Mentes perversas
É triste reconhecê-lo, mas está visto que a esmagadora maioria dos portugueses não merece o governo que tem. Pobres e mal agradecidos, os nossos concidadãos são incapazes de reconhecer a generosidade dos grandes gestos.
Vem isto a propósito das injustificadas críticas à trabalheira a que se deu o Executivo para garantir a segurança dos muitos milhares – mais de cem mil, uma enormidade – de professores que sábado se deslocaram a Lisboa vindos de todos os pontos do País. Não se sabe quem deu a ordem. Rui Pereira garante que não foi do MAI (e quem somos nós para duvidar?) que saiu tão zelosa decisão, mas lá que alguém a tomou, tomou, já que não foi uma, nem duas nem três o número de escolas que a semana passada recebeu a simpática visita de agentes da autoridade a solicitar a lista de professores marchantes.
O anonimato da paternidade desta iniciativa demonstra não apenas a modéstia da mente que a pariu como também que, ao contrário do que alguns procuraram fazer crer, não houve aqui outra coisa a não ser a legítima e carinhosa preocupação com a segurança dos manifestantes, cuja só não pôde revelar-se em todo o seu esplendor – tipo um lanche para a viagem, uns lenços brancos para acenar à ministra da Educação, umas bandeiras para colorir o Terreiro do Paço, um guia de Lisboa e uns folhetos turísticos, um chapéu para o sol – porque, como de costume logo as mentes perversas viram no desprendido gesto um resquício do passado fascista. Lamentável suspeita, de facto. Para que quereria a polícia tanto nome a não ser para prevenir eventuais acidentes – «Professor de Fornos de Algodres desapareceu em Lisboa, 40 anos, a família aflita agradece qualquer informação...» – quando lhe bastava saber quantos autocarros rumavam à capital e multiplicar o número pelos lugares disponíveis para ter uma ideia aproximada das pessoas a acolher? É um facto que não houve problemas, mas e se houvesse? De quem era a responsabilidade? A quem é que se pedia contas pelo cidadão perdido em parte incerta entre o Marquês e a estátua de D. José?
Em vez de agradecerem a diligência os portugueses zurziram no Governo. Ingratos. É por estas e por outras que é tão difícil governar.
Vem isto a propósito das injustificadas críticas à trabalheira a que se deu o Executivo para garantir a segurança dos muitos milhares – mais de cem mil, uma enormidade – de professores que sábado se deslocaram a Lisboa vindos de todos os pontos do País. Não se sabe quem deu a ordem. Rui Pereira garante que não foi do MAI (e quem somos nós para duvidar?) que saiu tão zelosa decisão, mas lá que alguém a tomou, tomou, já que não foi uma, nem duas nem três o número de escolas que a semana passada recebeu a simpática visita de agentes da autoridade a solicitar a lista de professores marchantes.
O anonimato da paternidade desta iniciativa demonstra não apenas a modéstia da mente que a pariu como também que, ao contrário do que alguns procuraram fazer crer, não houve aqui outra coisa a não ser a legítima e carinhosa preocupação com a segurança dos manifestantes, cuja só não pôde revelar-se em todo o seu esplendor – tipo um lanche para a viagem, uns lenços brancos para acenar à ministra da Educação, umas bandeiras para colorir o Terreiro do Paço, um guia de Lisboa e uns folhetos turísticos, um chapéu para o sol – porque, como de costume logo as mentes perversas viram no desprendido gesto um resquício do passado fascista. Lamentável suspeita, de facto. Para que quereria a polícia tanto nome a não ser para prevenir eventuais acidentes – «Professor de Fornos de Algodres desapareceu em Lisboa, 40 anos, a família aflita agradece qualquer informação...» – quando lhe bastava saber quantos autocarros rumavam à capital e multiplicar o número pelos lugares disponíveis para ter uma ideia aproximada das pessoas a acolher? É um facto que não houve problemas, mas e se houvesse? De quem era a responsabilidade? A quem é que se pedia contas pelo cidadão perdido em parte incerta entre o Marquês e a estátua de D. José?
Em vez de agradecerem a diligência os portugueses zurziram no Governo. Ingratos. É por estas e por outras que é tão difícil governar.