Litoral Alentejano

A saúde, a falta dela e polícia de choque

Por iniciativa do Partido uma delegação do mesmo teve contactos, no passado dia 12, com os responsáveis do Centro de Saúde de Sines, do SADU de Santiago do Cacém, do Centro de Saúde de Grândola, do Hospital do Litoral Alentejano e com as Comissões de Utentes.

Para o Governo a Saúde é um negócio e as pessoas uma mercadoria

A delegação, chefiada por Jorge Pires, da Comissão Política do CC, era composta por vários dirigentes regionais do Partido e por Manuel Valente, do CC e responsável pela organização regional. Em Grândola, a esta delegação juntaram-se Mariano Paixão e Maria João, membros da comissão de utentes local.
Esta iniciativa traduz o apoio consequente do Partido às várias iniciativas das comissões de utentes locais na defesa das estruturas de saúde existentes e que o governo do PS se prontifica, célere, a encerrar, com prejuízos evidentes e indiscutíveis para o povo e mesmo, numa perspectiva economicista, com grandes prejuízos para o erário público.
A cumplicidade, pelo silêncio, por parte do Poder Local do PS em Grândola, neste atentado às condições de vida elementares da população, já tinha sido denunciado pela comissão de utentes da Vila Morena. De facto, em comunicado de 15 de Novembro a citada comissão dizia: «Todos aqueles que não mostraram publicamente o seu repúdio contra esta decisão (do encerramento do Centro de Saúde), estão coniventes com ela. Referimo-nos às forças políticas locais, excepto uma.» – O PCP, pois claro, acrescento eu.
Também o Partido, através da Comissão Concelhia de Grândola, em comunicado de 29 de Novembro afirmou: «Em reunião de Câmara, os eleitos do PCP e da CDU voltaram a questionar a maioria socialista, que se manteve na mais profunda ignorância e silêncio sobre tão perigosas intenções do Governo (do encerramento do Centro de Saúde)… e só dois meses depois da apresentação das propostas do Governo e das insistências dos nossos eleitos, são apresentadas pela maioria socialista, as suas críticas ao encerramento dos serviços de urgência propostos pelo Governo PS.»
Reivindicações de teor semelhante foram anunciadas pelas Comissões de Utentes de Saúde de St.º André, do Cercal do Alentejo, de Ermidas, de Alvalade e de Santiago do Cacém. Estas reivindicações, na defesa do Serviço de Atendimento a Doentes Urgentes (SADU) em Santiago do Cacém, na forma de petição, colheram 6484 assinaturas.
Foi este o quadro no qual se realizou a visita da delegação do Partido ao Litoral Alentejano.

O balanço da visita e metade da população sem médico de família

Em conferência de imprensa, a DORLA afirmou: «Como balanço desta visita e dos encontros realizados, o que podemos adiantar é que se avolumam as preocupações já por nós manifestadas em devido tempo, quanto à perspectiva do Governo de encerrar os serviços de urgência no Centro de Saúde de Sines e do SADU de Santiago do Cacém e do encerramento dos serviços de urgência e internamento no Centro de Saúde de Grândola» e mais a seguir, na mesma conferência de imprensa: «Com esta política o Governo tem como objectivo central a destruição do Serviço Nacional de Saúde e a privatização do sector… estamos a falar do concelho de Santiago do Cacém» por exemplo «onde 48,3 por cento dos utentes não têm médico de família».
Na noite do mesmo dia levou-se a cabo um debate sobre as questões de saúde na biblioteca municipal de Sines. O debate, dirigido pelo camarada Manuel Mexa, do Secretariado e do Executivo da DORLA e membro da Direcção Regional do Alentejo, teve na mesa os camaradas Manuel Coelho, presidente da Câmara Municipal de Sines e, ele próprio médico, e o camarada Jorge Pires.
«Nunca tínhamos tido uma ofensiva tão agressiva e tão profunda como aquela que estamos a viver neste momento… e até podemos dizer que aquilo que se prepara para o próximo ano, por aquilo que vamos conhecendo, e não conhecemos tudo – afirmou Jorge Pires – o Governo, porque não há eleições, pode tomar medidas ainda mais gravosas.»

Grande preocupação

Sobre muitas das coisas de que se falam relativas a medidas nocivas à saúde do povo, que estariam na forja pelo Governo, é convicção de Jorge Pires que elas terão o seu desfecho em 2007.
«A nossa preocupação é a privatização dos cuidados primários, que são a base do Sistema Nacional de Saúde e ainda hoje, nos encontros que realizámos com vários responsáveis, tivemos oportunidade de referir este aspecto; as pessoas vão, na sua grande parte, aos centros de atendimento permanente porque não têm médico de família, e só lá vão, uns, porque é o único recurso que têm e outros porque os patrões não os deixam sair durante o horário de trabalho e, se o fizerem, são despedidos».
«Fechar os serviços de atendimento permanente é cortar as possibilidades a centenas de milhares de portugueses de terem acesso, a tempo e horas, a um médico», denunciou Jorge Pires.
Sobre as chamadas «parcerias público privadas», o dirigente do Partido acusou: «para eles a saúde é um mercado e as pessoas uma mercadoria.»

Outra visita, mais uma vergonha

Durante o debate, foi anunciado que o ministro da saúde visitaria o Hospital do Litoral Alentejano na sexta-feira seguinte. Apesar do pouco tempo que sobrou entre o debate e a anunciada visita do serventuário da grande finança para a saúde (não encontro forma mais adequada e precisa para definir o actual ministro da Saúde), as comissões de utentes produziram faixas e pendões que, colocados junto ao hospital, reproduziam as reivindicações populares; além disso também pretendiam entregar ao governante uma petição com mais de 6000 assinaturas a qual deveria ser entregue por José Ferro, seu primeiro signatário e membro da comissões de utentes, e pelo camarada Diniz Silva, membro da DORLA.
Apesar de ser um dia de trabalho e com temperaturas agrestes, trinta companheiros, quase todos já entrados na idade, membros das várias comissões de utentes locais estiveram presentes, bem assim como quadros e dirigentes regionais do Partido.
E ali estão três dezenas de pessoas, e com eles o nosso Avante!, eis senão quando, antes da chegada do ministro, surgem… 20 polícias de choque.

Um comentário

A ética jornalística não quer dizer ausência de julgamento pessoal sobre factos ocorridos por parte do jornalista, antes quer dizer, observação e transcrição rigorosa dos factos e que o leitor perceba, clara e inequivocamente, onde estes terminam e começa a opinião que o jornalista tem dos mesmos.
Uma vez que transcrevi os factos, segue o meu comentário, o que não é hábito, dando eu aqui voz à minha indignação: A polícia de choque em proporção quase de 1 para 1 em relação aos manifestantes, numa proporção patética e ridícula (provavelmente por isso não se viram imagens nos vários canais televisivos), define, por si só, a concepção de democracia que têm quem hoje está no poleiro; a cobardia de um ministro face a um pequeno grupo de cidadãos, escudando-se atrás da polícia de choque, define o homem, a sua falta de carácter, o seu espírito antidemocrático que, à semelhança dos políticos salazaristas, foge do povo como o diabo da cruz.


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