Corticeiros em greve
Os lucros fabulosos do Grupo Amorim, que domina a associação patronal, desmentem os argumentos da «crise» e dão razão à exigência de melhores salários.
As empresas podem pagar mais 18 euros por mês
No dia 28 de Outubro, como não acontecia desde há 15 anos, teve lugar uma greve no sector da indústria corticeira, pela alteração das posições patronais na negociação do contrato colectivo. Uma luta semelhante tinha já ocorrido, ao nível das empresas do Grupo Amorim no concelho de Santa Maria da Feira, a 29 de Setembro.
Expressando a sua solidariedade para com a luta das trabalhadoras e dos trabalhadores «por aquilo a que têm justo direito: melhores salários e condições de vida», a Comissão Concelhia de Santa Maria da Feira do PCP realçou «adesões significativas em várias empresas» daquele grupo. «Foi eloquente a resposta e a unidade combativa dos trabalhadores corticeiros, que paralisaram a produção em várias unidades industriais, apesar do conjunto de ameaças e intimidações das respectivas administrações», afirma-se no comunicado que a Concelhia emitiu no dia da greve.
Durante a paralisação, teve lugar uma concentração frente à sede da associação patronal (APCOR), em Santa Maria de Lamas. Com esta jornada, ficou demonstrada a profunda indignação dos trabalhadores face aos míseros aumentos propostos pela APCOR, destaca o PCP, assinalando que «os lucros fabulosos que o Grupo Amorim, nela predominante, continua a arrecadar», são obtidos «precisamente à custa de baixos salários, da maior exploração e discriminações de toda a ordem».
No actual contexto, a luta dos corticeiros e o seu exemplo representam «um importante incentivo para as próximas acções, nomeadamente a greve geral de 24 de Novembro», refere ainda a Comissão Concelhia.
Alírio Martins, coordenador do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte e membro do Conselho Nacional da CGTP-IN, explicou à agência Lusa que «está-se a antever uma boa campanha da cortiça» e que «nenhuma empresa vai cair em decadência ou encerrar» por causa das reivindicações salariais. Dos 15 cêntimos iniciais, a APCOR evoluiu para uma actualização salarial de 22 cêntimos por dia - pouco mais de seis euros por mês, mas o sindicato e os trabalhadores exigem que chegue aos 60 cêntimos por dia (18 euros por mês).
Só nas empresas da cortiça - agrupadas na Corticeira Amorim, presidida por António Rios Amorim, que também chefia a APCOR - o primeiro semestre de 2010 fechou com lucros declarados de 64 mil euros por dia. Foi aquele mesmo patrão que, na véspera da greve, assinou e mandou distribuir nas empresas um comunicado a agitar o papão da «crise» e a apontar alguns direitos conquistados pela força da luta dos trabalhadores, como se tivessem sido uma dádiva de um benemérito - protestou o sindicato, que viu nesta reacção um sinal de «nervosismo».