos nossos países e da União Europeia é a imposição da violência social contra os trabalhadores e contra os povos para continuar a garantir a centralização e a acumulação da riqueza de uma minoria que não conhece dificuldades, nem as consequências da crise.
O papel dos comunistas
(c) A gravidade da ofensiva que está em curso reclama uma resposta enérgica e combativa de todos os que se sentem atingidos por esta política e um Partido Comunista mais forte para intervir e agir a todos os níveis da sociedade, mas fundamentalmente lá, onde se trava e se desenvolve a luta dos trabalhadores, da juventude e das massas populares.
Um Partido que tem consciência e sabe que a luta será mais ampla e mais forte quanto mais forte e mais amplo for o reforço organizativo do Partido. Que a ruptura com a política de direita e a afirmação da alternativa exige o reforço do próprio partido e o alargamento da sua base de apoio político e social.
É no quadro de uma exigente resposta à ofensiva que está em curso que estamos neste momento a preparar o XIX Congresso do PCP, que se realiza no final do presente ano.
Um congresso que coloca o reforço do PCP, da sua organização, da sua acção e iniciativa, da sua influência política e ideológica, como objectivo essencial, integrando-o com o desenvolvimento da acção de massas, com particular atenção ao reforço do movimento sindical, à intervenção junto da classe operária e dos trabalhadores nas empresas e locais de trabalho.
(c) Por isso consideramos de grande importância que ao desenvolvimento da luta em cada país se junte o aprofundamento da acção comum ou convergente, o reforço da cooperação e da solidariedade internacional de classe, contra a exploração, a opressão e a guerra imperialistas.
Cooperação e troca de experiências de luta entre os partidos comunistas que, em nosso entender, se deverão reger por princípios, como: a igualdade de direitos, o respeito pelas diferenças, o respeito pela sua autonomia e independência e a não ingerência nos assuntos internos, a solidariedade recíproca e a flexibilidade táctica visando construir a maior unidade possível.
Neste sentido, atribuímos particular importância ao processo dos Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários que, apesar de insuficiências, tem progredido e sido um espaço regular de troca de experiências e de procura de linhas orientadoras para a acção comum ou convergente, dando expressão ao muito que nos une para lá da diversidade de situações em que actuamos e de naturais diferenças e mesmo divergências de opinião.
(c) Tal como no comício realizado em Almada declarámos, (c) queremos assegurar-vos e por, vosso intermédio, aos trabalhadores de Espanha que podem contar com a amizade dos comunistas portugueses, com a certeza de que encontrão no PCP um aliado que se entrega com firmeza e com todas as suas forças na mobilização dos trabalhadores e do povo português para a luta contra este rumo de exploração e desastre.(...)
José Luis Centella
Faz falta mais partido
O Secretário-geral do PCE centrou a sua intervenção no ataque ao resgates dos interesses financeiros. Denunciou os 130 000 milhões de euros dados à banca para tapar os seus buracos e questionou quando iria haver um resgate para as famílias, ou para os 50 por cento de jovens desempregados, e para quando uma economia ao serviço das pessoas.
Explicando que a crise é o grande pretexto para a implantação da ditadura do capital, Centella rejeitou que a crise seja uma «catástrofe natural», sublinhando que ela tem a cara dos seus culpados e dos seus responsáveis. Por isso mesmo, considerou, se torna cada vez mais necessária a revolta das massas populares.
A crítica do responsável do PCE não poupou o PP e o PSOE, que na véspera haviam votado a favor do «pacto de estabilidade» consagrando o défice zero, o que significa, nas suas palavras, voltar as costas aos povos da Europa.
Mas há alternativa ao 'pensamento único', enfatizou, pelo que importa prosseguir a luta. Nesse sentido, referiu a Conferência Política do PCE que estava agendada para o dia 23, avançando algumas das propostas concretas que ali seriam debatidas: criação de uma comissão para investigar a banca; auditoria à dívida, dívida da banca com que o Estado espanhol não deve arcar; reforma fiscal para que pague mais quem mais tem e para conter a evasão fiscal; um plano de emprego público, pois o sector privado é incapaz de gerar emprego nesta altura; e garantir o direito à habitação, à educação e à saúde. Estes são direitos a defender, sublinhou, denunciando a perversão ideológica da direita ao procurar convertê-los em privilégios.
Manifestando-se a favor da planificação democrática da economia – pois quando a planificação não é democrática é orientada em função dos interesses de uma minoria –, Centella denunciou ainda o processo em curso de esvaziamento da Constituição espanhola, que o PP está a levar a cabo, exigindo, em contraposição, um processo constituinte, transparente e democrático.
Para todas estas tarefas, disse Centella, faz falta mais partido, no sentido de mais organização e não de mais votos. Faz falta ser parte das massas, ser uma referência na luta contra o capital, insistiu, clamando que é hora da revolta, da luta ideológica, é hora de construir o PCE.