Política a sério
Se dúvidas existissem sobre a importância e o extraordinário impacto que o Protesto Geral teve na sociedade portuguesa, bastaria um olhar atento, no muito que se disse e escreveu sobre o mesmo - sobretudo por alguns a quem o Capital destina a tarefa de «ensinar» os portugueses a pensar - e provavelmente, o mais fiel indicador, encontra-lo-íamos naqueles, a quem não faltaram argumentos para distorcer, menorizar e apagar o significado dessa gigantesca, combativa e confiante acção de luta.
O novíssimo semanário SOL destilou no Editorial – Política a sério, pelo punho do seu director, José António Saraiva – as velhíssimas teses que dão por «antidemocráticas» as manifestações e , veja-se o pormenor, «em particular as que forem organizadas por centrais sindicais ou por partidos». Para JAS, cujo perfume da sua reaccionária visão do mundo o acompanhou do Expresso para o SOL, as manifestações são antidemocráticas porque «visam, através da pressão da rua, condicionar um Governo legítimo» e remata que, «o que legitima o governo são os votos».
Ficamos pois a saber que, na opinião desta ilustre criatura, todas as pressões são democráticas a começar pelas que o próprio faz - ao clamar que «ai do governo que caia no logro de ceder às pressões dos manifestantes» - passando pela pressão do patronato, pelas estruturas internacionais do grande capital, da comunicação social dominante ou de outros órgãos de soberania. Todas essas pressões estão impregnadas de democracia até aos ossos, todas menos a luta dos trabalhadores e do povo – essa ficamos a saber é antidemocrática.
Na prática, os portugueses, perante a quebra de compromissos eleitorais, as mentiras e a demagogia do governo, perante o desemprego, o aumento do custo de vida, os encerramentos de empresas e serviços públicos, os cortes nos salários, nas reformas e pensões, deveriam ficar caladinhos, e em casa. E, ao fim de quatro anos, numa manhã Domingueira depois da missa, ir depositar o seu voto nos mesmos de sempre. Nesta visão de democracia, não haveria greves, concentrações e manifestações. O povo consentiria tudo, obedeceria a tudo e, admita-se, até com gosto. Reclamar? denunciar? protestar? exigir? para quê? Se sempre podemos votar. Portugal deixaria de ter aquela coisa chata que é as pessoas pensarem, reflectirem e agirem, deixaria de ter organizações de classe dos trabalhadores e quanto a partidos, só os que aceitassem esta coisa do «democrático». Seria enfim, um país que já foi e que, decididamente, não quer voltar a ser.
José Sócrates, mentindo mais uma vez, declarou - não tenho medo de manifestações - mas tem e JAS também. Esse medo resulta tão só do facto de saber que os trabalhadores e o povo estão, não só cobertos de razão, como dispostos a lutar. Cem mil mostraram-no no dia 12 de Outubro, muitos mais o demonstrarão no futuro.
O novíssimo semanário SOL destilou no Editorial – Política a sério, pelo punho do seu director, José António Saraiva – as velhíssimas teses que dão por «antidemocráticas» as manifestações e , veja-se o pormenor, «em particular as que forem organizadas por centrais sindicais ou por partidos». Para JAS, cujo perfume da sua reaccionária visão do mundo o acompanhou do Expresso para o SOL, as manifestações são antidemocráticas porque «visam, através da pressão da rua, condicionar um Governo legítimo» e remata que, «o que legitima o governo são os votos».
Ficamos pois a saber que, na opinião desta ilustre criatura, todas as pressões são democráticas a começar pelas que o próprio faz - ao clamar que «ai do governo que caia no logro de ceder às pressões dos manifestantes» - passando pela pressão do patronato, pelas estruturas internacionais do grande capital, da comunicação social dominante ou de outros órgãos de soberania. Todas essas pressões estão impregnadas de democracia até aos ossos, todas menos a luta dos trabalhadores e do povo – essa ficamos a saber é antidemocrática.
Na prática, os portugueses, perante a quebra de compromissos eleitorais, as mentiras e a demagogia do governo, perante o desemprego, o aumento do custo de vida, os encerramentos de empresas e serviços públicos, os cortes nos salários, nas reformas e pensões, deveriam ficar caladinhos, e em casa. E, ao fim de quatro anos, numa manhã Domingueira depois da missa, ir depositar o seu voto nos mesmos de sempre. Nesta visão de democracia, não haveria greves, concentrações e manifestações. O povo consentiria tudo, obedeceria a tudo e, admita-se, até com gosto. Reclamar? denunciar? protestar? exigir? para quê? Se sempre podemos votar. Portugal deixaria de ter aquela coisa chata que é as pessoas pensarem, reflectirem e agirem, deixaria de ter organizações de classe dos trabalhadores e quanto a partidos, só os que aceitassem esta coisa do «democrático». Seria enfim, um país que já foi e que, decididamente, não quer voltar a ser.
José Sócrates, mentindo mais uma vez, declarou - não tenho medo de manifestações - mas tem e JAS também. Esse medo resulta tão só do facto de saber que os trabalhadores e o povo estão, não só cobertos de razão, como dispostos a lutar. Cem mil mostraram-no no dia 12 de Outubro, muitos mais o demonstrarão no futuro.