Cumprir o nosso papel

Vasco Cardoso (Membro da Comissão Política)
Numa fase em que se verificam grandes movimentações de massas que expressam um amplo descontentamento e uma singular combatividade e determinação na luta contra a política de direita, ao mesmo tempo que o Partido se afirma e reforça, cresce o ataque torpe e insidioso contra o PCP animam-se por diversas vias o mais primário anticomunismo.

Os tempos que vivemos comportam amplas possibilidades de reforço do Partido

Temos afirmado que há mais de trinta anos que os trabalhadores e as populações são atingidos pela mesma política de direita, sempre no mesmo rumo de sacrifícios, injustiças e declínio nacional, que tornam ainda mais difíceis as suas condições de vida. É também verdade que nunca nenhum governo foi tão longe quanto este na ofensiva contra direitos, não que governos anteriores tenham sido melhores ou menos determinados em servir o capital, mas porque cada golpe desferido contra as conquistas de Abril assenta numa sucessão de mutilações e desvirtuamentos anteriores.
Acresce ainda uma arrogante e autoritária maioria absoluta do PS na Assembleia da República que, respaldada na cumplicidade objectiva do Presidente da República em matérias essenciais, continua a ter o apoio dos principais centros de decisão do poder económico que apostaram e apostam neste PS como executor de um programa feito à medida dos seus insaciáveis interesses.
Face a esta realidade não há manobras ou mistificações que consigam iludir o fracasso e o descrédito deste Governo como se confirma pelo crescente descontentamento e o protesto de amplas camadas e sectores. Grandes acções de massas com centenas de milhares de trabalhadores promovidas pela CGTP-IN, levantamento das populações em dezenas de localidades contra a destruição de serviços públicos, sectores como os professores, particularmente feridos nos seus direitos e na sua dignidade, mobilizam-se em poderosas demonstrações de força e de unidade.
A luta de massas assume um papel decisivo no questionamento do Governo e na exigência de uma mudança de rumo. Inseparável do desenvolvimento da luta de massas tem sido, de facto, o papel do Partido, desde logo pela activa e reconhecida solidariedade prestada aos trabalhadores e às populações, mas também, porque são os comunistas, na base da sua estreita ligação à realidade e aos problemas concretos que nas organizações e movimentos de massas dão um contributo insubstituível no esclarecimento, na dinamização e na mobilização para a luta de todos os que sofrem com esta política.
Uma fase da vida nacional marcada por uma crescente afirmação do PCP, das suas propostas, do seu projecto e do seu ideal e que teve na Marcha Liberdade e Democracia, mesmo para aqueles que apenas raciocinam em função do ciclo vicioso e inquinado dos fazedores de opinião, uma inequívoca demonstração do papel e da força do PCP na sociedade.

Anticomunismo é sinal de fraqueza

Esta realidade veio animar linhas de ataque ao PCP do mais primário e desbragado anticomunismo. Não é que esse recurso ideológico alguma vez tenha sido abandonado, aliás, faz parte do cardápio que diariamente é servido num simples telejornal ou no mais insuspeito programa de entretenimento.
As palavras tantas vezes fingidas de sã convivência democrática, sobretudo quando se pratica uma política que nada tem a ver com a democracia, são rapidamente substituídas por violentas e insultuosas declarações como, aliás, aconteceu na véspera da grande jornada de luta dos professores pela voz de um dos principais responsáveis do Governo e do PS. Esse mesmo que, dois meses antes, na Assembleia da República, a propósito da discussão do Estatuto dos Jornalistas se tinha insurgido contra o facto de uma jornalista do Avante!, eleita pelos seus pares, ser dirigente do sindicato da classe.
No ataque ao Partido, aos trabalhadores e à sua luta, o Governo PS está longe de estar sozinho. O anticomunismo baseia-se na mentira e deturpação da verdade (como demonstram as insinuações feitas de que o PCP promove acções intimidatórias junto das iniciativas ou sedes de outros partidos), mas também se expressa no silenciamento do PCP, na deturpação do seu ideal, dos seus valores e propostas, no branqueamento e falsificação da história (agora com novas fases de promoção do fascismo e dos seus dirigentes), na perseguição e discriminação dos seus membros, na caricatura do seu funcionamento interno, no questionamento sobre a sua participação no regime democrático.
Mas o anticomunismo não é um sinal de força, mas sim de fraqueza, daqueles que na ausência de respostas aos problemas do povo, na incapacidade de sustentarem as suas políticas, procuram difundir o preconceito e afastar camadas e sectores atingidos por esta política da sua aproximação ao Partido e do seu ingresso na luta por melhores condições de vida e pela transformação da sociedade.
Sem subestimar os seus efeitos junto de sectores mais sensíveis a manipulações e vacilações, os tempos que vivemos comportam amplas possibilidades para a afirmação e reforço do Partido. Para muitos, está hoje mais claro que o PCP é a verdadeira oposição a este Governo nas palavras e na acção, que não há alternativa sem o PCP.
O melhor combate que se pode dar a estes novos desenvolvimentos da linha anticomunista é o Partido continuar a cumprir o seu papel profundamente enraizado e ligado aos trabalhadores e ao povo, com a perspectiva de que derrotar esta política é difícil mas não é impossível.


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