Críticas duras de Jerónimo de Sousa às mexidas na legislação laboral

Sempre em desfavor do trabalho

O Go­verno tem em curso al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral que «vão em des­favor dos tra­ba­lha­dores», sa­tis­fa­zendo «um ob­jec­tivo claro das en­ti­dades pa­tro­nais», acusou Je­ró­nimo de Sousa no de­bate quin­zenal de sexta-feira pas­sada.

 

Go­verno des­pro­tege ainda mais os tra­ba­lha­dores

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Este foi um dos temas fortes a do­minar a sessão ple­nária in­tei­ra­mente pre­en­chida com per­guntas ao pri­meiro-mi­nistro e no de­curso da qual o Se­cre­tário-geral do PCP não poupou crí­ticas ao Go­verno por re­correr à mesma ar­gu­men­tação usada pelo PSD há seis meses no seu pro­jecto de re­visão cons­ti­tu­ci­onal a pro­pó­sito dos des­pe­di­mentos sem justa causa.

Ape­li­dando a pro­posta da ban­cada la­ranja de «trau­li­teira», o di­ri­gente co­mu­nista fez notar que de­pois de esta ter então me­re­cido a crí­tica de José Só­crates as­siste-se, hoje, por parte deste, à re­pe­tição dos mesmos ar­gu­mentos que antes ver­be­rara em ma­téria de pro­tecção nos des­pe­di­mentos.

«Pre­tende ou não o Go­verno des­re­gu­la­mentar, fle­xi­bi­lizar os des­pe­di­mentos, de­fende ou não o em­ba­ra­te­ci­mento dos des­pe­di­mentos para as en­ti­dades pa­tro­nais, vão ou não ser usadas verbas da Se­gu­rança So­cial para, de­sig­na­da­mente, co­locar tra­ba­lha­dores a custo zero nas em­presas?», ques­ti­onou Je­ró­nimo de Sousa.

In­sistiu ainda em saber por que é que o Go­verno, em par­ti­cular a mi­nistra do Tra­balho – tão pró­diga em falar do exemplo es­pa­nhol, ob­servou –, nunca faz a com­pa­ração com os sa­lá­rios de ou­tros países.

«Por que é o que o pior que vem de fora é para aplicar e aquilo que é me­lhor é sempre es­que­cido?», in­dagou.

 

Aliado do pa­tro­nato

 

Que é para «me­lhorar as con­di­ções para a con­tra­tação», res­pondeu o pri­meiro-mi­nistro. E não con­tente, ele­vando a des­fa­çatez, acres­centou que a «ri­gidez no sector la­boral em muitos do­mí­nios afecta aqueles que querem en­trar, para de­fender aqueles que lá estão».

«Uma ver­gonha», re­agiu, em aparte, o líder par­la­mentar co­mu­nista Ber­nar­dino So­ares. Nada que pa­reça ter in­co­mo­dado o chefe do Go­verno que, as­su­mindo-se como porta-voz do pa­tro­nato, es­cudou-se ainda no fa­la­cioso ar­gu­mento de que tem de ser «dada res­posta aos ac­tuais jo­vens que querem en­trar no mer­cado de tra­balho e têm esse pro­blema». E para me­lhor mis­ti­ficar a questão sus­tentou a tese de que os «sin­di­catos devem ter pre­sente que não têm apenas a obri­gação de de­fender» os seus as­so­ci­ados «mas de de­fender aqueles que têm le­gi­ti­ma­mente di­reito a ter acesso a um posto de tra­balho».

 

Questão se­cular

 

Já sobre a pro­posta de cri­ação de um «fundo» no âm­bito das al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral as­se­verou que o mesmo se des­tina a «ga­rantir que são pagas as in­dem­ni­za­ções» e que o mesmo «é pago pelas em­presas e não pelos tra­ba­lha­dores».

E ex­plicou que o Go­verno pre­tende se­parar aquilo que existe – di­reitos exis­tentes – da­quilo que são os novos con­tratos. So­correu-se ainda de uma lista para enu­merar o que se passa nou­tros países em ma­téria de cál­culo das in­dem­ni­za­ções para con­cluir que o Go­verno o que propõe «é o má­ximo que existe na União Eu­ro­peia».

Je­ró­nimo de Sousa, não es­con­dendo a sua in­dig­nação, re­plicou com pa­la­vras duras su­bli­nhando nunca ter pen­sado, de­pois de tantos anos na AR, «ouvir um res­pon­sável do PS fazer a afir­mação» que José Só­crates fez em re­lação aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores.

E de­pois de re­cordar que é uma «questão se­cular a ten­ta­tiva de al­terar no quadro da em­presa a cor­re­lação de forças a favor do pa­tro­nato», afirmou a sua con­vicção de que estas me­didas, a não serem tra­vadas, «vão de facto al­terar em des­favor dos tra­ba­lha­dores aquele que é um ob­jec­tivo claro das en­ti­dades pa­tro­nais».


Cortes no apoio ao trans­porte de do­entes

Con­sequên­cias ter­rí­veis

 

Alvo da crí­tica de Je­ró­nimo de Sousa no de­curso do de­bate foi também a me­dida do Go­verno que re­tira a de­zenas de mi­lhares de por­tu­gueses a pos­si­bi­li­dade de se des­lo­carem a uma con­sulta ou tra­ta­mento hos­pi­talar. Con­si­derou-a re­ve­la­dora da in­sen­si­bi­li­dade so­cial do Exe­cu­tivo e alertou para as «con­sequên­cias de­vas­ta­doras» que a mesma está a pro­vocar e que agora co­meçam a ser co­nhe­cidas.

O Se­cre­tário-geral do PCP chamou a atenção para o facto de o des­pacho go­ver­na­mental que impôs os re­qui­sitos para aceder ao trans­porte pago pelo Mi­nis­tério da Saúde afectar mi­lhares de do­entes, não fa­lando das suas con­sequên­cias para as as­so­ci­a­ções de bom­beiros.

Trata-se de por­tu­gueses, su­bli­nhou, «com ren­di­mentos muito baixos (mesmo con­si­de­rando que estão acima do sa­lário mí­nimo), cla­ra­mente in­su­fi­ci­entes para fazer face a des­pesas bá­sicas quanto mais pagar um táxi ou mesmo um trans­porte pú­blico em grandes des­lo­ca­ções, uma ou mais vezes por se­mana».

O di­ri­gente do PCP lem­brou ainda que muitas destas pes­soas têm «di­fi­cul­dades mo­toras, são am­pu­tados (como acon­tece a muitos do­entes di­a­bé­ticos), são idosos, muitos deles obri­gados a des­lo­ca­ções porque não têm mé­dico de fa­mília, uma es­pe­ci­a­li­dade ou um ser­viço de re­cu­pe­ração na re­gião onde re­sidem».

Daí que não tenha es­con­dido a sua per­ple­xi­dade por ouvir a mi­nistra da Saúde falar de «abusos». «Vol­tamos sempre ao mesmo», frisou o líder co­mu­nista, tra­zendo à me­mória a sua vi­vência de ope­rário na fá­brica: «quando um tra­ba­lhador to­mava uma me­dida in­cor­recta, logo o pa­trão a apro­vei­tava para aplicar me­didas [ne­ga­tivas] a todos».

«Assim pa­rece ser a mi­nistra da Saúde que, por haver este ou aquele abuso, apro­veita para cortar a todos», ob­servou, vendo nesta pos­tura «uma pressão de­su­mana que nada tem a ver com o Es­tado so­cial com o qual o Go­verno está sempre a en­cher a boca».

E por isso o de­safio lan­çado a José Só­crates para es­cla­recer se está ou não dis­posto a anular este des­pacho. Repto que ficou sem res­posta, como tantas vez su­cede nestes de­bates, por uma con­ve­ni­ente má gestão do tempo do pri­meiro-mi­nistro. Não houve es­paço para pa­la­vras suas mas houve nele lugar para um esgar de quase gozo pe­rante a de­núncia do di­ri­gente co­mu­nista, o que levou este, re­a­gindo com in­dig­nação, a di­rigir-se a Só­crates nestes termos: «Não faça essa cara se­nhor pri­meiro-mi­nistro, porque as pes­soas que so­frem com as suas me­didas olham para essa cara e nem ima­gina aquilo que lhe chamam».

 



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