Tirar nos salários, dar ao capital

A crise e os milhões

EDP, Brisa e Portugal Telecom apresentam lucros milionários, distribuem fartos dividendos aos accionistas e premeiam generosamente os administradores, mas negam aumentos salariais justos aos trabalhadores e insistem na retirada de direitos.

Os trabalhadores recusam ficar sempre a perder

«Conhecidos os resultados da EDP em 2008, menos se justifica que a empresa queira cortar nos salários dos trabalhadores e aumentar os preços cobrados aos consumidores», protestou a Fiequimetal/CGTP-IN, dia 5. Para a federação, «os “sorrisos” que brilham no logótipo da EDP são, sem dúvida, dos grandes accionistas e dos administradores», já que, nas negociações salariais, a proposta da empresa «está abaixo da inflação verificada» e esta posição «tem sido justificada com base na “crise”».
O resultado líquido da EDP superou os 1212 milhões de euros (antes dos chamados interesses minoritários), batendo o valor máximo atingido em 2005. A REN, que negoceia em conjunto a revisão do acordo colectivo de trabalho, apresentou em 2008 lucros superiores a 127 milhões de euros. Em 2007, os lucros líquidos tinham sido de 1020 milhões, na EDP, e de 145 milhões, na REN.
No Plano Estratégico para 2009-2012, a EDP preconiza o aumento continuado dos dividendos para os accionistas, «por antecipação e apesar da crise financeira internacional», nota a estrutura sectorial da CGTP-IN.

Quem parte e reparte...

Reportando às contas oficiais de 2007, observa que o presidente do Conselho de Administração Executivo ganhou, por dia, mais do que aquilo que ganha, num mês, um dos trabalhadores que auferem a remuneração-base mais elevada; por outro lado, o que António Mexia recebeu, por dia (quase 3600 euros), representou mais do dobro da remuneração-base média mensal no Grupo EDP. A estas contas, acresce que «cada um dos seis vogais do CAE “apenas” auferiu 80 por cento do valor atribuído ao presidente» e, «a manter-se, na próxima assembleia de accionistas, a “política de compensação dos membros dos órgãos de administração”, o escândalo será ainda maior, porque aquela compensação variável terá o dobro do valor (soma dos prémios anuais e plurianuais) em 2008».
Desta forma, «para os administradores e os accionistas, a EDP mostra uma generosidade que contrasta, de forma escandalosa, com a redução do poder de compra dos trabalhadores».
Na Brisa, que está a propor aumentos salariais inferiores a 20 euros e com apenas mais 18 cêntimos para o subsídio de alimentação, o resultado líquido do ano findo foi de 151,8 milhões de euros, protestou dia 2 o CESP/CGTP-IN, em conferência de imprensa. Aquele valor representa menos 41,5 por cento que em 2007, mas «isso deveu-se ao aumento dos custos financeiros relacionados com o lançamento de novos negócios e ao crédito fiscal, decorrente de uma operação de financiamento, registado nas contas de 2007, no valor de 89,1 milhões de euros», ressalva o sindicato.
Acusando a administração de distribuir «milhões para uns, tostões para outros», o CESP recorda ainda, entre outros números, que: o volume de investimento, em 2008, foi de 286,9 milhões de euros; a soma dos resultados líquidos, de 2001 a 2007, foi de 2052 milhões de euros; de 2003 a 2007, os lucros das acções acumularam 1068 milhões de euros; a administração vai propor a distribuição de mais de 180 milhões de euros de dividendos.
Ao mesmo tempo, acusa o sindicato, intensifica-se a redução de postos de trabalho e aumenta a polivalência, foi negado o «cabaz de Natal» que vinha desde a fundação da empresa, são alterados sem regra nem consulta prévia os horários e as escalas, há pressões para transferência de pessoal para outros locais de trabalho, são descontadas aos trabalhadores verbas devidas a erros do sistema informático... E a administração já declarou que tenciona «alterar profundamente» o ACT, nas próximas negociações.
O CESP decidiu realizar plenários para decidir formas de organização e luta, acusando as estruturas da UGT de, ao aceitarem as propostas da empresa, manterem a «sequência lógica de quem comprometeu os direitos dos trabalhadores, conquistados ao longo de dezenas de anos, ao assinar o Código do Trabalho de Sócrates e Vieira da Silva».
Na PT Comunicações, no ano passado, apenas dois prémios (de gestão e da OPA) renderam a meia dúzia de administradores cerca de 9,5 milhões de euros, um valor que superou o aumento salarial de todos os trabalhadores do grupo em 2008. Entre 2002 e 2008, o dividendo bruto por acção aumentou três vezes e meia. Dos 581 milhões de euros, de resultado líquido em 2008, estão destinados 89 por cento (515,5 milhões) para os accionistas. Mas, para a actualização dos salários, a empresa propõe um por cento – e apenas para remunerações mensais inferiores a 900 euros, ficando as restantes congeladas.
As contas foram apresentadas pelo STT/CGTP-IN, que recusa que sejam os trabalhadores a pagar o resultado de políticas erradas e critica «todos aqueles que, incompreensivelmente, compreendem bem os condicionalismos colocados pela empresa». O sindicato apelou à participação na manifestação nacional de amanhã.

Lucros em 2008
(milhões de euros)

EDP – 1.212,3
PT – 581,5
Santander – 517,7
Galp Energia – 478,0
CGD – 459,0
BES – 402,3
BCP – 201,2
BPI – 150,3
Brisa – 151,8
Portucel – 131,1
Zon – 47,9


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