Unidos contra o capitalismo
Dezenas de partidos comunistas afirmaram na Cidade Internacional da Festa do Avante! o socialismo como uma exigência da actualidade e do futuro. Durante três dias, a solidariedade provou não ter fronteiras e expressou-se através da troca de ideias, da música, da cultura, e da luta dos povos.
Marcante, ainda, a evocação dos 90 anos da Revolução de Outubro, acontecimento que perdura com vitalidade num mundo onde o imperialismo se confirma como «a véspera da revolução social do proletariado», como indicou Lénine analisando a vaga transformadora mundial impulsionada pela experiência bolchevique de 1917.
Se é verdade que a cada nova edição a Festa do Avante! se confirma como a maior iniciativa político-cultural que se realiza em Portugal, não é menos justo dizer que o evento comunista é, simultaneamente, o mais forte espaço de liberdade, fruição e intercâmbio entre os povos dos quatro cantos do mundo e respectivos partidos de classe e organizações progressistas que os representam e mobilizam.
Não é por isso estranho que muitos dos que ultrapassam pela primeira vez as margens da porta da Quinta da Princesa, bem no topo da nossa Festa, abram a boca de espanto para logo depois rasgarem um sorriso solto nos olhos que percorrem pavilhões, palcos e mensagens políticas avenida abaixo até à baía.
Afinal, acabam de entrar no espaço onde a fraternidade se concentra genuína, em quantidade e qualidade, a cada metro percorrido, a começar logo ali ao lado na Cidade Internacional.
As boas vindas são dadas por dois murais citando Máximo Gorki e Lénine, os quais, tal como outros tantos que alertam para o rumo federalista e militarista da União Europeia, para o fim da presença portuguesa no Afeganistão (o povo que subjuga outro forja as suas próprias cadeias - Karl Marx) ou para a necessária solidariedade com quem luta pela soberania e justiça social, como o povo venezuelano, foram pintados dias antes por laboriosas mãos militantes.
Lá dentro, o buliço é contínuo. Camaradas portugueses e doutras nacionalidades juntam-se nas bancas, restaurantes e bares. Desdobram-se em horas de trabalho voluntário, explicam, visitam e questionam: De onde és? Como vai a luta no teu país? E o partido? Por cá já contamos 86 anos de combate.
Quase sempre as conversas terminam com um brinde saudando o facto de ali se reencontrarem num gesto de solidariedade renovada e unidos pela vontade de construírem o socialismo na sua pátria, condição sem a qual nunca seremos livres e que hoje se coloca como necessidade contemporânea e projecto de futuro.
Cidade da partilha
Galgado o lanço de escadas que nos coloca em solo partilhado por culturas de luta, as músicas de ritmos e palavras diversas e as bandeiras coloridas são um mapa do planeta. O fundo vermelho com a foice, o martelo e a estrela em amarelo dominam a paisagem.
O calor aperta e a meia dúzia de metros vislumbramos um aglomerado de gente eufórica. Cantam, gritam palavras de ordem, erguem punhos, batem palmas e abraçam quem também o faz. Vamos a caminho.
No atalho, passamos de relance o artesanato andino. No Peru e na Bolívia madeiras, pedras e tecidos transformados pelas comunidades indígenas vinculam-nos à causa dos que legitimamente pretendem colocar os recursos da sua terra e os frutos que estes permitem colher ao dispor de quem produz.
No vizinho Chile, ao som de Victor Jara e sob os rostos entusiasmantes de Allende e Gladys Marín, acresce a tudo isto os tragos de pisco que homens, mulheres e jovens de todas as condições provam fazendo o aperitivo para as fartas refeições que se seguem. No final, advinha-se, comerão um doce de coco de Cabo Verde regado com vinho santo da Toscânia trazido pelo Partido dos Comunistas Italianos, e encerrarão o repasto com puro e aromático café no stand do PC Colombiano, camaradas que ao nosso lado estão e estarão por muitos engulhos que isso provoque aos inimigos da Festa que são, afinal, os mesmos que destilam ódio pela classe operária, os trabalhadores e pela sua capacidade de realização, reflexão e potencial transformador.
«A solidariedade não se bloqueia»
Chegamos a Cuba e à festa que ininterrupta se alarga até às paredes da banca da Associação de Amizade com aquele país. A contra gosto, os artistas que animam o espaço do restaurante cubano lá têm que dizer que agora tem mesmo que ser a última música, para logo seguirem tocando alegres apesar de já repartirem a atenção com outra banda que chama para o Palco Solidariedade, onde as tardes e as noites foram longas em acordes e batidas de blues, reggae, funk, música de intervenção e popular portuguesa, neste caso com destaque para os Pauliteiros de Miranda que para além dos saltos e danças compartiram com o público o nunca demais repetido facto de assim se ver a força do PC, o português, claro está.
Enquanto se espera por um mojito de Havana que breve rivalizará com o homólogo de El Salvador, bebido em homenagem ao camarada Shafick Handal, falecido dirigente da da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, prende-nos a atenção a heróica luta do povo cubano contra o bloqueio norte-americano, pela condenação de criminosos a soldo do capital, como o protegido de Washington, Posada Carrilles, e pela libertação de René, António, Fernando, Gerardo e Ramón, os cinco patriotas antiterroristas condenados e detidos ilegalmente pelos EUA. Também eles estiveram connosco na Festa porque com eles esteve toda a Festa, pese embora a atlântica distância e as celas muradas do Tio Sam.
«A luta continua, a vitória é certa»
De barriga mais que composta pelo chivito uruguaio e pela espetada sassate confeccionada na Fretilin – partido da heróica resistência maubere que ainda hoje enfrenta a ganância alheia e os lacaios dos interesses dominantes em Timor –, é tempo de seguir adiante e espreitar o que se passa pisando outros territórios.
A custo, entre a multidão que durante os três dias foi uma constante na Cidade Internacional, é possível ver que a juventude do MPLA e os camaradas do PC da Catalunha «disputam» saudavelmente na música e nos pratos o lugar cimeiro em mais uma noite de Festa. Em Angola, a confiança dá o mote: «a luta continua, a vitória é certa», escreveram numa das paredes contagiando os catalães que afirmam com igual dose de firmeza que «o povo unido jamais será vencido».
Ao lado, dezenas de camaradas percorrem o artesanato exposto no stand da Frelimo, partido do povo irmão de Moçambique para quem Samora Machel é uma «inspiração», brilhava nas t-shirts endossadas por jovens militantes.
Por entre o mar de corpos que nos separam, conseguimos ver a banca e o restaurante da Palestina. Ali não há mãos a medir e a tudo se atende com consciência e generosidade, valores que merecem a retribuição solidária de todos no apoio à causa daquele povo árabe contra a ocupação israelita e pela edificação de um Estado soberano.
Bolcheviques como sempre
O descanso que o corpo já pede indica a direcção da zona quase circular que envolve o Palco da Cidade Internacional, mas agora é quem já conhece alguns cantos à Festa quem fica boquiaberto com a quantidade de gente que pára junto à exposição que ali se encontra evocando os 90 anos da Revolução de Outubro.
Lénine é a imagem mais forte, mas na retina ficam também as fotos e os textos que sustentam que a experiência soviética foi, simultaneamente, factor decisivo para a libertação de milhares de seres humanos da opressão colonial e referência de progresso na luta de gerações inteiras nos países capitalistas pela democracia, os direitos sociais e melhores condições de vida.
O desaparecimento da URSS e do sistema socialista mundial significou um retrocesso de décadas na história da emancipação humana, por isso, o exemplo e ousadia de construção na Rússia de uma sociedade sem exploradores nem explorados adquire, nos tempos que correm, significado reforçado na luta dos trabalhadores e dos povos pela paz, a democracia, o progresso e o socialismo, objectivos que o PCP nunca deixará de perseguir, unindo comunistas e vontades de várias paragens, bolcheviques como sempre.
Marcante, ainda, a evocação dos 90 anos da Revolução de Outubro, acontecimento que perdura com vitalidade num mundo onde o imperialismo se confirma como «a véspera da revolução social do proletariado», como indicou Lénine analisando a vaga transformadora mundial impulsionada pela experiência bolchevique de 1917.
Se é verdade que a cada nova edição a Festa do Avante! se confirma como a maior iniciativa político-cultural que se realiza em Portugal, não é menos justo dizer que o evento comunista é, simultaneamente, o mais forte espaço de liberdade, fruição e intercâmbio entre os povos dos quatro cantos do mundo e respectivos partidos de classe e organizações progressistas que os representam e mobilizam.
Não é por isso estranho que muitos dos que ultrapassam pela primeira vez as margens da porta da Quinta da Princesa, bem no topo da nossa Festa, abram a boca de espanto para logo depois rasgarem um sorriso solto nos olhos que percorrem pavilhões, palcos e mensagens políticas avenida abaixo até à baía.
Afinal, acabam de entrar no espaço onde a fraternidade se concentra genuína, em quantidade e qualidade, a cada metro percorrido, a começar logo ali ao lado na Cidade Internacional.
As boas vindas são dadas por dois murais citando Máximo Gorki e Lénine, os quais, tal como outros tantos que alertam para o rumo federalista e militarista da União Europeia, para o fim da presença portuguesa no Afeganistão (o povo que subjuga outro forja as suas próprias cadeias - Karl Marx) ou para a necessária solidariedade com quem luta pela soberania e justiça social, como o povo venezuelano, foram pintados dias antes por laboriosas mãos militantes.
Lá dentro, o buliço é contínuo. Camaradas portugueses e doutras nacionalidades juntam-se nas bancas, restaurantes e bares. Desdobram-se em horas de trabalho voluntário, explicam, visitam e questionam: De onde és? Como vai a luta no teu país? E o partido? Por cá já contamos 86 anos de combate.
Quase sempre as conversas terminam com um brinde saudando o facto de ali se reencontrarem num gesto de solidariedade renovada e unidos pela vontade de construírem o socialismo na sua pátria, condição sem a qual nunca seremos livres e que hoje se coloca como necessidade contemporânea e projecto de futuro.
Cidade da partilha
Galgado o lanço de escadas que nos coloca em solo partilhado por culturas de luta, as músicas de ritmos e palavras diversas e as bandeiras coloridas são um mapa do planeta. O fundo vermelho com a foice, o martelo e a estrela em amarelo dominam a paisagem.
O calor aperta e a meia dúzia de metros vislumbramos um aglomerado de gente eufórica. Cantam, gritam palavras de ordem, erguem punhos, batem palmas e abraçam quem também o faz. Vamos a caminho.
No atalho, passamos de relance o artesanato andino. No Peru e na Bolívia madeiras, pedras e tecidos transformados pelas comunidades indígenas vinculam-nos à causa dos que legitimamente pretendem colocar os recursos da sua terra e os frutos que estes permitem colher ao dispor de quem produz.
No vizinho Chile, ao som de Victor Jara e sob os rostos entusiasmantes de Allende e Gladys Marín, acresce a tudo isto os tragos de pisco que homens, mulheres e jovens de todas as condições provam fazendo o aperitivo para as fartas refeições que se seguem. No final, advinha-se, comerão um doce de coco de Cabo Verde regado com vinho santo da Toscânia trazido pelo Partido dos Comunistas Italianos, e encerrarão o repasto com puro e aromático café no stand do PC Colombiano, camaradas que ao nosso lado estão e estarão por muitos engulhos que isso provoque aos inimigos da Festa que são, afinal, os mesmos que destilam ódio pela classe operária, os trabalhadores e pela sua capacidade de realização, reflexão e potencial transformador.
«A solidariedade não se bloqueia»
Chegamos a Cuba e à festa que ininterrupta se alarga até às paredes da banca da Associação de Amizade com aquele país. A contra gosto, os artistas que animam o espaço do restaurante cubano lá têm que dizer que agora tem mesmo que ser a última música, para logo seguirem tocando alegres apesar de já repartirem a atenção com outra banda que chama para o Palco Solidariedade, onde as tardes e as noites foram longas em acordes e batidas de blues, reggae, funk, música de intervenção e popular portuguesa, neste caso com destaque para os Pauliteiros de Miranda que para além dos saltos e danças compartiram com o público o nunca demais repetido facto de assim se ver a força do PC, o português, claro está.
Enquanto se espera por um mojito de Havana que breve rivalizará com o homólogo de El Salvador, bebido em homenagem ao camarada Shafick Handal, falecido dirigente da da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, prende-nos a atenção a heróica luta do povo cubano contra o bloqueio norte-americano, pela condenação de criminosos a soldo do capital, como o protegido de Washington, Posada Carrilles, e pela libertação de René, António, Fernando, Gerardo e Ramón, os cinco patriotas antiterroristas condenados e detidos ilegalmente pelos EUA. Também eles estiveram connosco na Festa porque com eles esteve toda a Festa, pese embora a atlântica distância e as celas muradas do Tio Sam.
«A luta continua, a vitória é certa»
De barriga mais que composta pelo chivito uruguaio e pela espetada sassate confeccionada na Fretilin – partido da heróica resistência maubere que ainda hoje enfrenta a ganância alheia e os lacaios dos interesses dominantes em Timor –, é tempo de seguir adiante e espreitar o que se passa pisando outros territórios.
A custo, entre a multidão que durante os três dias foi uma constante na Cidade Internacional, é possível ver que a juventude do MPLA e os camaradas do PC da Catalunha «disputam» saudavelmente na música e nos pratos o lugar cimeiro em mais uma noite de Festa. Em Angola, a confiança dá o mote: «a luta continua, a vitória é certa», escreveram numa das paredes contagiando os catalães que afirmam com igual dose de firmeza que «o povo unido jamais será vencido».
Ao lado, dezenas de camaradas percorrem o artesanato exposto no stand da Frelimo, partido do povo irmão de Moçambique para quem Samora Machel é uma «inspiração», brilhava nas t-shirts endossadas por jovens militantes.
Por entre o mar de corpos que nos separam, conseguimos ver a banca e o restaurante da Palestina. Ali não há mãos a medir e a tudo se atende com consciência e generosidade, valores que merecem a retribuição solidária de todos no apoio à causa daquele povo árabe contra a ocupação israelita e pela edificação de um Estado soberano.
Bolcheviques como sempre
O descanso que o corpo já pede indica a direcção da zona quase circular que envolve o Palco da Cidade Internacional, mas agora é quem já conhece alguns cantos à Festa quem fica boquiaberto com a quantidade de gente que pára junto à exposição que ali se encontra evocando os 90 anos da Revolução de Outubro.
Lénine é a imagem mais forte, mas na retina ficam também as fotos e os textos que sustentam que a experiência soviética foi, simultaneamente, factor decisivo para a libertação de milhares de seres humanos da opressão colonial e referência de progresso na luta de gerações inteiras nos países capitalistas pela democracia, os direitos sociais e melhores condições de vida.
O desaparecimento da URSS e do sistema socialista mundial significou um retrocesso de décadas na história da emancipação humana, por isso, o exemplo e ousadia de construção na Rússia de uma sociedade sem exploradores nem explorados adquire, nos tempos que correm, significado reforçado na luta dos trabalhadores e dos povos pela paz, a democracia, o progresso e o socialismo, objectivos que o PCP nunca deixará de perseguir, unindo comunistas e vontades de várias paragens, bolcheviques como sempre.