«Ilícitos»
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deu esta semana uma relevante prenda de Natal ao BCP: finalizadas as suas investigações preliminares à gestão do Grupo, concluiu haver «indícios seguros de ilícitos criminais» na actividade gestora deste banco. «Indícios seguros de ilícitos criminais» não é coisa pouca, ainda por cima vindo de uma instituição prudente na linguagem e rigorosa nas contas como é, necessariamente, a CMVM. Cai assim por terra o fraseado mimoso com que a generalidade da comunicação social tem vindo a branquear os sucessivos escândalos com a gestão do BCP, ora falando em «desacerto de contas», ora referindo «eventuais irregularidades» num quadro de «instabilidade» na direcção do banco.
«Ilícitos criminais» (ainda por cima sob «indícios seguros») estão para «eventuais irregularidades» como uma barragem para uma poça de água.
O que já se referiu na imprensa é demolidor: o supervisor bolsista terá identificado várias ilegalidades graves associadas a actos realizados pelos gestores do BCP envolvendo, entre outras coisas, financiamentos ilícitos para a compra de acções próprias nos aumentos de capital de 2000 e de 2001. Estima-se que estejam em causa movimentos de mais de 700 milhões de euros, que geraram prejuízos de pelo menos 200 milhões de euros, o que já leva a admitir que o supervisor «se veja obrigado a punir com mão pesada os gestores da instituição».
Não bastava que o presidente-fundador do banco, Jardim Gonçalves, houvesse desfalcado o BCP em mais de uma dezena de milhões de euros para cobrir os negócios desastrosos de um filho e que um outro gestor tivesse feito o mesmo em proveito próprio: agora toda a gestão do banco, desde pelo menos 2000, é apontada pela CMVM como responsável por prejuízos de pelo menos 200 milhões de euros utilizados em proveito próprio
Comprar acções próprias com dinheiro do banco (ou seja, dos accionistas) e com isso gerar prejuízos de 200 milhões de euros (40 milhões de contos) chamar-se-ia, em qualquer parte do País ou do mundo, um roubo, e dos grandes. A resposta a isso é conhecida: a Justiça cairia de imediato sobre os responsáveis e far-lhes-ia pagar o desmando com língua de palmo. O próprio Millenium BCP (à semelhança, aliás, de qualquer outro banco) não hesita em se apropriar de qualquer casa hipotecada, mal o devedor se atreva a não pagar a mensalidade (o fisco já pôs um prédio em hasta pública por uma dívida de 80 euros).
Mas, pelos vistos, estamos a falar de gente acima de qualquer suspeita, apesar de as suspeitas que sobre eles caem não serem umas quaisquer: 200 milhões de euros podem ser muita coisa, menos uma bagatela. Assim sendo, o que para já lhes acontece é... não poderem recandidatar-se à gestão do banco.
Quem também não sai nada bem no retrato é Vítor Constâncio e o Banco de Portugal (BdP) por si governado. Apesar de agora também surgirem a fazer coro com a CMVM na pressão sobre a actual administração do BCP para não se recandidatar, o certo é que ambos, Constâncio e BdP, mandaram arquivar em 2004 a investigação destas mesmas matérias por entenderem «não existirem irregularidades»
É mais um «mistério financeiro», isto de o Banco de Portugal não descobrir, há três anos, um desvio de 200 milhões de euros cometido três anos antes e descobertos agora pela CMVM em meia dúzia de semanas...
Aguardamos para ver a tal «mão pesada» do supervisor.
«Ilícitos criminais» (ainda por cima sob «indícios seguros») estão para «eventuais irregularidades» como uma barragem para uma poça de água.
O que já se referiu na imprensa é demolidor: o supervisor bolsista terá identificado várias ilegalidades graves associadas a actos realizados pelos gestores do BCP envolvendo, entre outras coisas, financiamentos ilícitos para a compra de acções próprias nos aumentos de capital de 2000 e de 2001. Estima-se que estejam em causa movimentos de mais de 700 milhões de euros, que geraram prejuízos de pelo menos 200 milhões de euros, o que já leva a admitir que o supervisor «se veja obrigado a punir com mão pesada os gestores da instituição».
Não bastava que o presidente-fundador do banco, Jardim Gonçalves, houvesse desfalcado o BCP em mais de uma dezena de milhões de euros para cobrir os negócios desastrosos de um filho e que um outro gestor tivesse feito o mesmo em proveito próprio: agora toda a gestão do banco, desde pelo menos 2000, é apontada pela CMVM como responsável por prejuízos de pelo menos 200 milhões de euros utilizados em proveito próprio
Comprar acções próprias com dinheiro do banco (ou seja, dos accionistas) e com isso gerar prejuízos de 200 milhões de euros (40 milhões de contos) chamar-se-ia, em qualquer parte do País ou do mundo, um roubo, e dos grandes. A resposta a isso é conhecida: a Justiça cairia de imediato sobre os responsáveis e far-lhes-ia pagar o desmando com língua de palmo. O próprio Millenium BCP (à semelhança, aliás, de qualquer outro banco) não hesita em se apropriar de qualquer casa hipotecada, mal o devedor se atreva a não pagar a mensalidade (o fisco já pôs um prédio em hasta pública por uma dívida de 80 euros).
Mas, pelos vistos, estamos a falar de gente acima de qualquer suspeita, apesar de as suspeitas que sobre eles caem não serem umas quaisquer: 200 milhões de euros podem ser muita coisa, menos uma bagatela. Assim sendo, o que para já lhes acontece é... não poderem recandidatar-se à gestão do banco.
Quem também não sai nada bem no retrato é Vítor Constâncio e o Banco de Portugal (BdP) por si governado. Apesar de agora também surgirem a fazer coro com a CMVM na pressão sobre a actual administração do BCP para não se recandidatar, o certo é que ambos, Constâncio e BdP, mandaram arquivar em 2004 a investigação destas mesmas matérias por entenderem «não existirem irregularidades»
É mais um «mistério financeiro», isto de o Banco de Portugal não descobrir, há três anos, um desvio de 200 milhões de euros cometido três anos antes e descobertos agora pela CMVM em meia dúzia de semanas...
Aguardamos para ver a tal «mão pesada» do supervisor.