Cravos para Rogério

Aurélio Santos
Há vidas que sabem descobrir na beleza do mundo e das coisas o que pode dar maior dimensão ao ser humano, na sua imensa diversidade. Assim a de Rogério Ribeiro, que ontem acompanhámos pela última vez.
A palavra justa de despedida é decerto: obrigado, Rogério.
A tua vida teve o sentido grande de abrir horizontes. Entendeste, sentiste, realizaste. E ajudaste-nos a entender, sentir, realizar.
Na memória dos que o conhecemos ficará a sua personalidade, alargada e generosa.
Rogério percorreu a vida como rio de água inteligente, com a determinação de atingir o mar.
Assim o conhecemos no Jamor e no Alto da Ajuda, na epopeia que foram as primeiras Festas do Avante, onde à grandeza de perspectiva artística que ele lhes imprimiu se juntava o seu empenho esforçado na concretização do projecto, no grande esforço colectivo que as tornou possíveis e em que os afectos também se fizeram património. Foi bom conhecer-te aí, Rogério, como também na transformação do Pavilhão os Desportos numa grandiosa demonstração da imensa contribuição que a arte pode dar à transformação dos homens e do mundo.
Ficam connosco os cravos que, entre muitas outras flores, generosamente semeou, como artista e como homem.
Com ele a nossa dimensão de liberdade foi acrescida com alegria e beleza, ajudando-nos a compreender melhor a pessoa humana e os seus imensos potenciais.
Foi bom ter-te entre os que ousaram fazer de Abril uma nova etapa na vida de um povo.
Até sempre Rogério, camarada, companheiro, amigo.


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