Um marco excepcional na luta dos trabalhadores

Mais de 200 mil por novo rumo

O gigantesco protesto de 13 de Março trouxe à Avenida da Liberdade mais de 200 mil pessoas, vindas de todos os distritos, respondendo ao apelo da CGTP-IN: «Mudar de rumo, Mais emprego, salários e direitos».

Mudar de rumo é necessário e é possível

«Pelo empenho, generosidade e coragem» dos trabalhadores, «por corresponder a uma atitude solidária, a uma vontade e necessidade de mudar o rumo das políticas que vêm sendo executadas», e «como aviso às práticas patronais oportunistas e atentatórias do direito ao trabalho», esta manifestação «constitui um marco de excepcional importância nas lutas laborais e na acção geral da CGTP-IN, pelo desenvolvimento do País» - afirma a Comissão Executiva da central, numa saudação divulgada segunda-feira e dirigida a «todos os trabalhadores e trabalhadoras que, com grandes sacrifícios, nomeadamente financeiros, se manifestaram, e todos os que, não podendo participar, se identificam com os objectivos de mudar o rumo político, que tem de assentar na criação de mais emprego, de combate à precariedade, de melhores salários e respeito pelos direitos no trabalho».
É também saudado e enaltecido «o esforço abnegado dos activistas sindicais, que aumentaram em muito a presença e o esclarecimento nos locais de trabalho, realizando milhares de plenários, com uma elevada participação de trabalhadores», nas semanas que antecederam a manifestação nacional.

Muitos mil argumentos

Partindo do cimo da Rua Joaquim António Aguiar ou das Picoas, desfilaram durante três horas, até à Praça dos Restauradores, muitos milhares de trabalhadoras e trabalhadores no activo, aposentados e desempregados, da Administração Pública e de empresas privadas, da metalurgia, do comércio, das indústrias químicas e eléctricas, da hotelaria, da educação, da saúde, das autarquias locais, dos têxteis, da construção, da cortiça, do cimento, do vidro, da banca e seguros, dos transportes, das pescas, das conservas... Trouxeram as suas razões próprias e uma exigência comum: romper com a actual política, para dar solução aos problemas do País e dos portugueses.
As mensagens e os argumentos dos manifestantes foram expressas nas faixas e bandeiras que transportaram, nas palavras de ordem que gritaram, no discurso do secretário-geral da CGTP-IN, na resolução aclamada no final do comício sindical.
Se altifalantes, megafones e vozes soltas clamavam «assim não pode ser, os ricos mais ricos e os pobres a perder» ou «injustiças sociais, arre, porra, que é de mais», a palavra escrita e lida denunciava que «os trabalhadores e a esmagadora maioria da população portuguesa empobrecem, têm maiores dificuldades financeiras, piores condições de vida» e que «o Governo do PS refugia-se na actual crise financeira e na sua dimensão internacional e tenta desresponsabilizar as políticas de direita, desenvolvidas até agora pelos sucessivos governos».
Manuel Carvalho da Silva e a resolução, fazendo um balanço da governação de José Sócrates, concluíam que o emprego prometido traduziu-se em mais desemprego e precariedade, as famílias perderam poder de compra, estão mais endividadas, vulneráveis a situações duradouras de pobreza, em contraposição com o brutal enriquecimento pessoal de alguns, feito à custa da especulação financeira, da exploração dos trabalhadores, da corrupção e da fraude fiscal. Na manifestação, traduzindo justa revolta, muitas vezes se ouviu «Mentiroso!» ou «Mentirosos!» e «Sócrates, escuta, o povo está em luta».
Os manifestantes repetiam «É preciso, é urgente, uma política diferente». Do palco, nos Restauradores, ouvia-se que «ontem em nome do défice, hoje em nome da crise, a lógica do grande capital e da política de direita, seguida por sucessivos governos, é a mesma: pôr os trabalhadores a pagar e o grande patronato a lucrar» e que «a solução para os problemas do País e dos portugueses passa por romper com esta política».
Ferido e sem razão, Sócrates mostrou-se ofendido e atacou os que lutam de forma organizada e consequente. «Pode o sr. primeiro-ministro apresentar-se como vítima, mas isso não esconde a realidade da vida dos portugueses e do País, que os manifestantes, de forma exemplar, colocaram em evidência nas avenidas de Lisboa», respondeu segunda-feira a CGTP-IN.

A luta vai crescer

As reivindicações e propostas do movimento sindical unitário foram sintetizadas em dez pontos, salientando a resolução que «a intervenção e a luta dos trabalhadores serão determinantes para assegurar o direito à contratação colectiva e contra a caducidade; a defesa dos direitos consagrados nas convenções colectivas de trabalho, enquanto fonte de progresso social; a exigência de respostas efectivas nos planos laboral, social, económico e político».
Com a confiança em que «mudar de rumo é necessário e é possível», a manifestação de dia 13 apontou uma intensa agenda, propondo aos trabalhadores «agir no terreno para resolver os problemas».
No dia-a-dia, vai prosseguir e intensificar-se a acção e luta nos locais de trabalho dos sectores público e privado, pelo direito à contratação colectiva, a defesa dos direitos consagrados nas convenções colectivas de trabalho, pelo emprego com direitos, contra o desemprego e a precariedade, pelo aumento real dos salários.
Os jovens são exortados a agirem por« mais estabilidade, mais salários, mais emprego com direitos» e a participarem na manifestação de 28 de Março (Dia Nacional da Juventude), organizada pela Interjovem/CGTP-IN, em Lisboa,
De 2 a 8 de Abril, no âmbito do «dia internacional de luta», promovido pela Federação Sindical Mundial, vão realizar-se tribunas públicas no Porto, em Coimbra, Évora, Faro e Lisboa.
Ficou assumida uma participação activa nas comemorações dos 35 anos da revolução de Abril.
Uma grande jornada de luta deverá ter lugar no 1.º de Maio.


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