Dar mais força à luta organizada
A VII Assembleia da Organização Regional da Guarda do PCP, realizada no domingo, definiu medidas para intensificar a acção e reforçar a organização do Partido.
Há que transformar o descontentamento em luta organizada
Com a participação de 140 militantes do Partido, que encheram o salão dos Bombeiros de Gouveia, a assembleia debruçou-se particularmente sobre a grave situação económica e social do País – com dramática expressão nas regiões do interior como o distrito da Guarda – e as medidas que o Partido terá que tomar para lhe fazer frente de uma forma mais decisiva.
Como afirmou, na intervenção de abertura, Patrícia Machado, do Comité Central e responsável pela organização regional, é fundamental que os comunistas sacudam a ideia da inevitabilidade e da resignação, valorizem e animem a resistência e a luta dos trabalhadores e das populações como «factor determinante para derrubar estas políticas e conquistar uma verdadeira alternativa». Em suma, acrescentou a dirigente, «contribuamos para transformar o descontentamento, a inquietação e indignação em luta, em acção concreta».
Salientando as muitas acções de protesto que os trabalhadores e as populações do distrito têm realizado, Patrícia Machado considerou «fundamental continuar a animar e a reforçar a luta», pois a ofensiva «assim o exige». Também neste distrito os comunistas têm pela frente um «importante trabalho de mobilização e esclarecimento dos trabalhadores para as lutas que estão já marcadas e para as que se seguirão», salientou a responsável, dando os exemplos da manifestação dos trabalhadores da Administração Pública de dia 12 e da greve geral de dia 24.
Resistir e avançar
Para que o Partido continue a cumprir o seu papel – e Patrícia Machado, certamente interpretando o sentimento geral da organização, confia que assim será – há que reforçar a sua ligação às massas, «decisiva para que através da estruturação, do aprofundamento e do conhecimento se possa reforçar a acção política e a luta de massas». Assim, adiantou, há que transformar cada organização partidária numa «comissão de luta» e cada militante deve ajudar a «esclarecer e a mobilizar outros para o entendimento da resposta necessária a esta ofensiva». A luta organizada é «construída e é determinante», concluiu Patrícia Machado.
Àqueles que «lutam e resistem no distrito» e, em geral, aos trabalhadores e aos democratas, a dirigente comunista apelou: «tomem Partido, juntem-se aos que ao longo de 90 anos resistem e lutam por um distrito e um País mais justos, pela defesa dos direitos de quem trabalha, pelo desenvolvimento e a justiça social.» Para os militantes a mensagem foi outra: de confiança para intensificar a acção do Partido, reforçar a sua ligação às massas, fortalecer a organização, aumentar o recrutamento, a responsabilização de quadros por tarefas e a capacidade financeira do Partido.
As medidas assumidas para cumprir estes objectivos estão inscritas na resolução política, aprovada por unanimidade, que norteará a acção do Partido nos próximos anos. Também a direcção que as porá em prática mereceu a aprovação unânime dos delegados à assembleia.
No encerramento, Carlos Gonçalves, da Comissão Política, reconhecendo grandes dificuldades e exigências, manifestou a sua confiança neste Partido que «resiste e avança, cumprindo o seu papel para com os trabalhadores o povo e o País, como fará na greve geral de 24 de Novembro».
Um distrito que definha
A grave situação do distrito da Guarda mereceu uma análise aprofundada por parte dos comunistas, que traçaram as medidas que consideram necessárias para lhe dar resposta. Assim, e para além das medidas que atingem as camadas populares independentemente do seu local de residência, Patrícia Machado salientou, na sua intervenção, que no distrito se intensifica a desertificação, os números da emigração e o abandono das aldeias e vilas.
No plano industrial e agrícola, o cenário é de destruição de sectores tradicionais, de que é exemplo maior o sector têxtil. No que respeita à agricultura, os comunistas da Guarda chamam a atenção para as «sérias dificuldades» sentidas nos sectores do leite, azeite, vinho, frutícolas e hortícolas – e para a situação de muitas cooperativas, lagares e adegas. Representativas das dificuldades dos sectores produtivos da região são também a metalomecânica, a indústria alimentar e a construção civil, bem como centenas de micro e pequenas empresas do comércio e restauração.
Em Setembro estavam registados mais de 7700 desempregados no distrito, dos quais mais de 2500 são jovens até aos 35 anos. Cinco mil são mulheres. Os dados do desemprego confirmam, na opinião dos comunistas, os ataques a sectores produtivos e aos serviços públicos: do total de desempregados registados, 17 por cento são da Administração Publica; 44 por oriundos da indústria e construção civil (com destaque para o sector têxtil, automóvel e construção); e 12 por cento do comércio, restauração e hotelaria.
Estes dados traduzem, na opinião do PCP, a desqualificação e encerramentos de diversos serviços públicos – no distrito da Guarda fecharam dezenas de escolas; Serviços de Atendimento Permanente e extensões de Saúde; postos de correios, entre outros.
A intenção do Governo de introduzir portagens na A23, A24 e A25, a não construção e requalificação do IC37, IC7 ou IC6 e ainda a redução e abandono de várias linhas ferroviárias e não construção de outras constituem igualmente um forte ataque às regiões do interior, nomeadamente ao distrito da Guarda.